O Segredo
Capítulo I
- Me conta vai...
- O que?
- Teu segredo.
- Não conto.
E
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não contaria mesmo! Ricardo e Cláudia eram namorados, mas pairava sobre o casal a descoberta de Cláudia de que Ricardo tinha um segredo. Namoravam há mais de oito anos já e ter um segredo a esta altura do campeonato era algo inaceitável para Cláudia. Mas ela relevava... O namorado era rico e, diante das condições em que se encontrava no momento, isso já nem era o mais importante, mesmo assim insistia:
- Ah, que nada! Conta?
- Por que quer saber?
- Por que eu quero!
- Mas é segredo. Não posso contar. Segredo é segredo.
- Poxa, você não confia em mim, né? Impressionante...
- E por que deveria?
- Por que sou sua namorada! Não basta?
- Não, não basta! Não confio em mulher. É bicho danado!
- Então está bem... Mas olha: Também tenho um segredo. E vou te contar...
- O que?
- Estou grávida!
- Grávida?
- Estou.
Esta seria, para Ricardo, a pior notícia do ano. Grávida! Com tantas medidas de precaução tomadas, com tabela, anticoncepcional, preservativo até, na falta de um ou erro de cálculo do outro... O que haveria acontecido de errado?
- Mas como você pôde ficar grávida?
- Hã... Vai dizer que não sabe?
- Mas e as medidas tomadas?
- Ah, querido... Falharam!
- Mas e as medidas tomadas?
- Ah, querido... Falharam!
- E agora?
- Agora a gente casa!
- Mas assim... Do nada?
- Casa. Olhe, meu filho: Não tem outro jeito. Papai é um santo! Mas mexeu comigo... Ele vira o diabo! Te mata!
Ricardo estava desesperado. E, apesar do silêncio, um furacão girava em sua cabeça procurando alguma solução ao menos um pouco sensata, para ele, é claro!
- E se a gente tirasse sem que ele soubesse?
- O que? O filho?
- É... Seria melhor pra nós dois...
Ricardo definitivamente não queria aquele filho. E achava um absurdo o fato de Claudia ter engravidado. Suspeitava que tivesse feito de propósito, ou ainda, que ela estivesse inventando. O que não parecia, pois sabia quando estava inventando apenas a fitando nos olhos... E isso lhe deixava cada vez mais desesperado, enquanto Cláudia relutava:
- Por que seria melhor tirar?
- Você ainda estuda... Nem ao menos é formada! Tem que seguir os passos do seu irmão... Veja como ele é responsável... Competente... Já é até formado!
- Ah, meu filho... Agora não tem jeito. Se depender de mim, a gente casa! E ser como Marcelinho eu não quero. Nunca quis.
- Pois então fique sabendo que se depender de mim a gente não casa!
- Por que? Você não me ama?
- Amo, mas não é pra casar...
- Então não ama!
- Deixa eu te explicar: Eu não posso ter um filho, não posso!
- Por que não pode? Você é rico...
- É, mas eu não posso ter um filho, definitivamente! Você vai ter que tirar!
Mas Cláudia era ambiciosa... Esse filho era agora um trunfo e irredutivelmente ela afirmava:
- Eu não vou tirar, querido! Esqueça essa idéia... Essa criança vai nascer filho de homem rico!
- Então foi por isso...
- O que?
- Que aceitou ficar comigo...
- Pelo dinheiro? Jamais, isso veio em segundo lugar.
- Você é descarada, não é?
- Por que?
- Está me dizendo isso na cara...
Ao mesmo tempo em que Cláudia ficava ressentida com a recusa do namorado, ela se divertia por vê-lo, enfim, encurralado:
- Ai, você é demais... Também tenho que pensar no dinheiro, meu filho! Só por isso eu sou descarada? E você? Cheio de segredos com sua namorada... Não vai mesmo me contar?
- Não vou... Quer dizer, agora não sei...
- Hum... Já melhorou.
- Eu conto, mas só se você me prometer que vai tirar!
- Aí não... É meu filho!
- É meu também! E não o quero o mundo!
- Por que?
- Pra quê colocar uma criança no mundo? É tudo tão seco, tão duro, tão raso!
- Raso? Que nada! A vida é profunda, querido... É feliz, encantada... Ainda pra mais pra você que tem dinheiro!
E apesar da relutância, de todo jeito Ricardo tentava desanimá-la:
- É, mas um filho é danado! E dinheiro não nasce em pedra! Hoje sou rico, amanhã já não sei... Minha família passa por dificuldades. E pensa bem... Somos tão jovens!
- O que tem demais?
- Tem muita coisa... Já pensou na sua barriga? Nos seus peitos?
