Pai amoroso (Releitura do Filho pródigo)
Olhos marejados, cabelos brancos como a neve e rosto com marcas pela idade. Altura média, tipo físico magro e esperança na face tal qual de um jovem que projeta no futuro grandes e ambiciosos projetos. Este senhor com seus setenta anos mora com seus dois filhos e faz o possível para mostrar como ser um homem de bem, íntegro e trabalhador.
Nascido de uma família de poucos recursos, Leônidas, desde pequeno, soube o que era trabalho e nunca imaginou nem nos seus melhores sonhos que viria a ser quem é hoje, dono de uma pequena fazenda contando com sete pessoas para o trabalho, fora seus dois filhos.
Ser pai foi muitíssimo importante para ele, tendo em vista que antes era extremamente mulherengo e beberrão de modo que não haver contraído nenhuma DSTs fora um grande livramento dado por Deus, conforme hoje ele percebe. O primogênito tinha 24 anos e o caçula havia acabado de fazer 17. Eles são fruto da única mulher que amou de verdade em toda vida, contudo antes do nascimento do mais velho traía sua companheira causando profunda tristeza para ela.
Muitos o culparam da morte dela, há exatos dezessete anos, morte de parto, disseram os médicos, mas antes perguntaram para ela algo que só fora saber depois da escolha: "Um dos dois apenas irá viver. Você ou o menino. O que decide? " . "Ele. Nem tenho nos braços, mas já o amo como parte de mim. " Pouco tempo depois ela morre. E quem vai cuidar deste bebê? E ele, que até então era conhecido por gastar todo dinheiro conseguido com atividades que estavam fazendo dele procurado pela polícia, jogos de azar e brigas de galo, na farra com bebidas e mulheres, como irá sustentar, sozinho, dois meninos, um bebê recém nascido e uma criança de sete anos?
Tirando forças ele não sabe de onde (depois descobriu ter sido Deus), ele passa a trabalhar limpando roça. A dedicação era tanta, trabalhando de domingo a domingo para pagar uma pessoa para cuidar dos meninos que ele passa a ganhar confiança do fazendeiro, um homem sério, sem amigos e aparentemente sem família.
No mesmo ano, o dono da fazendo morre e, surpreendentemente, deixou-a de herança ao seu servo mais fiel. Contudo tão importante quanto foi a carta que o patrão havia deixado.
"Você foi a pessoa que me fez enxergar que a lealdade ainda existe. Não tenho amigos (os que de mim se aproximaram estavam de olho em minhas posses) e perdi meus parentes em uma calamidade faz sete anos (na época perguntava todos os dias o porquê de não ter ido com eles, hoje sei o motivo). Tive um sonho estranho... Que iria morrer por estes dias e você ficaria com a herança e seria um excelente administrador dela. Pois bem, boa sorte. Mas vai um conselho: Dê atenção aos seus filhos, se você continuar assim, quando eles crescerem ainda mais pode não haver
tempo e você pode perdê-los...
Atenciosamente,
Florêncio"
Começa a chorar, um misto de tristeza, por perceber o quanto só se preocupava com o sustento dos filhos, mas deixava a educação totalmente nas mãos de uma outra pessoa e ele não tinha acompanhado o crescimento dos meninos, um agora com 14 e o outro, com sete.
Também em sua cabeça veio o desejo de falar com alguém da justiça sobre esse inesperado bem...
Mas antes decidiu fazer o que precisaria ter feito há muito tempo...
Ao chegar cedo em casa, se assusta ao ver seus queridos filhos ajoelhados e também Maria, a ajudante. Eles balbuciavam palavras que Leônidas não conseguia entender.
"Mas que história é essa?" , pergunta furiosamente. "Não devemos nos ajoelhar para ninguém, só na missa para os santos, padre e Deus, estão ouvindo?" "Mas pai, fala o mais velho, estamos indo para a igreja quase todo o dia e costumamos ficar assim para conversar com Deus..."
