História de Luzia

História de Luzia

Eu sou Luzia, uma mulher Amazônida, paraense, nasci e cresci nestas terras fecundas, andando pelos caminhos dos rios e das matas, onde eu sempre me encontro, minhas origens sagradas, também faz parte deste chão, metade índio, metade negro, dela vem a minha força. Desde criança aprendi com minha mãe que era índia, mas que se apaixonou e fugiu da tribo para casar com um cabloco que sempre saia para caçar na mata perto de sua aldeia, aprendi muito com ela, sobre a vida e sobre o viver, ela conhecia o tempo das coisas, o tempo das plantas e dos bichos, conhecia os mistérios dos céus, e da vida, e aliás sabia muito sobre a vida e o trazer a vida, ela era parteira, trouxe todos os meus filhos a vida, e muitos outros da nossa comunidade, ela falava com sabedoria das fases da luas, dizia que a lua era nossa irmã e nos guiava aqui na terra, que nos observava a noite realizando os pedidos mais sinceros. Contava que o rio que nos banha e alimenta era encantado e tinha um guardião, pois teria nascidos das lágrimas de uma índia que não conseguiu viver o seu amor verdadeiro, e a lua que a observava concedeu-lhe um último desejo. A indiazinha se apaixonou por um viajante, mas já era prometida para o líder da tribo que descobrindo o amor dos dois, vingou-se matou seu amado com uma flecha no coração, no local onde eles sempre encontravam , a indiazinha chorou muito, até a noite e quando a lua chegou ele lhe fez um pedido, a lua comovida juntou os dois naquele local, as suas lágrimas se tornaram o rio e os dois se transformaram em duas pedras gigante que se uniam de um jeito que parecia duas pessoas, está atravessava o rio de um lado para o outro, e no verão quando o rio secava um pouco podia-se ver a linda pedra, que muitos acreditavam ser a índia e o seu amado.

Eu também me casei bem cedo com 16 anos, e tive oito filhos três meninas e cinco homens, as meninas eram as mais velhas, Deus foi bom comigo, quando as meninas cresceram me ajudaram muitos a criar os irmãos mais novos. Quando era nova saia bem cedo para roça com meu marido, preparava as crianças deixava com as mais velhas e ia mexer na terra, plantar, colher, para ter o que comer, voltávamos ao meio dia, dava o almoço das crianças colocava os pequenos para dormir, e ia lavar roupa no rio ou arrumar as coisas de casa, cuida dos bichos do quintal, ou mexer na horta. Quando era dia de lavar roupa pegava os meninos maiores e levava comigo para eles brincarem um pouco, mas ficava de olho para não sumir no rio, porque o rio é assim, se descuidar ele leva, voltava já no finzinho da tarde o sol já indo embora, chegava em casa e ia fazer a jantar, banhava os menino tudo, dava a janta e botava para dormir. Deus levou o pai dos meninos cedo eu ainda estava na flor da idade tinha 38 anos, o meu menino mais novo tinha 4 anos, tive que me virar para criar todos os meus filhos, tinha minha roça, tinha o rio e eu fui levando, um dia ia para roça no outro ficava em casa cuidando das crianças, quando precisava ia no rio pegava uns peixe levava o eu caniço a minha malhadeira, levava um dos meninos mais velhos ou ia só, saia de casa caminhando rápido pela mata cortava caminho e chegava no rio, eu tinha uma canoa que era do meu marido, pulava dentro dela, pegava o remo mergulhava na água e via a canoa deslizar lentamente, seguia ouvindo o canto dos bichos da margem dos rio os pássaros, os macaquinhos, as cigarras no seu canto estridente, e logo achava um lugar bom para jogar a malhadeira, as vezes pegava bastante peixe, afinal o rio ainda era muito peixeiro era o rio encantado da minha ancestral, ele nunca me deixou na mão sempre voltava com peixe para alimentar meus filhos. Nos dias que eu ia ao para roça, saía às 4:00 horas da manhã, antes do sol esquentar, fazia o café, tomava e ia para roça que era 1km e meio da minha casa, quando eu chegava lá sol já vinha mostrando a cara, iluminando tudo o verde da minha plantação, secando o orvalho da florzinha branca do feijão, dos pés de milho, eu chegava observando tudo vendo o que eu ia fazer, e aproveitava que o sol ainda não estava muito quente, as vezes plantava uma sementes fazia os bercinho e plantava todas as sementes, no outro tirava dos a ervas daninhas, em outros já era tempo de colher eu levava os meninos mais velhos para me ajudar.

Hoje eu já sou uma mulher de idade tenho 60 anos, ainda vou a minha roça todos os dias, hoje os meus filhos e netos fazem quase tudo, mais eu gosto de esta por lá, de limpa tudo, fazer coivara, deixa todo em ordem para o novo ciclo do plantio, gosto de está na mata fico mais perto das minhas raízes, lembro da minha mãe que partiu faz algum tempo, e quando estou andando pelos caminhos da mata parece que eu sinto o seu cheiro, no aroma que exala das pequenas florzinhas que encontro, o cheiro que vem do rio me desperta memórias de quando eu era criança e saia para pescar com ela. Eu ainda vou muito até o rio, peço proteção aos donos das águas e pego alguns peixes, já não muitos como no passado, porque veio a modernidade, as casas ficaram mais perto uma das outras, a comunidade tem mais gente, e nem todos respeitam o rio, mas a natureza é muito sábia e ela sempre se recupera, este rio ainda viverá por muito tempo depois de mim.

Taiana Carvalho Paiva
Enviado por Taiana Carvalho Paiva em 09/09/2020
Reeditado em 22/03/2021
Código do texto: T7059193
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