Independente, até certo ponto
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O garoto não tinha mais do que quatro anos de idade. Era inquieto e esperto, sempre fazendo muitas traquinagens pela casa. Hoje, seria considerado hiperativo e independente, mas até certo ponto. Quando andava com a irmã quatro anos mais velha, na sua bicicleta com ele na garupa, ele a balançava de propósito para caírem. Então, levantava, montava rapidamente e saia andando sozinho, deixando a irmã sentada no chão chorando. Depois, sorria alegre e marotamente.
Uma vez, pegou um pneu velho e o colocou em cima do capô do fusca do seu pai, que não acreditou como fizera, pois, ainda era um bebê. O seu apelido na família era "demônio", pelas "diabruras" que sempre fazia.
Nas refeições, sua mãe o colocava em uma área fora da casa sentado no "cadeirão", junto com seu inseparável amigo Troy, um cão pastor alemão que o adorava. Ele derrubava no chão a maioria da comida, fazendo aquela sujeira e se lambuzando até os cabelos. Ficava feliz assim, pela autonomia em fazer como os adultos. Troy também, pois comia tudo o que caia no chão. Voluntarioso, era o moleque.
Mas, havia uma situação em que não era tão independente: quando ia ao banheiro. Sua mãe para aquietá-lo, dava-lhe revistas para que ficasse algum tempo entretido vendo as figuras, pois era muito curioso. A casa ficava um pouco menos agitada e ela mais calma. O silêncio imperava nesse curto momento.
- Mãiee acabei. Vem mi limpá! - quando terminava o seu grito ecoava forte e estridente por toda a casa.
Ela demorava um pouco, desanimada, pois seguiria ele agitando o ambiente familiar. Seu sossego durara pouco.
- Mãieeee, vem mi limpáaaaaa! Acabei mãeieee.
Vinha ela e começava a limpá-lo e lavá-lo, enquanto ele falava desenfreadamente sobre as figurinhas que vira nas revistas, criando histórias mirabolantes com a sua imaginação fértil.
Limpo, ele lhe dava um beijo em sua face e dizia:
- Brigado mãie. Agora vou brinca com o Troy, tá. E saia correndo faceiro do banheiro.
Apesar desse pequeno detalhe, era ele independente e incorrigível.
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