O Segredo 


Capítulo III

 

 
E
m algum lugar do Leblon estava Cláudia, prontíssima, e esperando por Ricardo que se atrasara alguns minutos... Mal o namorado chegou ao lugar, impacientemente, ela já fôra o interpelando:
 
- Já marcou a data?
 
- Já.
 
- E o segredo?
 
- Eu vou lhe contar.
 
- Então conta!
 
- Aqui não é o lugar.
 
- Não falo mais com você! Tchau.
 
Claudia deu as costas e foi saindo sem dizer palavra! Ricardo correu atrás e alcançando-a conversou:
 
- Espera... Como assim? Tudo isso por causa de um segredo?
 
- É sim. Estou pra morrer com essa história! Sim, porque casar nós vamos casar! Agora o segredo... Estou passando mal até com isso!
 
- Mas, minha filha... Este é o único segredo que tenho. Não lhe escondo nada! Minha vida é um livro aberto!
 
- Ah, é sim... Eu só não consigo ler as páginas!
 
- Meu anjo, eu vim aqui lhe contar a data que marquei e é assim que você me recebe?
 
- Mas é claro! Eu vou me casar e meu futuro marido tem um segredo que não quer me revelar... Como você queria que eu estivesse com isso?
 
- Eu vou lhe contar... Também já decidi o dia.
 
- E quando é então?
 
- Amanhã!
 
- Ai, que inferno! Conta logo! É tão grave assim? O quê que é? Tem câncer?
 
- Não.
 
- Aids?
 
- Não.
 
- Outra mulher!
 
- Não.
 
Mais efusiva:
 
Tem câncer?
 
- Não.
 
- Aids?
 
- Não.
 
- Outra mulher!
 
- Não.
 
- Ai, desisto. Já cansei de pensar... Tudo que lhe pergunto é não, não, não!
 
- Escute: Amanhã eu vou lhe contar. Prometo.
 
Cláudia não acreditou nesse momento e olhando-se nos olhos e de braços cruzados perguntou:
 
- Jura?
 
- Juro.
 
- Se você não me contar...
 
- Eu conto.
 
- Então está certo. Amanhã então... Onde?
 
- Lá em casa... Mandei preparar um jantar pra nós dois...
 
Ricardo conseguira então, com isso, derreter o coração de Cláudia. Encantada ela emana:
 
- Ai jura? Que lindo isso! Mas por que?
 
- Estou arrependido de ter te pedido para tirar o filho. Agora nós vamos nos casar! Marquei a data para vinte e sete deste mês ainda. Está bom pra você?
 
A notícia era incrível para Cláudia. E ela acreditava piamente na mudança do namorado. Todo homem se compadece com essa história de filho. No começo podem até fazer pirraça, mas normalmente se rendem às responsabilidades e aos caprichos. Cláudia repetia a data quase sonhando:
 
- Vinte e sete? Daqui a duas semanas?
 
- É.
 
- Ai, está ótimo. Ai, meu Deus... Mas e o meu vestido? E a festa? As coisas todas?
 
- Não se preocupe com nada. Estou providenciando tudo. Hoje mesmo você pode ir provar um vestido que encomendei pra você. Está aqui o endereço da loja. Tem também um lugar para você passar o dia da noiva. Eles vão cuidar de você... Está aqui. E a festa, eu ainda estou decidindo o lugar.
 
- E a igreja?
 
- Na Catedral de São Sebastião, gosta? Se não gostar ainda posso mudar!
 
- Não acredito! Que amor... Meu sonho era casar lá.
 
- Olhe: Este cheque é para o seu enxoval. Precisa estar preparada para se casar.
 
- Ai paixão, você está pensando em tudo! Já posso contar? Pelo menos para o meu pai e meu irmão?
 
- Depois de amanhã, quando eu lhe contar o segredo.
 
- Vai mesmo me contar?
 
- Vou. Nós vamos casar!
 
- Então tá. Ai, agora estou ansiosa. Quero ir logo na loja!
 
- Então vá...
 
- Eu vou, mas amanhã à noite estarei na sua porta.
 
- Não precisa ir, eu venho lhe buscar.
 
- De carro?
 
- De carro!
 
- Ai, então tá... Deixa eu ir senão morro de curiosidades sobre o vestido!
 
- Vá então. Vá...
 
- Te ligo mais tarde!
 
- Tá...
 
No dia seguinte, Ricardo apareceria na casa de Cláudia, conforme o combinado e a pegaria para jantar.
 
Capítulo IV
 
N
o salão de festas da casa de Ricardo, pouco depois do jantar à luz de velas, estavam somente Cláudia e Ricardo a dançar. Não existiam convidados. A festa era somente para os dois. Eles, muito bem arrumados, dançavam havia pouco menos que minutos... Cláudia estava muito feliz. Encantada com tudo. E enquanto dançava com ele imagina até se esse segredo poderia ser a maior surpresa da festa. E seria... Quem sabe até o próprio casamento... "Os convidados poderiam estar escondidos por ali", pensava ela. “Que tola! Cobrar tanto um segredo que podia ser tão lindo...” E meio a tudo isso, em plena dança, ela, quase que sussurrando, exala:
 
- Muito obrigada. Está tudo muito lindo e romântico!
 
- Você merece!
 
- Imagina... Te perturbei demais pra saber teu segredo, não é?
 
Olhavam-se nos olhos quase que flutuando sob a música. Ela; com uma respiração ofegante como a de quem realmente se apaixona e não só pelo dinheiro do outro. Ele; fitando-a nos olhos. Dançando levemente, Ricardo profere:
 
- Perturbou. Mas não tem problema. É melhor assim... Não teremos segredos entre nós.
 
Logo uma "mão-boba" apareceu em algum lugar de Cláudia. Meio que desconsertada, olhou para confirmar se estavam sozinhos:
 
- Estamos mesmo sozinhos?
 
- Mas é claro. Não faria isto com você se estivéssemos acompanhados.
 
- Ai, que bom... Porque você sabe... Às vezes sou tímida.
 
- Eu sei...
 
Beijaram-se e foram direto para o chão. Ali mesmo, Ricardo começou a esquentá-la como nunca. Ela, com mais respiração do que fala, implorava:
 
- Me conta... Vai...
 
- O quê? 

- Teu segredo...
  
- Quer mesmo saber?
 
- Quero. Conta... Conta...
 
Foi então que Ricardo revelou:
 
- O meu segredo... É que eu sou gay. E teu irmão é o meu namorado!

(Fim)
 
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Oscar Calixto
Enviado por Oscar Calixto em 18/10/2007
Reeditado em 23/05/2023
Código do texto: T700100
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