- O que tem?
- Vai ficar cheia de estrias... Na barriga e nos peitos! E ambos ficarão moles e caídos!
- O que tem, meu filho? Faço plástica!
- E na sua liberdade, já pensou? Não vai poder ir às festas... Nem aos bailes! Isso dinheiro não paga!
- Paga...
- Não, não paga não, viu?
- Paga! Serei chique! Contrato uma babá!
Ricardo estava certo de que Cláudia realmente estava grávida. Não seguraria por tanto tempo uma mentira. Quando contava uma, logo logo desmentia. Agora a coisa se tornara muito mais complicada, porque Cláudia queria, por fim da força, ter o filho que Ricardo não queria. Indignado com a atitude de Cláudia, Ricardo prosseguia:
- Então vai criar um filho com uma babá?
- Vou sim... Por que não?
- Você é mesmo uma irresponsável!
- Por que? Pelo filho?
- É sim... É... Pelo filho!
- Ah, querido... Somos ambos culpados! Não vai me contar seu segredo?
- Que segredo? Depois de uma bomba dessas... Não conto mais nada!
- Coitado!
- Sou mesmo! Um coitado!
- Quem mandou se meter a besta? Eu sou de família!
- Que família? Você mora na Lapa!
- E o que tem isso? Na Lapa não tem família?
- Nobre e rica?
- Nobre tem... Só não tem milionária!
- Então você quer mesmo ter o filho...
- Mais que tudo! Só tiraria se fosse de pobre!
Convicto de que não haveria saída para esse papo, Ricardo se rendeu:
- Está bem, então nós vamos ter o filho.
- Jura?
- Juro!
- E vamos casar?
- Vamos!
- Mas tem que ser na igreja! De véu e grinalda!
- Está bem... Mas só se me prometer uma coisa...
- O que?
- Vamos manter isto em segredo.
- Mas por que?
- Não gosto de alarde.
- Ah, sei... Por que? Por causa dos Papparazzi?
- É.
- Mas eu adoraria sair na revista, poxa! Ao lado da sua família... Não posso contar?
- Não, pelo menos por agora...
- Ai, está bem!
- Então vamos manter isso entre nós?
- Vamos.
- Então jura que nem sem pai!
- Nem meu pai!
- Nem seu irmão!
- Meu irmão?
- É.
- Mas meu irmão não tem problema. Você sabe... Marcelinho...
- Eu sei, mas mesmo assim. Nem ele!
- Está bem... Nem ele!
- Está bem então. Eu vou para casa. Preciso relaxar... Mais tarde te ligo!
- Mas está tão cedo...
- Não... Está tarde. Te ligo mais tarde.
- E o segredo? Vai me contar ou não?
- Ainda está cedo. Mas eu te conto, uma hora eu te conto...
- Está bem então, meu anjo. Vai com Deus então... Digere bem a notícia, tá? Papaizão!
Capítulo II
N
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a semana seguinte a que se passara da notícia-bomba de Cláudia, Ricardo a telefonara. Tinha sumido depois da notícia. Passaram horas no telefone conversando até marcarem então um encontro. Cláudia, enfim o esperava no ponto de ônibus, de frente ao convento Santo Antônio, na carioca, quando ele chegou e enfurecida, ela exalou:
- Eu só quero te dizer uma coisa: Isso não é coisa que se faça! Estou aqui há mais de duas horas esperando e você nada... Sem contar o telefonema, que só me deu depois de uma semana!
- Já lhe pedi desculpas... E o atraso foi o trânsito.
- Trânsito... Até parece que pegou um ônibus!?
- E peguei
- Você? Há... Duvido, meu filho!
- Peguei sim. Se você duvida, não posso fazer nada!
- E o segredo? Decidiu me contar?
- Decidi. Eu vou lhe contar.
- Então conta!
- Não agora.
- Meu Deus, mais que saco!
- O que?
- Essa coisa de não me contar!
- Você é muito curiosa.
- Você vai ser meu marido, esqueceu? Não podemos ter segredos!
- Calma! Eu vou lhe contar!
- Quando, meu filho? Quando?
- Quando você parar de me cobrar!
- Ai, tá bom... Tá... Já decidiu?
- O que?
- A data em que vamos nos casar?
- Ainda não.
- Nossa... Você é devagar! Até nisso é devagar!
Após o acontecido, no ponto de ônibus, os dois saíram e foram jantar. Dois dias depois Ricardo ligou para a casa dela: Falou um pouco com o irmão e com o pai. Ambos não sabiam de nada. Marcaram então de se encontrarem novamente e, desta vez, em outro lugar...
(Continua...)
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