"O que você anda ensinando para as crianças? " pergunta enfurecido."Vamos hoje com a gente.", pede o mais velho.
"Está bem, mas se eu não concordar com os ensinamentos de lá vocês nunca mais pisarão os pés em 'igreja de crente'".
Tinham passados alguns anos e o pai havia se tornado um fiel servo de Deus. Lá ele aprendeu como disciplinar e demonstrar o amor pelos filhos, a economizar, dizimar e ofertar, fato este que o tornou ainda mais próspero. E aprendeu, acima de tudo, a ter um relacionamento com Jesus. Também da importância de ocupar seus filhos. Assim eles começaram a ir para escola e ajudar na fazenda.
Porém, algo estranho acontecia.... Enquanto o mais velho mostrava interesse pela nova vida, o caçula aparentava tristeza, vazio, distância. O que poderá estar acontecendo?
Decide então orar e depois conversar com ele.
O menino não tinha chegado da escola. Leônidas retoma o serviço que faz há dezessete anos ininterruptos: retirar o leite da vaca, adubar a horta e dar ração para cada animal, além do apoio dos meninos, ele continua com os funcionários do Florêncio, seus antes colegas de trabalho.
Pensa em seus filhos, o mais velho parece uma cópia do pai, diziam, acordava às 3:00 ia dormir 20:00. Mas o mais novo... Sempre o via com o olhar distante como se não pertencesse aquele lugar. Também na igreja era assim...
Certo dia o pai vê um papel dobrado perto da cama e quase cai para trás... "Estou cansado dessa vida monótona de roça. Dê minha parte da herança porque irei me tornar um grande empresário no ramo de games.
Te amo, Miquéias"
Realmente o pai percebeu o vício do filho em vídeo game, não poucas vezes reclamou do tempo que o menino passava jogando ao invés de brincar de bola, empinar pipa ou algo mais comum entre crianças daquela região.
Ele começou a ficar com os olhos marejados, "mas onde foi que eu errei? pensava ele. Meu menino mais novo irá me abandonar e viver em um lugar perigoso. mas como ele se protegerá?"
Muito triste, ele separa o valor pedido pelo filho e entrega sem nem olhar nos olhos dele.
"Te amo coroa não é nada pessoal falou? Mas meu mundo não é aqui..."
O irmão mais velho observa de longe e, com muita raiva, fala consigo mesmo. "Vou trabalhar o dobro para ajudar meu pai e nunca mais falo com esse moleque... O pai vivo e ele matando nosso pai.", pensava e o ódio pelo irmão cada vez mais crescia...
"Nunca gostei da vida que levava", pensou Miquéias, "cheia de regras, horários e o certinho do Felipe cumpria todas". Sempre na escola e igreja ouvia que Felipe dava mais orgulho ao pai porque era obediente, educado, trabalhador e ele era preguiçoso, gostava de vídeo games de modo exagerado e não queria cumprir as obrigações. Então ouviu um conselho de seu melhor: "Você nunca vai ser feliz vivendo a vida chata de sua família. Peça sua parte da herança e vamos para a cidade grande, lá você vai se tornar um grande empresário em games e, quando melhorar, nem trabalhar você precisará mais."
Apesar de ter gostado muito da ideia, Miquéias não sabia como falar com seu pai. Decidiu então comprar cachaça escondido e, após ficar meio bêbado, escrever a carta...
Com o valor na mão, ele possuía milhares de planos, sonhos. Seu amigo disse que iria com ele, porém o esperou por quase uma hora no lugar combinado (rodoviária), percebendo que este demorava, decidiu viajar sozinho.
Salvador... Sempre ouvira falar na cidade, todavia imaginava ser um lugar muitíssimo grande e que pessoas nascidas e criadas na roça nunca iriam se adaptar. "Mas sou diferente, nasci no campo, contudo meu coração é de cidade grande".
Chegando lá, passa a frequentar bares, restaurantes sofisticados e decidiu ir em uma igreja também. Mas como no dia o pastor falava sobre "honrar e obedecer as autoridades", decidiu nunca mais pisar os pés em uma. Viu que ficar em hotel ia consumir boa parte de seu dinheiro então passa a ir morar em albergues.
