O Efeito Borboleta
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Gosto de fazer pão em casa, por isso pedi à minha mulher que comprasse fermento fresco. Prefiro-o ao biológico, porque o pão cresce mais. O melhor é o fermento natural, "levain", mas é trabalhoso de ser feito e para chegar ao ponto de "panificar" bem necessita mais de uma semana de cultivo.
Ela saiu com a lista e voltou com o carro cheio de frutas, verduras e mantimentos em geral.
- Não encontrei o fermento fresco em lugar nenhum. Trouxe dois biológicos, da "Fleischmann" - disse-me.
Colocamos tudo na mesa da copa-cozinha do nosso chalé. Ela retirou das compras os potinhos vermelhos de fermento dizendo:
- Veja os fermentos aqui.
Peguei-os, mas não dei atenção a eles. Simplesmente guardei no armário. À tarde faria os pães.
No meio da tarde peguei a farinha, o fermento novo, os demais ingredientes e a bacia de plástico, enorme, que utilizo para fazer a massa do pão. Bati a massa. Ficou bonita, areada e plástica. Olhando-a descansar, falei e pensei: - Vai dar pão bom.
Certo de que cresceriam bem coloquei-os nas formas. Após 20 minutos, quando fui vê-los, estavam da mesma maneira. Fiquei decepcionado e me questiono: "o que houve, fiz igual aos anteriores!". Pego o pote vermelho de fermento e leio: ideal para doces e salgados! Era o problema , não cresceriam!
- Você trouxe fermento para bolo, querida.
- Eu pedi para o homem do mercado e ele me deu esse.
- Pois deu o errado.
Asseio-os assim mesmo. Mas ficaram com uma crosta grossa e dura porque coloquei polvilho na massa. Além disso, minha mulher gosta de pão bem assado, por isso deixei-os ficar mais escuros.
Retirei e deixei-os esfriar envoltos em um pano de prato sobre a mesa. E como sempre faço, cortei uma das extremidades de um deles, ainda quente, para passar manteiga e provar (sente-se o melhor sabor do pão com manteiga) e dei uma mordida forte. Era duro como madeira e machucou um dente que recentemente havia sido restaurado. Doeu !
- Fernandinho, cuidado para não quebrar um dente, hein! Não morde assim! - me disse vendo minha careta de dor.
Dito e feito! O dente amoleceu com a mordida. Passei a tarde toda com ele dolorido e mole, inclusive com a gengiva sensível. Marquei ida à dentista para o dia seguinte, segunda feira.
Dormi relativamente bem à noite, com o dente latejando. No café da manhã comento com minha mulher sobre o dente e ela brinca comigo maliciosamente:
- Pois é, você não está mais em idade de comer coisas duras. "Tá" tudo amolecendo, né querido?
Fui para a dentista, mas antes, parei em um mercado no caminho para comprar o fermento certo. O fresco não tinha, comprei o biológico mesmo.
No caixa, um senhor de máscara (como eu) fala o preço e eu puxo conversa:
-Veja como são as coisas: ontem pedi para a minha mulher comprar fermento fresco para pão, lhe venderam para bolo; não vi e usei para fazer pão que ficou duro como "pau", dei uma mordida e amoleceu o dente e agora estou indo ao dentista para arrumar !
- Ehehe, nesta fase da vida, fica tudo mole não é mesmo?
Saí do mercado, subi na moto e fui à dentista, filosofando sobre o "efeito borboleta": acontece mesmo! Basta uma forma de agir, às vezes sem qualquer intenção, que acaba desencadeando fatos totalmente inesperados.
Graças a esse "efeito borboleta", decidi fazer o fermento caseiro, o "levain", fica bem mais barato e o pão muito melhor. E não quebra os dentes!
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