Passeio com a Blue
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Blue é o nome da cachorra que o meu filho mais velho comprou e adotou como filha, tornando-a minha "neta" canina. Tem nove meses e é muito amorosa e meiga, com a alegria e a agitação típica dessa terna idade. Não é de latir, o que pode demonstrar ser braba, pois está quase sempre séria, mas é muito mansa - uma "delícia" de criatura, a Blue.
Venho mensalmente para São Paulo e fico hospedado em sua casa. O quarto de hóspedes está desativado e durmo no grande sofá da sala de TV, tendo ela lugar cativo nele. Dormimos, cada qual, em seu extremo. Como é nenê, acorda à noite e se arrasta do seu canto para o meu, forçando espaço entre as minhas costas e o encosto do móvel, colocando o focinho junto a minha cabeça. Dormimos assim, juntinhos. Ela é bem quentinha. Segundo meu filho, os cachorros têm a temperatura corporal cerca de dois graus acima da dos humanos, por isso o nosso enrosco causa uma sensação deliciosa de aconchego.
Passeamos, os três, quase que diariamente pelas ruas do bairro, para nos exercitarmos e ela fazer as necessidades. Caminha no ritmo do meu filho, devagar, mas às vezes, ele me passa a guia da coleira e eu acelero os passos, fazendo com que ela vá a nossa frente.
-Você é muito lerdo, meu filho. Viu como ela gosta de andar rápido comigo. E o velho aqui sou eu, né? - falo brincando.
-Tá bom. De agora em diante você vai andar com ela, tá?
-Fechado. Amanhã vamos dar uma boa caminhada acelerada, né querida? - falo afagando a sua cabeça.
Ela é muito forte pela pouca idade que tem. Tem a constituição compacta e de pelo curto, tornando visível o contorno de sua musculatura rija.
No dia seguinte, no café da manhã, ele me pergunta:
-Vai passear com ela?
-Claro, né querida! - respondo, olhando-a.
Pego a coleira, o que a faz pular de alegria sabendo que irá sair. Coloco o apetrecho que lhe abraça o peito e abro a porta para sairmos. Ela vai ao elevador faceira e "sorrindo" para mim, toda feliz.
Na rua, estranha por não estar com meu filho, empaca e quer voltar.
- Vamos querida, vamos passear, vamos! - falo, estimulando-a.
Olha-me muda e ressabiada, mas começa a andar lentamente. Ao perceber que estamos fazendo o trajeto de costume, dispara os seus passos curtos e rápidos.
Outras pessoas também passeiam seus cães, parece a justificativa perfeita para sairmos à rua durante a pandemia, mas cruzamo-nos com passos rápidos.
Sua força é grande e em alguns momentos a guia fica esticada e tensa como se me puxasse de fato.
- O cachorro está te levando para passear? - pergunta-me rindo um moto-entregador que assiste à cena parado em frente a uma padaria.
- Pois é, está puxando o dono que é meio lerdo - respondo, seguindo atrás dela.
Atravessamos uma rua e duas senhoras conversando na esquina nos olham curiosas e interessadas, principalmente nela que em seu porte majestoso segue a minha frente, quando escuto:
-Que cachorro lindo! Mas o senhor está se esgoelando para acompanhá-lo. Olha, ele está sendo puxando, que engraçado! - falam rindo ao assistirem a cômica cena.
Seguimos a célere caminhada, comigo sempre puxado por ela, provocando risos às pessoas que a admiravam, ao falar-lhes: - Está me levando para passear.
É muito querida, a Blue.
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