RECORDAÇÕES 78/79.
Eu penso que a música tem um poder extraordinário de nos arrebatar do presente e nos levar a um passado distante em segundos. Já escrevi alguns textos em que falo de música como condutor de pensamento e creio que vou escrever outros ainda; sou saudosista, gosto de ouvir músicas antigas e isso geralmente me traz muitas recordações .
Uma noite dessas, eu estava no Facebook, quando alguém postou um clipe do Conjunto Chicago, cantando “If You Leave Me Now”.
Ao ouvi-la, viajei no tempo, por quarenta e dois anos, e voltei lá em Presidente Alves, um pequeno e aconchegante município do interior paulista, minha terra natal. Era o ano de 1978, eu cursava o segundo colegial, como era chamado na época, atualmente ensino médio.
Aquela noite, fui dormir aproximadamente meia-noite; por volta das três horas da madrugada, acordei e me lembrei da música, com um aperto no peito, uma saudade gostosa de sentir; não pude dormir mais, vi o dia clarear.
Eu pensei em tantas coisas, nos amigos, muitos tenho contato até hoje, outros, com o tempo, as circunstâncias da vida os levaram para longe; alguns ainda, já terminaram sua jornada aqui entres nós e partiram para a eternidade, mas a saudade é a mesma para todos.
Pensei também em nossos mestres; como é bom recordar com carinho aqueles que dedicaram parte de suas vidas para a nossa formação. Mas são tantas as boas recordações que, se for escrever, o texto ficará longo demais; vou contar apenas sobre a música, o cinema e a formatura.
Começando pela música. Era uma turma pequena, não me lembro ao certo, talvez uns dez ou doze alunos, o que tornava inviável ocupar uma sala de aula grande; por isso, foi desocupada uma pequena sala no andar superior que era usada para outros fins e transformada em sala de aula para nós. Ficava bem em cima da porta de saída do colégio.
Era a Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau “Cel. José Garcia”, que funcionava no prédio que atualmente abriga a Prefeitura Municipal. O corpo docente era formado, na maioria, por professores de fora, Bauru, Cafelândia e alguns da cidade.
Aí você deve estar se perguntando, o que tem a ver a música com isso? Eu respondo: naquele ano, a nossa professora de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Redação, era a professora Ana, de Bauru, jovem, eficiente e muito simpática. Na disciplina de inglês, ela passou como atividade em sala, a letra daquela música para fazermos a tradução. De tanto ouvir no gravador, tentar pronunciar as palavras em inglês, ficou gravada na memória. Não aprendi a pronúncia, mas até hoje quando a ouço , lembro-me desta passagem.
Ainda no mesmo ano e a mesma professora, na disciplina de Língua Portuguesa, estávamos lendo o livro “O Cortiço” de Aluizio de Azevedo. Por coincidência, foi lançado no cinema o filme “O Cortiço” e estava em cartaz em Bauru. A professora Ana, sugeriu que fôssemos assistir ao filme; ela, algumas meninas da turma e o namorado de uma delas, que morava em Bauru, tomaram as providências, alugaram uma perua e fomos ao Cine Capri.
Atualmente é uma coisa comum para um jovem ir ao cinema, mas naquela época na nossa cidade, o saudoso Cine São Luiz havia fechado as portas, não sei ao certo se no final dos anos 60 ou início dos 70.
Para mim, foi um passeio inesquecível; eu tinha dezessete anos, morava na fazenda, já tinha ido ao cinema quando criança, na cidade mesmo, mas depois que fechou, não tinha ido mais até aquele dia. Também foi a primeira vez que saí à noite, só com os amigos e ir a Bauru assistir a um filme, foi o máximo.
Terminado o ano, todos aprovados, enfim as merecidas férias. Mas quando iniciaram as aulas, tive uma surpresa, a turma havia diminuído ainda mais, éramos apenas cinco alunos, mudamos para outra sala, também improvisada no mesmo andar, do lado oposto.
Os professores continuaram os mesmos, a Ana continuou com as mesmas disciplinas. Notem que eu disse a Ana, vou explicar: naquele tempo, os alunos se dirigiam aos professores sempre respeitosamente. Usavam o tratamento de “senhor” ou “senhora’. Seria inimaginável um adolescente tratar um professor ou professora de “você”. Mas por se tratar do terceiro ano, poucos alunos, mais maduros, a professora Ana, sendo jovem e solteira, autorizou-nos a tratá-la de você. No início foi estranho, mas depois acostumamos.
