APENAS MAIS UM NÚMERO (MERA ESTATÍSTICA)
POR JOEL MARINHO
Aquela era a casa dos seus sonhos, a qual Joana sonhara desde a adolescência, no entanto, depois que casou viu seus sonhos ir por água a baixo, diferente do que imaginara para seu casamento, mas seu marido Genival não era aquilo que prometera ser. Passou a beber demais, e nunca lutou no intuito de conseguir comprar um teto para ela e seus dois filhos, Nágila e Romeu.
O casamento durara apenas dez anos, foram muitos os sofrimentos, desde a privação de alimentos, as agressões verbais até as agressões físicas, as quais ela não aguentou e fugiu dali com suas duas crianças.
Agora distante em uma média cidade ela começou a trabalhar deixando seus dois filhos o dia todo em uma escola de tempo integral. Quando ali chegou Nágila que era a mais velha ia fazer nove anos, enquanto Romeu caminhava para os oito anos. Digamos que um já cuidava do outro se a mãe tivesse que se ausentar por alguns instantes quando precisava sair.
Durante alguns anos ela batalhou, nunca deixara faltar comida aos filhos, mas privou-se de viver um pouco mais, pois seu principal objetivo era comprar uma casa, um lugar para descansar a cabeça e viver em paz.
Passaram-se nove anos e na véspera da filha Nájila completar dezoito anos ela enfim conseguiu realizar o seu grande sonho, conseguiu negociar aquela casa simples, porém podia dizer que era dela.
No dia do aniversário fizeram uma pequena festa de comemoração, não apenas de aniversário, mas também pela grande benção alcançada, a casa.
Tudo caminhava bem, mas no meio da festa chegou aquele homem cambaleante e completamente bêbado que quase ninguém conhecia ali. Era Genival.
Nove anos depois sem notícias naquele momento de alegria Joana se reencontrava com o seu pior fantasma do passado.
Totalmente descontrolado Genival foi de encontro a Joana e o esfaqueou por três vezes caindo ali no chão da sala tão sonhada seu corpo desfalecendo jorrando sangue pelo peito.
Findava ali uma grande caminhada, a luta de uma mulher para criar os filhos e a covardia estampada nos olhos ensandecidos de um homem que de amor jamais soubera o significado.
Joana não foi para as capas dos grandes jornais. Saiu apenas uma nota em um jornaleco descrevendo a morte e esclarecendo que foi movida pelo ciúme de um caso não resolvido e mais nada.
Genival foi preso, cumpriu dez anos de regime fechado, mas saiu pela porta da frente por bom comportamento e Joana ficou esquecida pela História e pela sociedade, a não ser no registro policial daquela cidade com o número 62, o número de mais um caso de morte violenta em que o cônjuge acabou com a vida de sua/seu companheira/o naquele ano e estava apenas no mês de agosto.
Enfim, Joana virou mera estatística para um país manchado pelo sangue esguichando das mãos machistas.
POR JOEL MARINHO
Aquela era a casa dos seus sonhos, a qual Joana sonhara desde a adolescência, no entanto, depois que casou viu seus sonhos ir por água a baixo, diferente do que imaginara para seu casamento, mas seu marido Genival não era aquilo que prometera ser. Passou a beber demais, e nunca lutou no intuito de conseguir comprar um teto para ela e seus dois filhos, Nágila e Romeu.
O casamento durara apenas dez anos, foram muitos os sofrimentos, desde a privação de alimentos, as agressões verbais até as agressões físicas, as quais ela não aguentou e fugiu dali com suas duas crianças.
Agora distante em uma média cidade ela começou a trabalhar deixando seus dois filhos o dia todo em uma escola de tempo integral. Quando ali chegou Nágila que era a mais velha ia fazer nove anos, enquanto Romeu caminhava para os oito anos. Digamos que um já cuidava do outro se a mãe tivesse que se ausentar por alguns instantes quando precisava sair.
Durante alguns anos ela batalhou, nunca deixara faltar comida aos filhos, mas privou-se de viver um pouco mais, pois seu principal objetivo era comprar uma casa, um lugar para descansar a cabeça e viver em paz.
Passaram-se nove anos e na véspera da filha Nájila completar dezoito anos ela enfim conseguiu realizar o seu grande sonho, conseguiu negociar aquela casa simples, porém podia dizer que era dela.
No dia do aniversário fizeram uma pequena festa de comemoração, não apenas de aniversário, mas também pela grande benção alcançada, a casa.
Tudo caminhava bem, mas no meio da festa chegou aquele homem cambaleante e completamente bêbado que quase ninguém conhecia ali. Era Genival.
Nove anos depois sem notícias naquele momento de alegria Joana se reencontrava com o seu pior fantasma do passado.
Totalmente descontrolado Genival foi de encontro a Joana e o esfaqueou por três vezes caindo ali no chão da sala tão sonhada seu corpo desfalecendo jorrando sangue pelo peito.
Findava ali uma grande caminhada, a luta de uma mulher para criar os filhos e a covardia estampada nos olhos ensandecidos de um homem que de amor jamais soubera o significado.
Joana não foi para as capas dos grandes jornais. Saiu apenas uma nota em um jornaleco descrevendo a morte e esclarecendo que foi movida pelo ciúme de um caso não resolvido e mais nada.
Genival foi preso, cumpriu dez anos de regime fechado, mas saiu pela porta da frente por bom comportamento e Joana ficou esquecida pela História e pela sociedade, a não ser no registro policial daquela cidade com o número 62, o número de mais um caso de morte violenta em que o cônjuge acabou com a vida de sua/seu companheira/o naquele ano e estava apenas no mês de agosto.
Enfim, Joana virou mera estatística para um país manchado pelo sangue esguichando das mãos machistas.