O CARRO DO SONHO
“É o carro do sonho que está passando! Sonho de nata, chocolate, doce de leite, goiabada. É o sonho freguesia!”
Desse modo, um pequeno empreendedor apregoa seu produto tentando sobreviver durante a pandemia. Todas as tardes, invariavelmente, de segunda a sexta-feira, ouvimos essa gravação.
Admiro a criatividade, a persistência e a saída encontradas por esses informais que vão se reinventando nesse período tão difícil de recessão econômica. Muitos estão desempregados e se tornam pequenos empresários em atividades simples mas bem sucedidas. Assim, o proprietário do carro do sonho vai tocando o seu negócio, tirando daí o seu sustento e sonhando com dias melhores.
Isso me faz lembrar de quando eu era muito jovem e cheguei a Curitiba para cursar a universidade. Por nossa rua passava um cidadão em sua bicicleta, oferecendo serviços de conserto de panelas e afiação de facas e tesouras. De longe ouvíamos seu apito e sua voz apregoando tal atividade. Sentia saudade dessa Curitiba que não mais existia. Faz tempo que o afiador de facas desapareceu. Mas, agora, olhando o mundo da janela, reclusa pela pandemia, fico feliz em ouvir o vendedor de sonhos e também sonho com um mundo melhor quando tudo isso passar.
Renovo minha esperança. Sonhar não custa nada...