O terceiro ano foi tranqüilo, não tenho nenhuma lembrança marcante. Vamos para o final do ano, a tão esperada formatura, que aconteceu no dia 21 de dezembro de 1979, uma sexta feira, três turmas, o colegial e duas turmas de oitavas séries. Foi um dia feliz e ao mesmo tempo triste, por ser o fim do estudo na cidade, e para mim, que não tinha a menor condição de cursar uma faculdade em outra cidade, era mais triste ainda.
Mas vamos deixar de lado a tristeza, falemos do orgulho, do sentimento de dever cumprido. A cerimônia teve inicio com uma missa na Matriz de Santa Cecília, em seguida a entrega dos diplomas, o que chamamos atualmente de colação de grau, no Presidente Alves Clube, onde também no domingo, encerrando a programação, tivemos um lindo baile de formatura.
O salão do clube estava cheio de familiares e amigos dos formandos, e no palco foi montada a mesa com a diretora, professores e autoridades da cidade. Cada aluno que era chamado pelo microfone, subia ao palco por uma escada, recebia de um professor ou professora o diploma, tirava uma fotografia, recebia também os cumprimentos dos membros da mesa e descia pelo outro lado ao salão.
A minha turma tinha, como Paraninfa, a professora de matemática e física, a querida por todos, dona Rosely Ujimore; como Homenageado de Honra, o inspetor de alunos Sr. Alcides Moreira de Oliveira, o inesquecível seu Dadi e como Patrono o Prefeito Municipal, o jovem Sr. Orlando Rodrigues Gimenes, conhecido por todos como Landinho, que estava no seu primeiro mandato, tendo administrado o município por mais três vezes, com muita competência e seriedade, contribuindo de maneira ímpar para o desenvolvimento da cidade.
Que saudade da minha cidade, da escola, dos amigos, dos professores. Quem poderia imaginar naquele dia, que depois de dez anos eu viria morar em Marília e mais dez anos, em 1999, eu realizaria o sonho que parecia impossível na juventude: ingressei na UNESP – Universidade Estadual Paulista, no curso de Ciências Sociais, concluindo o Bacharelado em 2002 e a Licenciatura em 2003.
Hoje, com 59 anos, não sei quanto tempo ainda tenho, pois o futuro a Deus pertence, não vou pensar nisso. Penso muito no longo passado, nas lutas, derrotas e vitórias que dão sentido à vida. Penso que nada foi em vão; foi difícil, mas valeu a pena e pude contar sempre com a Graça de Deus.
Eu penso que a música tem um poder extraordinário de nos arrebatar do presente e nos levar a um passado distante em segundos. Já escrevi alguns textos em que falo de música como condutor de pensamento e creio que vou escrever outros ainda; sou saudosista, gosto de ouvir músicas antigas e isso geralmente me traz muitas recordações .
Uma noite dessas, eu estava no Facebook, quando alguém postou um clipe do Conjunto Chicago, cantando “If You Leave Me Now”.
Ao ouvi-la, viajei no tempo, por quarenta e dois anos, e voltei lá em Presidente Alves, um pequeno e aconchegante município do interior paulista, minha terra natal. Era o ano de 1978, eu cursava o segundo colegial, como era chamado na época, atualmente ensino médio.
Aquela noite, fui dormir aproximadamente meia-noite; por volta das três horas da madrugada, acordei e me lembrei da música, com um aperto no peito, uma saudade gostosa de sentir; não pude dormir mais, vi o dia clarear.
Eu pensei em tantas coisas, nos amigos, muitos tenho contato até hoje, outros, com o tempo, as circunstâncias da vida os levaram para longe; alguns ainda, já terminaram sua jornada aqui entres nós e partiram para a eternidade, mas a saudade é a mesma para todos.
Pensei também em nossos mestres; como é bom recordar com carinho aqueles que dedicaram parte de suas vidas para a nossa formação. Mas são tantas as boas recordações que, se for escrever, o texto ficará longo demais; vou contar apenas sobre a música, o cinema e a formatura.
Começando pela música. Era uma turma pequena, não me lembro ao certo, talvez uns dez ou doze alunos, o que tornava inviável ocupar uma sala de aula grande; por isso, foi desocupada uma pequena sala no andar superior que era usada para outros fins e transformada em sala de aula para nós. Ficava bem em cima da porta de saída do colégio.
Era a Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau “Cel. José Garcia”, que funcionava no prédio que atualmente abriga a Prefeitura Municipal. O corpo docente era formado, na maioria, por professores de fora, Bauru, Cafelândia e alguns da cidade.
