250 D. Flor
Quando se meteu no negócio das flores era uma romântica ignorante. Pareceu-lhe lindo e investiu o que tinha para abrir a loja naquele lugar central e muito concorrido. Depois, teve dias agoniada com o podre das flores que se não vendiam e acostumou-se a recuperar as que pudesse metendo-as em arranjos e coroas feitas por encomenda. Vivia acalorada, razão que a levava a aligeirar a roupa tantas vezes só a bata sobre a fartura das carnes. Para colorir os contactos enquanto amparava com arames as gerberas ou remoçava botões de rosa retirando-lhe pétalas já abertas, ia contando aos clientes que a rosa era o símbolo do amor por ser a preferida de Afrodite, que os agapantos eram também chamados lírios do Nilo e que tinha dificuldade em ver nas estrelícias as aves do paraíso com que as designavam os fornecedores. Esta tarde viria o moço buscar o ramo para uma noiva que lhe levou muito tempo a dizer como o queria. Que mulher chata, pensou, lançando olhares mais que suspeitos ao homem que ela disse ser seu pai. Olhou o reloginho de pulso, foi buscar a lupa para confirmar a hora e disse para o decote que tinha de apressar-se. Retocou a pintura, perfumou-se, rememorou as exigências da moça e concluiu que estava tudo perfeito: ela e o ramo.