Conto das terças-feiras – Adolescência em busca do amor
Gilberto Carvalho Pereira -Fortaleza, CE, 4 de agosto de 2020
Aldo Filho era um adolescente de classe média. Estudava em excelente colégio, frequentava bons lugares, era divertido e já aos 15 anos de idade iniciava a fase mais glamorosa da idade, os namoricos. Seus galanteios levianos quase sempre deixavam as garotas irritadas e, como consequência, geralmente era afastado do grupo das meninas de mesma idade que ele. Até mesmo suas colegas de classe não o suportavam.
Suas tentativas de aproximação aconteciam sempre entre as garotas novatas e de séries inferiores à sua, mas sempre ali bem próximo de sua idade. Era quando alcançava algum sucesso. Certo dia, o pai de uma dessas novatas, que cursava uma série inferior à dele, ao perceber que havia um garoto no portão de sua casa, conversando com sua filha de apenas 12 anos, às dez horas da noite, botou o engraçadinho pra correr:
— Seu moleque, chispa daqui! Você não está vendo que ela é uma criança?
— Mas ela é até maior que eu! Não sabia que ela era tão criança assim – vociferou Aldo.
— Não fale alto comigo, seu moleque – bradou o pai de Vitória, que entrou chorando.
— Desculpe-me senhor – como é mesmo o seu nome?
— Já disse, vá para bem longe de minha porta – disse o pai mais enfurecido ainda.
— Se você aparecer mais uma vez à minha porta, eu coloco os cachorros para correr com você.
Aldo, cabisbaixo, mais do que depressa deixou aquela casa. Era mais uma experiência frustrada. O sujeito imaginava que ela, por ser mais alta que ele, e já de corpo formado, teria 14 anos de idade. Gaúcha de origem e descendência alemã, a garota realmente aparentava ser mais velha.
Mesmo assim ele não perdeu a esportiva, sabia que enfrentaria outras situações semelhantes, isto é, encontraria pais ferozes, ávidos por defenderem suas filhas de rapazes afoitos.
No dia seguinte era o encerramento do ano letivo. Uma festa esperada por todos. Promovida pelos alunos das séries mais avançadas, onde predominavam adolescentes entre 15 e 18 anos de idade e quase tudo era permitido, até bebida alcoólica. Aldo nunca havia ingerido álcool, naquela noite bebeu um pouco, ficou corajoso e enfrentou uma garota de sua idade. Passou uma cantada na menina, que de bom grado aceitou
— Onde você mora?
— Eu sou da Paraíba, de João Pessoa – confirmou a garota.
— Podemos nos encontrar amanhã. Vamos à praia?
— Não posso. Vou de férias para a minha cidade! Meu pai já comprou a passagem. Só volto no próximo ano, no início das aulas. Não sei nem mesmo se continuarei nesse colégio – frisou a garota.
— Posso fazer uma visitinha depois do Natal? – perguntou Aldo todo animado.
— Você vai mesmo?
— É só você me passar o seu endereço de lá.
Tirando do bolso um pedaço de papel e uma caneta, escreveu o endereço, acrescendo: estou esperando, avise-me quando chegar.
— Claro que vou! – disse o garoto com convicção.
O garoto nada disse em casa sobre esse acerto com a garota paraibana. Não adiantaria falar agora, - pensou ele.
Passado o Natal e o Ano Novo, chegada de janeiro, Aldo primeiro falou com a mãe, que rechaçou aquela proposta, com a seguinte sentença:
— Seu pai não vai consentir que você vá para a casa de uma moça que só esteve com ela em uma festa.
Aquela frase deixou o garoto desnorteado, sabia que se não fosse, perderia a namoradinha de uma noite só. Tinha que se justificar perante ela. Naquela tarde havia lido no jornal, e até brincado com a irmã, que um tal de Aldo Guimarães Filho havia sido atropelado e que se encontrava no hospital com as duas pernas fraturadas. Imediatamente procurou o jornal, recortou a parte que relatava o acidente, e mandou para o endereço da garota, pedindo desculpas por não poder ir para João Pessoa. Nunca mais os dois se encontraram, entretanto, Aldo continuou suas investidas junto às garotas mais novas sem qualquer sucesso no âmbito do Colégio.