O que ele não esperava era que em toda loja de game que ele ia buscar emprego a exigência era a mesma: "Necessário concluir o ensino médio." Estava na sexta série porque repetira de ano por diversas vezes. Nunca imaginou que o estudo serviria para algo...
Irritado por mais uma vez ter as "portas fechadas", decidiu frequentar um bar e todos os dias bebia e fumava de forma descontrolada. Começou a ter "amigos", os quais se aproximavam, bajulando-o e ele passou a pagar as contas de todos. "Tenho mais dinheiro que eles, fora que, se eu precisar, irão me ajudar também." Vivendo pouco mais de três meses dessa forma, sem saber como, Miquéias passa a mendigar e viver nas ruas. Havia se viciado em bebida alcoólica e percebeu que seu dinheiro havia acabado...
"Como meu irmão foi capaz de agir assim?" pensa Felipe. O mais velho passou a dormir 22:00 para tentar suprir a falta da mão de obra de Miquéias e dar mais alegria ao pai. E Felipe continua a se perguntar:
"Como será que ele está vivendo? Sabe de uma, ele vai pagar. Papai nunca irá perdoá-lo e ele vai 'quebrar a cara', sei que vai...."
E então o mais velho passa a lembrar da vida quando novo. Tinha a atenção e cuidado da mãe até os sete anos. Antes do nascimento do seu irmão e a morte da mãe de parto ele pouco via o pai. Muitos falavam mal dele, dizendo que não sabia aproveitar a boa companheira que tinha. Ele era muito novo, contudo lembra-se de como tinha que ir com a mãe pedir dinheiro na rua quando ela não conseguia fazer faxina e eles tinham necessidade de comer. Percebeu que quando chorava pedindo comida, depois de um breve tempo vinha um feijão, banana ou pão com manteiga e como devorava com prazer o alimento... Mas depois ouvia o ronco da barriga da mãe e ouvia sussurros de choro, bem baixinho e discreto, quase inaudível...
Agora, já crescido, percebera todo o sacrifício que sua amada mãe fez. Ela está no céu com Cristo - tal pensamento causava uma tranquilidade maior nele. Apesar de todo amor e saudade (infelizmente o pai era muito reservado, muito concentrado no trabalho, de modo que eles só conversavam o essencial. Que falta lhe fazia ela. Sofria três vezes por causa de Miquéias, a primeira pela morte de parto da mãe e agora pela tristeza do pai e a saudade do irmão...
"Preciso lutar pela minha família, pelo meu filho.", pensou Leônidas. Ele chama seu primogênito para orar pelo seu irmão, ao passo que ele responde:
"Estou cansado, vou acordar cedo para trabalhar amanhã."
Então Leônidas passa a orar e jejuar pelo filho de forma constante. Também volta a frequentar a casa dos irmãos, ir aos cultos e a buscar sempre ter no coração um antigo louvor "Ainda que a figueira não floresça e a vide não dê o seu fruto...Não olho as circunstâncias, olho o seu amor, não me guio por vistas, alegre estou..."
Apesar de estar passando por esta prova, à medida que colocava diante de Deus, a paz ia invadindo o coração e ser do pai, o que impressionava seus funcionários e seu filho mais velho, os quais não o viam com tamanha disposição e alegria, ainda mais pelo que estava passando... Pois creio que, como diz o louvor,"não morrerei enquanto o Senhor não cumprir pra mim todos os planos que Ele mesmo sonhou pra mim..."
Passados dois anos, Felipe passou a se voltar mais para Deus mediante a tamanha transformação do pai... Ele também percebera que precisava perdoar e amar seu irmão. O batismo de Felipe estava marcado para dentro de dez dias e ele e o pai estavam animados porque o batismo não era um simples símbolo ou ritual, mas era a morte carnal para o nascimento na água e espírito de um homem "revestido de Cristo"
No dia anterior ao batismo...
