Era uma tarde de um dia qualquer
Em um lugar de ninguém
Ninguém, um menino pobre e preto
Brincava feliz com seus amigos na frente da sua casa
Próximo do córrego que a sua rua beirava
Às margens do rego, ouviu-se gritarias e disparos e tiros desenfreados
De armas de onde ninguém via de onde vinha... pânico, correria
Ninguém não teve tempo de correr
Foi um tiro certeiro, de um disparo a esmo,
E uma bala perdida, encontrou sua vítima
Bem na testa, acertou seu alvo, ninguém não viu de onde veio a bala
E ali terminava sua brincadeira
Sua mãe uma empregada doméstica
Que trabalhava em um condomínio de luxo próximo a um shopping, em frente a um batalhão da polícia, do lado de um hipermercado, numa rua arborizada, com diversas agências bancárias, lojas de grifes, colégios particulares faculdade de renome e muitas câmeras de segurança, ainda não sabia do ocorrido
E logo teria mais uma Dona Maria de Luto
E o que todas as senhoras tinham em comum?
A roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura
E ninguém era só mais um menino preto, pobre da periferia
Era uma tarde de um dia qualquer
Em um lugar de alguém
Alguém, um menino rico e branco
Que um dia seria importante, garboso, de estirpe tradicional
Brincava feliz com seus amigos
No condomínio de luxo onde morava, próximo a um shopping, em frente ao batalhão da polícia, do lado de um hipermercado, numa rua arborizada, com diversas agências bancárias, lojas de grifes, colégios particulares faculdade de renome e muitas câmeras de segurança
E a patroa, questionava a empregada doméstica
Que assistia na tv um noticiário de uma morte na periferia
A notícia era de que uma bala perdida encontrou outra vítima
Não é ninguém! Disse a patroa que em seguida desligou a tv
Na hora de ir embora, a empregada deixou alguém
Alguém, um menino branco e rico e tranquilamente dormindo
Enquanto isso, desejava o quanto antes encontrar seu filho
Que deveria estar brincando com seus amigos na frente da sua casa
E ninguém ela amava mais neste mundo
E lá foi ela catando feliz, uma canção que dizia assim
Olha aí!
Ai meu guri, olha aí
Olha aí!
É o meu guri