“Non Ducor Duco”
E aos poucos fomos retornando ao dia a dia em livre locomoção no território nacional em tempo de paz, mas com o covid-19 como inimigo infeccioso e que aos poucos está sendo contido. Temos permissão para voltar a nos reunir pacificamente, não mais como ontem, nem tampouco como antes, agora com cautela, a humanidade foi humanizada.
O lastro de pavor e pânico, de desesperanças e temor, que assolavam o imaginário coletivo, deu vazão à esperança que se propagou nos confinamentos durante os períodos de isolamentos sociais. A sociedade sentiu falta da socialização, de um abraço apertado e um aperto de mão amigável.
Na quebrada a rotina de transporte público lotado no horário de pico, parecia ter passado despercebido pelas autoridades que quase nada fizeram para mudar tal situação. Mas para a tia que vende café no final da lotação, isso é muito bom, quanto mais gente mais pão com requeijão, seu diferencial para chamar a atenção.
E em conversa com uma amiga que aguardava embarcar, ouviu dela que a patroa sentiu muito sua falta nos dias que não foi trabalhar, pois sem uma empregada, teve que lavar passar e cozinhar. E, ainda por cima, olhar a criança arteira que não sossegava nem com reza brava, é uma criança levada. A madame deveras, tornou-se uma doméstica. Tempos de adversidades, de resiliência e de adaptações para todos por causa do tal Corona Vírus, para alguns um martírio.
E próximo ao ponto final da lotação, tinha o ponto de taxi, que pela disposição e organização dos motoristas, colocaram no local uma Tv para acompanharem as notícias enquanto aguardavam passageiros.
No noticiário as informações eram de que na Europa as mortes diminuíram devido ao uso de medicamentos que estavam sendo utilizados como testes promissores e que o isolamento já não era necessário. Na China, a produção de equipamentos de proteção individual (EPI) estava sendo realizada com capacidade total, possibilitando a entrega para praticamente todos os países do mundo.
Ficaram contentes com as notícias do controle da pandemia.
Conforme decreto publicado no Diário Oficial da Cidade de São Paulo, “depois de amanhã”, é o dia oficial para o fim da quarentena, mas hoje se percebe pelas ruas, a circulação da população que estava submetida ao confinamento em detrimento do avanço do corona vírus. A pujante gigante metrópole brasileira voltava a conduzir e não ser conduzida.
São Paulo com seus mais de 12 milhões de moradores voltava a ser o centro financeiro do Brasil e a esperança de dias melhores.
O lojista animado e apreensivo abriu sua loja e logo seguiu até a lanchonete da esquina para agradecer as entregas por delivery que solicitou nos dias isolados, do outro lado na mesma rua, o escritório de marketing voltava as atividades presenciais depois dos trabalhos serem realizados por Home Office e o diretor fez questão de agradecer cada um dos funcionários da limpeza que mantiveram o local limpo e seguro.
O metrô estava normal e em uma de suas composições um grupo de estudantes, felizes e com muitas resenhas estavam a caminho do colégio quando de repente se ouve um espirro! E a tensão era visível, mas o passageiro aprendeu que ao espirrar, deve colocar o antebraço na frente da boca, alivio para os demais presentes no trem.
Próxima estação, Liberdade, desembarque pelo lado direito do trem. Liberdade! Foi à sensação que sentiu a enfermeira enquanto caminhava para ir embora, após cumprir mais um turno heroico no hospital.
Brava gente brasileira! Frase inicial da poesia falada, na batalha poética no Slam.
E a curiosidade aguçada do filho pegou o pai de surpresa com uma pergunta inusitada quando avistou uma propaganda com a bandeira da cidade de São Paulo. Perguntou o que significava a frase “Non Ducor Duco”. E prontamente o pai empresário voltando às atividades do ramo cultural respondeu... “Não Sou Conduzido, Conduzo”.