"O que estou fazendo aqui? Os empregados de meu pai e até os animais estão melhores que eu... Mas será que serei aceito de volta" Depois de tudo o que eu fiz... Se eu fosse meu pai nunca me perdoaria, mas meu pai, um crente direito mesmo, creio que ao menos pode me tratar como seu escravo e eu comer direitinho...
Ele começa a chorar arrependido de tudo que tinha feito... Da fuga, da decepção que deu ao pai, do sacrifício da mãe por ele e a tristeza, principalmente de Felipe, pois depois descobriu que a falecida mãe e seu irmão eram muito ligados...
Tentou criar coragem, ensaiou sua fala algumas vezes, tremendo de vergonha, de medo de ser abandonado ou retribuído com a "mesma moeda"... Depois de dias andando, suou ainda mais e dias sem banho evidenciavam o estado em que Miquéias estava..."
Prestes a chegar na fazenda, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.
O filho lhe disse: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho."
Eles choraram muitíssimo, abraçados. Felipe ouviu o choro de tão alto que era e, ao ver o irmão, movido pela inveja, começou a falar ironicamente:
Mas quem voltou... O filhinho do papai e como está, chega cheirando mal... Poderia me dar um autógrafo, empresário Miquéias? (Começa a rir e sai)
"Espera um pouco, filhinho.", pede o pai para o mais novo.
"Felipe, preciso conversar com você."
"O que foi?!!!" , grita emburrado o primogênito.
Leônidas também chama Miquéias e conta diversas histórias do Novo Testamento, em especial a parábola da ovelha perdida e do credor compassivo. Antes de contar a parábola do filho pródigo, os filhos já percebem aonde ele queria chegar e, emocionados, se abraçam e perdem perdão um ao outro.
O pai chama os empregados e faz uma festa para os dois filhos porque ele haviam se perdido e foram encontrados...
Olhos marejados, cabelos brancos como a neve e rosto com marcas pela idade. Altura média, tipo físico magro e esperança na face tal qual de um jovem que projeta no futuro grandes e ambiciosos projetos. Este senhor com seus setenta anos mora com seus dois filhos e faz o possível para mostrar como ser um homem de bem, íntegro e trabalhador.
Nascido de uma família de poucos recursos, Leônidas, desde pequeno, soube o que era trabalho e nunca imaginou nem nos seus melhores sonhos que viria a ser quem é hoje, dono de uma pequena fazenda contando com sete pessoas para o trabalho, fora seus dois filhos.
Ser pai foi muitíssimo importante para ele, tendo em vista que antes era extremamente mulherengo e beberrão de modo que não haver contraído nenhuma DSTs fora um grande livramento dado por Deus, conforme hoje ele percebe. O primogênito tinha 24 anos e o caçula havia acabado de fazer 17. Eles são fruto da única mulher que amou de verdade em toda vida, contudo antes do nascimento do mais velho traía sua companheira causando profunda tristeza para ela.
Muitos o culparam da morte dela, há exatos dezessete anos, morte de parto, disseram os médicos, mas antes perguntaram para ela algo que só fora saber depois da escolha: "Um dos dois apenas irá viver. Você ou o menino. O que decide? " . "Ele. Nem tenho nos braços, mas já o amo como parte de mim. " Pouco tempo depois ela morre. E quem vai cuidar deste bebê? E ele, que até então era conhecido por gastar todo dinheiro conseguido com atividades que estavam fazendo dele procurado pela polícia, jogos de azar e brigas de galo, na farra com bebidas e mulheres, como irá sustentar, sozinho, dois meninos, um bebê recém nascido e uma criança de sete anos?
Tirando forças ele não sabe de onde (depois descobriu ter sido Deus), ele passa a trabalhar limpando roça. A dedicação era tanta, trabalhando de domingo a domingo para pagar uma pessoa para cuidar dos meninos que ele passa a ganhar confiança do fazendeiro, um homem sério, sem amigos e aparentemente sem família.
