Plano sequência

por Beleléu

(Lucia e Ademar estão na cozinha. Ademar pega uma tábua e Lúcia uma chaleira, viram de costas uma para a outra)

ADEMAR- Estou cortando a salada para o meu almoço e após irei tomar um banho em bacia com Barbatimão, quem diria

LUCIA- Como quem diria?

ADEMAR- Quando eu dava uma enorme ênfase no que eu ia fazer, pensava em fazer

-OLHA, ESTOU FAZENDO

-está acontecendo

-uau, QUE AÇÃO! Essa grande ação sendo feita…

- O fazer era meia boca, me perguntava se terminaria um dia aquilo ou aquela coisa, pois eu dava início e não punha fim em nada

LUCIA- Eram efêmeras?

ADEMAR- Não se trata de efemeridade, elas perambulavam entre os mundos. O mundo das ideias e o mundo das ações, não eram nem cá nem lá, paravam no centro, me angustiando.

LUCIA- Acho que elas estavam confusas, Ademar

ADEMAR- Não Lucia, eu estava perdido

LUCIA- Ah, se você diz então (Lucia se queima) CARALHO! Era.

(Sem demonstrar surpresa) ADEMAR- Foi uma epoca em que os fins aconteceram e eu não pus um final, continuei carregando aquilo já acabado

LUCIA- E pra que merda tu ainda ia pra lá?

ADEMAR- Eu achava que devia, já que não terminava o que começava, dessa vez eu ia, ia ainda que nem entrasse

LUCIA- A água já ferveu

ADEMAR- Sim, vou despejar e enquanto espero termino de te contar.

(com ironia) LUCIA- Diz, não que eu goste de cozinhar em silêncio nem nada

(Ademar vai até o banheiro e volta, coloca o alface e o tomate no prato com o restante da comida)

ADEMAR- Hoje, eu direciono minha atenção á ação e menos no que pode significar fazê-la, executo verdadeiramente, ela é inteira.

LUCIA- Sei, sei, vou me deitar um pouquinho.

Mais uma segunda-feira ouvindo essa faca batendo em tábua e tu? nesse corta, num corta, inteiro em pedaços mimimi popopo e quando olho, o tomate inteiro no teu prato! e tu com papo sabido pra cima de mim,

Vê se arruma outra desculpa pra entrar na minha mente, Ademar, Gosto do meu arroz calado, CALADO, OUVIU?!