264 - Vida Nova
Quando regressou do funeral a casa estava vazia. Com a pressa levaram até o que não queriam, o que para nada prestava. Aquele lugar, de repente, deixou de fazer sentido. Decidiu ir para Norte e saiu do autocarro um bom tempo depois. Era, para ela, tudo novo: ruas, casas, pessoas. Fez amizade com um cão de rua, deu-lhe os restos do farnel e deixou-o beber na bica pública. Seguiram juntos. Depois de aceitar o acolhimento da professora a troco de serviços domésticos, de combinar que começaria no dia seguinte, deitou-se e adormeceu. Ao acordar tinha o recado da patroa para iniciar o trabalho, uma muda de roupa lavada e algum dinheiro para as compras que deveria fazer na Loja do Augusto. Que fizesse o jantar e o tivesse pronto às sete. Comeriam juntas na cozinha. Quando saía viu o cão que a esperava. Voltou para arranjar algo para lhe matar a fome e esperou que bebesse na malga de louça. Parecia que o animal sabia onde era a mercearia e o talho porque seguiu à sua frente e parou à porta do Sr. Augusto, um rapagão novo e de ar tranquilo, que disse ao cão que só mais tarde lhe daria alguma coisa. – É o Sr. Augusto? Era. Ele abriu o sorriso, afastou-se para lhe dar passagem e começou a aviar o pedido ajudando a definir a qualidade do que deveria escolher. Ela prefere manteiga, não margarina e o vinho tem de ser deste. Depois, disse que levaria ele as compras a casa da professora. - Faço gosto, rematou contando o dinheiro e olhando-a com enlevo. O cão chama-se Azevedo e não tinha dono.