AH, PAPAI !
O sol batia-lhe no rosto, de tal forma, que não o deixava enxergar muito longe. O homem mais velho, e que ia a frente, colocou a palma da mão direita na testa, logo acima dos olhos, para cobrir a luminosidade e ver melhor. Nesta posição foi girando a cabeça em busca da direção a ser seguida. Depois disse:
____ Acho que estamos no caminho errado. O túmulo de papai ficava perto de um pé de ipê. Lembro-me bem.
A mulher, bem jovem ainda, adiantou-se à frente daquele que parecia ser o seu irmão. Empurrando-o para o lado a pedir passagem, ultrapassou-o dizendo:
____ Já percebi que você não sabe o caminho. Deixe que eu busco pelo túmulo.
Eram dois homens e uma mulher, parecendo desorientados num lugar que não conheciam bem. Levavam velas e vasos flores nas mãos e discutiam entre si.
A mulher, que agora tomava a frente, falava alto:
____ Admira-me muito Abel que justo você não se lembrar onde papai está sepultado. Você mora aqui, nós ainda temos a desculpa de morar noutra cidade.
____ Não diga asneiras. Moro aqui, mas não tenho tempo para vir ao cemitério. Sou ocupado ...
____ Papai também era muito ocupado, - disse o homem mais jovem e que vinha atrás dos outros - , não tinha folgas. Mas quando você teve febre tifóide ele não saiu do seu lado. Passava o dia dando banho frio em você para a febre abaixar... e, à noite, nem dormia ! Mamãe já estava doente... papai quem cuidava você...
____ Eram outros os tempos .
Andaram mais algumas dezenas de metros, contornando os túmulos. O mais velho, que antes vinha à frente, andou depressa e buscava retomar a dianteira:
_____ Anita você está perdida. E está a pisar nos túmulos. É falta de respeito. Deixe que eu tome a frente e procure pelo túmulo de papai. É perto de um pé de ipê. Ipê amarelo !
Mas a moça segurou-lhe o braço resmungando:
____ Devíamos ter entrado pelo portão principal do cemitério. Você nunca deveria ter entrado pelos fundos. Por esta razão não sabe direito qual direção tomar.
____ Quem é você para me falar de direção. Nem encontrou ainda um rumo na vida !
Virou-se enquanto andava e apontou o dedo ao mais novo, que vinha na traseira da fila:
____ Demos todos muito trabalho, um não tem o direito de criticar o outro. Papai perdeu tudo tentando voltar a reunir a família.
____ Vamos esquecer essas coisas do passado. Procure onde papai e mamãe estão sepultados.
____ Acho que é ali, perto daquele entulho de coroas. Não vejo nenhum ipê; devem ter cortado...
____ Sim, deve ser. Ainda estão sepultado no chão de terra. Nenhum de nós teve o trabalho de construir um túmulo decente...
Os filhos reuniram-se na sepultura anônima. Quem garantia que ali estivessem sepultados os pais ?
Mas estavam cansados e o lugar servia; e era preciso acabar com aquilo; depositar as flores e ir embora.
Não fosse dia dos pais, com certeza não estariam aqui, reunidos, remoendo o passado.
Acenderam as velas, depositaram as flores, rezaram em silêncio.
Mas, parece que o velho, mesmo não estando com o corpo sepultado naquele canto, estava em espirito e admoestou-lhes inconsciente.
Porque de súbito, os filhos se abraçaram, e soluçaram, unidos na dor tardia e que se concretizou na única palavra que lhes saltou da garganta:
_____ Ah, papai !!!
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Este conto nasceu depois de eu observar um grupo familiar a procurar em vão pelo túmulo do pai, nesta data que o homenageia.
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Sajob
Baguaçu, agosto / 2015 + 5