A pequena cabana
Juliette acordou sentindo-se irritada. Aborreceu-se com o tempo que não estava frio, nem calor; com a panqueca que achou borrachuda, o vestido que lhe parecia mal passado e enfim até a hora do almoço reclamou de tudo.
Depois do almoço resolveu dar um passeio sozinha. Dispensou a companhia de Louise. Queria estar só, na própria companhia. Decidiu ir pelo bosque. Talvez assim estivesse livre de se aborrecer.
Viu adiante uma frondosa árvore onde costumava descansar quando fazia longos passeios por ali. O pai mandara fazer um banco de madeira que circundava toda a árvore.
Sentou-se, fechou os olhos e pode ouvir melhor o chilrear dos pássaros. Tudo parecia perfeito, harmonioso. Sabia apreciar as belezas da natureza. Ficou um bom tempo a sombra, mas via os raios de sol atravessando os galhos das árvores atingindo a relva em determinados pontos.
Passou pelo menos duas horas nesse enlevo até que não viu mais nenhum raio de sol. Levantou-se, espreitou o céu e viu nuvens escuras. Viria chuva com certeza. Calçou os sapatos apressadamente. Precisava voltar para casa logo ou haveria que enfrentar a chuva.
Apressou os passos, mas em poucos minutos começaram os primeiros respingos e rapidamente transformou-se em uma chuva torrencial.
Logo suas roupas se encharcaram, estava amedrontada. Corre de um lado para o outro tentando encontrar um abrigo. Quem sabe chegaria a uma gruta. Sabia existir algumas ali, mas com o volume da chuva perdera a noção de onde estava.
Mais ou menos vinte minutos depois avistou um chalé. Devia ter se afastado da região que conhecia bem. Correu até o chalé e bateu a porta, gritando para que abrissem pois estava na chuva. Nenhuma resposta obteve. Rodeia a casa a procura de algo que possa protegê-la. Mas nada. Vai novamente a porta e bate. Dessa vez tem mais sorte. A porta se abre. Pensa que alguém possa tê-la aberto, mas logo vê que não. A porta era pesada e talvez tivesse só escorada. E de tanto empurrá-la cedeu e se abriu.
Entra e observa o local. Nota a humildade do local, e também o asseio. Tudo muito limpo e arrumado. Tudo que precisa tem ali. Lareira e lenha. Comida e por sinal muito apetitosa. Assim que abre a porta de um pequeno armário, o cheiro de pão entra pelas suas narinas. Há vidros de geleias e sobre o fogareiro apagado uma lata de alumínio que ela destampa. Carne de lata.
Onde estará o morador ou moradora do chalé. Procura num baú, algo que lhe sirva. Encontra vestidos modestos, mas um cheiro de limpeza exala quando ela os tira do baú. Veste-se e torce para que a dona não se importe com tal atrevimento. Estende o seu vestido sobre uma cadeira. E olha para a lareira e pensa em acendê-la. Mas logo desiste, nunca aprendera a lidar com a lenha. Nunca precisou, sempre teve alguém para fazer por ela. De repente se dá conta de que nunca tivera interesse em prestar atenção em como as pessoas faziam seus trabalhos.
Sente-se faminta. Pega o pão, a geleia, o leite de cabra que está sobre o fogão. Coloca os sobre a mesa rústica e de repente se dá conta que nunca experimentara um pão e uma geleia tão apetitosos.
Depois o cansaço a vence. Deita-se no leito simples, o colchão de palha, mas muito macio, os lençois de um tecido rústico, mas muito limpo. Dorme e tem os mais lindos sonhos.
Ao acordar descobre que os donos do chalé voltaram. São três pessoas, o pai, a mãe e a filha. A moça aparenta ter a mesma idade que ela. Uns vinte e dois anos. Dormira boa parte da tarde. Os anfitriões não ficaram lhe fazendo perguntas, e sim a trataram com muita cortesia. A lareira foi acesa, foi servido um caldo de legumes e uma saborosa torta de framboesa. Passou um dos mais maravilhosos momentos de sua vida. Conversando e conhecendo pessoas simples e tão bondosas.
Desde aquele dia fez novos amigos. Fazia questão que eles fossem jantar em sua casa, as famílias ficaram amigas e desde então, Juliette, não mais reclamou de nada. Descobriu que a vida era muito mais que ter seus caprichos atendidos. Quis aprender a acender a lareira, a sovar o pão e a fazer geleias.