Aí você deve estar se perguntando, o que tem a ver a música com isso? Eu respondo: naquele ano, a nossa professora de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e Redação, era a professora Ana, de Bauru, jovem, eficiente e muito simpática. Na disciplina de inglês, ela passou como atividade em sala, a letra daquela música para fazermos a tradução. De tanto ouvir no gravador, tentar pronunciar as palavras em inglês, ficou gravada na memória. Não aprendi a pronúncia, mas até hoje quando a ouço , lembro-me desta passagem.
Ainda no mesmo ano e a mesma professora, na disciplina de Língua Portuguesa, estávamos lendo o livro “O Cortiço” de Aluizio de Azevedo. Por coincidência, foi lançado no cinema o filme “O Cortiço” e estava em cartaz em Bauru. A professora Ana, sugeriu que fôssemos assistir ao filme; ela, algumas meninas da turma e o namorado de uma delas, que morava em Bauru, tomaram as providências, alugaram uma perua e fomos ao Cine Capri.
Atualmente é uma coisa comum para um jovem ir ao cinema, mas naquela época na nossa cidade, o saudoso Cine São Luiz havia fechado as portas, não sei ao certo se no final dos anos 60 ou início dos 70.
Para mim, foi um passeio inesquecível; eu tinha dezessete anos, morava na fazenda, já tinha ido ao cinema quando criança, na cidade mesmo, mas depois que fechou, não tinha ido mais até aquele dia. Também foi a primeira vez que saí à noite, só com os amigos e ir a Bauru assistir a um filme, foi o máximo.
Terminado o ano, todos aprovados, enfim as merecidas férias. Mas quando iniciaram as aulas, tive uma surpresa, a turma havia diminuído ainda mais, éramos apenas cinco alunos, mudamos para outra sala, também improvisada no mesmo andar, do lado oposto.
Os professores continuaram os mesmos, a Ana continuou com as mesmas disciplinas. Notem que eu disse a Ana, vou explicar: naquele tempo, os alunos se dirigiam aos professores sempre respeitosamente. Usavam o tratamento de “senhor” ou “senhora’. Seria inimaginável um adolescente tratar um professor ou professora de “você”. Mas por se tratar do terceiro ano, poucos alunos, mais maduros, a professora Ana, sendo jovem e solteira, autorizou-nos a tratá-la de você. No início foi estranho, mas depois acostumamos.
O terceiro ano foi tranqüilo, não tenho nenhuma lembrança marcante. Vamos para o final do ano, a tão esperada formatura, que aconteceu no dia 21 de dezembro de 1979, uma sexta feira, três turmas, o colegial e duas turmas de oitavas séries. Foi um dia feliz e ao mesmo tempo triste, por ser o fim do estudo na cidade, e para mim, que não tinha a menor condição de cursar uma faculdade em outra cidade, era mais triste ainda.
Mas vamos deixar de lado a tristeza, falemos do orgulho, do sentimento de dever cumprido. A cerimônia teve inicio com uma missa na Matriz de Santa Cecília, em seguida a entrega dos diplomas, o que chamamos atualmente de colação de grau, no Presidente Alves Clube, onde também no domingo, encerrando a programação, tivemos um lindo baile de formatura.
O salão do clube estava cheio de familiares e amigos dos formandos, e no palco foi montada a mesa com a diretora, professores e autoridades da cidade. Cada aluno que era chamado pelo microfone, subia ao palco por uma escada, recebia de um professor ou professora o diploma, tirava uma fotografia, recebia também os cumprimentos dos membros da mesa e descia pelo outro lado ao salão.
A minha turma tinha, como Paraninfa, a professora de matemática e física, a querida por todos, dona Rosely Ujimore; como Homenageado de Honra, o inspetor de alunos Sr. Alcides Moreira de Oliveira, o inesquecível seu Dadi e como Patrono o Prefeito Municipal, o jovem Sr. Orlando Rodrigues Gimenes, conhecido por todos como Landinho, que estava no seu primeiro mandato, tendo administrado o município por mais três vezes, com muita competência e seriedade, contribuindo de maneira ímpar para o desenvolvimento da cidade.
Que saudade da minha cidade, da escola, dos amigos, dos professores. Quem poderia imaginar naquele dia, que depois de dez anos eu viria morar em Marília e mais dez anos, em 1999, eu realizaria o sonho que parecia impossível na juventude: ingressei na UNESP – Universidade Estadual Paulista, no curso de Ciências Sociais, concluindo o Bacharelado em 2002 e a Licenciatura em 2003.
Hoje, com 59 anos, não sei quanto tempo ainda tenho, pois o futuro a Deus pertence, não vou pensar nisso. Penso muito no longo passado, nas lutas, derrotas e vitórias que dão sentido à vida. Penso que nada foi em vão; foi difícil, mas valeu a pena e pude contar sempre com a Graça de Deus.