Vem filho, me faça dormir
Ele estava num dia ruim. Finalizava um dia ruim, e até mesmo ter que ir dormir era cinzento. Sentia-se abafado e com vontade de chorar. As coisas não iam bem mesmo! A esposa, cansada também, retruca: preciso colocar o mais velho para dormir, segure para mim o Vítor, que depois o coloco no berço.
Ele pegou o bebê dos braços da mãe. De repente percebe o filho lhe encarando. Um pouco das nuvens se dissipa. De repente Vitor abre um sorriso para o pai, e muito mais nuvens se dissipam. Enferrujadamente o pai é recíproco, e devolve a gentileza com um sorriso amarelo. Mais nuvens se dissipam. O pai conversa com Vitor, que agora só pode retribuir com grunhidos e mais sorrisos. E mais nuvens se afastam.
O pai leva o bebê para a cama, brincam um pouco, e vagarosamente o último começa a pegar no sono. Não sem algumas caretas e resmungos, que é a forma de pedir bico. Pedido feito, pedido acatado.
A mãe chega no quarto. Faz menção de pegar o filho para levar para o berço. O marido intervém: vamos deixá-lo conosco hoje!
-- Ok! Se ele acordar à noite e ficar chorando o levo para o berço. Afinal, amanhã você acorda cedo.
A esposa se deitou também. Vitor entre o casal. Não se podia mexer muito, para não acordar o bebê.
--Obrigado por cuidar dele!
Depois de um tempo, suficiente para ela achar que não receberia resposta, e já quase pegando no sono, ouviu do outro lado da cama um sussurro lento:
--Não sou eu que estou cuidando dele neste instante. Ele é quem está cuidando de mim! Já me sinto bem melhor com a ajuda dele.
No quarto semi escuro, o marido não pôde ver uma lágrima que correu dos olhos da esposa, nem o nó na garganta. Mas sentiu uma mão tocar a sua, puxando para o meio, pouco abaixo dos pezinhos de Vitor. Vitor naquela noite acordaria apenas uma vez, para mamar, até o momento do pai levantar para ir para o trabalho. Este, dormiria naquela noite, como dorme uma criança carinhosamente cuidada pelos pais. No dia seguinte olhou para céu límpido. O sol brilhava.