Começo, meio e....Fim?

       Enquanto escolhia uns livros para doação lhe ocorreu que eles, mais que qualquer objeto, contavam muito de suas escolhas e preferências e que sentia uma tristezinha egoísta por se desfazer deles. Era como se concluisse uma história de convívio, de amor ou amizade. Não, não gostava  dessa sensação de despedida.
     Fazendo um paralelo com a vida, admitiu pra si mesma que não gostava, realmente era de "pontos finais", de concluir etapas, de fechar ciclos, pois uma sensação de desconforto lhe acompanhava sempre, fosse qual fosse o desfecho.
     Poderia dizer que isso era um defeito seu? Talvez... Por isso era que em tudo ou quase deixava uma janela meio aberta, uma porta mal fechada, uma fresta, uma possibilidade...
     Em processo de franca autocrítica lembrou situações, vivências, histórias e avaliou que essa mania de não "encerrar etapas" não era de todo mau...De fato, experiências ruins, dolorosas ou desastrosas não mereciam sequer uma segunda olhada. Coisas boas, não. Mereciam até reprise, releituras...
       E, por algum motivo que não saberia explicar,  reconheceu que a vida estava sendo, até então, generosa, suave, gentil...Para que "pontos finais"? Fechou a caixa com os livros separados. Certamente fariam a alegria de mais gente numa biblioteca pública!  Aquietou seu pensamento, agradeceu ao Universo e cantarolou para seu atrapalhado coração : " começaria tudo outra vez se preciso fosse meu amor..."
       E não, não seria o fim.




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PS. Sou dessas...