EU - O ROBÔ

Olhares estáticos, vidrados na tela de um celular. Observo a frenética troca de mensagens entre as pessoas. A ansiedade estampada em cada rosto, a espera de uma resposta imediata. A resposta na era digital é obrigatória. Dedos ligeiros digitando expressões irreconhecíveis no teclado. E sinto-me isolado. Noto que ao meu redor que todos estão escravizados pela modernidade. As pessoas não conversam mais. Telefonemas são extremamente raros. Os diálogos foram trocados por mensagens instantâneas que percorrem quilômetros em segundos, aproximam corações solitários e afastam as pessoas presentes. O sentimentalismo foi condenado à morte. Expressões emocionais foram esquecidas, agora são facilmente retratadas por simbolismos e rostinhos irreconhecíveis. O amor se tornou digital. Para se declarar a alguém basta digitar frases impessoais e enviá-las ao destinatário. A paixão já não manda mais flores, prefere enviar um email ao invés de perder seu pouco tempo conversando ao pé de outro ouvido alheio. As redes sociais são o novo divã da psicologia, é por lá que meus semelhantes descrevem seus fracassos e insucessos como um desabafo para que alguém com certa empatia convençam-os do contrário. Tudo é tão contraditório, fotos são os cartões de visitas do sucesso. Quanto mais curtidas, mais sociável a pessoa se torna. No entanto isto não passa de um artifício inconsciente de pessoas inseguras e de baixa auto-estima. Já o sexo transformou-se em algo mais requintado. Tornou-se o objeto de voyeurismo virtual de homens e mulheres que se deleitam vídeos íntimos de seus parceiros libidinosos. Masturbam-se com o olhar fixo na tela sensitiva de um celular. Tudo é tão mecânico nesta época. Sentimentos são automáticos e mecânicos. Com esse avanço tecnológico nos tornamos robotizados, a espontaneidade perdeu seu valor. Como desejei que esse tempo nunca viesse. Sinto falta do afeto e calor humano. O perfume de um cabelo recém lavado, a sinceridade de um aperto de mão ou a segurança transmitida pelo abraço. E mais triste ainda é perceber que nossos corações já não são os mesmos. São sucatas que bombeiam o sangue oleoso de nossas engrenagens modernas, mas que já se esquecerem de se reprogramar para o amor verdadeiro...

rodrigokurita
Enviado por rodrigokurita em 11/07/2020
Código do texto: T7002610
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