No mesmo ano, o dono da fazendo morre e, surpreendentemente, deixou-a de herança ao seu servo mais fiel. Contudo tão importante quanto foi a carta que o patrão havia deixado.
"Você foi a pessoa que me fez enxergar que a lealdade ainda existe. Não tenho amigos (os que de mim se aproximaram estavam de olho em minhas posses) e perdi meus parentes em uma calamidade faz sete anos (na época perguntava todos os dias o porquê de não ter ido com eles, hoje sei o motivo). Tive um sonho estranho... Que iria morrer por estes dias e você ficaria com a herança e seria um excelente administrador dela. Pois bem, boa sorte. Mas vai um conselho: Dê atenção aos seus filhos, se você continuar assim, quando eles crescerem ainda mais pode não haver
tempo e você pode perdê-los...
Atenciosamente,
Florêncio"
Começa a chorar, um misto de tristeza, por perceber o quanto só se preocupava com o sustento dos filhos, mas deixava a educação totalmente nas mãos de uma outra pessoa e ele não tinha acompanhado o crescimento dos meninos, um agora com 14 e o outro, com sete.
Também em sua cabeça veio o desejo de falar com alguém da justiça sobre esse inesperado bem...
Mas antes decidiu fazer o que precisaria ter feito há muito tempo...
Ao chegar cedo em casa, se assusta ao ver seus queridos filhos ajoelhados e também Maria, a ajudante. Eles balbuciavam palavras que Leônidas não conseguia entender.
"Mas que história é essa?" , pergunta furiosamente. "Não devemos nos ajoelhar para ninguém, só na missa para os santos, padre e Deus, estão ouvindo?" "Mas pai, fala o mais velho, estamos indo para a igreja quase todo o dia e costumamos ficar assim para conversar com Deus..."
"O que você anda ensinando para as crianças? " pergunta enfurecido."Vamos hoje com a gente.", pede o mais velho.
"Está bem, mas se eu não concordar com os ensinamentos de lá vocês nunca mais pisarão os pés em 'igreja de crente'".
Tinham passados alguns anos e o pai havia se tornado um fiel servo de Deus. Lá ele aprendeu como disciplinar e demonstrar o amor pelos filhos, a economizar, dizimar e ofertar, fato este que o tornou ainda mais próspero. E aprendeu, acima de tudo, a ter um relacionamento com Jesus. Também da importância de ocupar seus filhos. Assim eles começaram a ir para escola e ajudar na fazenda.
Porém, algo estranho acontecia.... Enquanto o mais velho mostrava interesse pela nova vida, o caçula aparentava tristeza, vazio, distância. O que poderá estar acontecendo?
Decide então orar e depois conversar com ele.
O menino não tinha chegado da escola. Leônidas retoma o serviço que faz há dezessete anos ininterruptos: retirar o leite da vaca, adubar a horta e dar ração para cada animal, além do apoio dos meninos, ele continua com os funcionários do Florêncio, seus antes colegas de trabalho.
Pensa em seus filhos, o mais velho parece uma cópia do pai, diziam, acordava às 3:00 ia dormir 20:00. Mas o mais novo... Sempre o via com o olhar distante como se não pertencesse aquele lugar. Também na igreja era assim...
Certo dia o pai vê um papel dobrado perto da cama e quase cai para trás... "Estou cansado dessa vida monótona de roça. Dê minha parte da herança porque irei me tornar um grande empresário no ramo de games.
Te amo, Miquéias"
Realmente o pai percebeu o vício do filho em vídeo game, não poucas vezes reclamou do tempo que o menino passava jogando ao invés de brincar de bola, empinar pipa ou algo mais comum entre crianças daquela região.
Ele começou a ficar com os olhos marejados, "mas onde foi que eu errei? pensava ele. Meu menino mais novo irá me abandonar e viver em um lugar perigoso. mas como ele se protegerá?"
Muito triste, ele separa o valor pedido pelo filho e entrega sem nem olhar nos olhos dele.
"Te amo coroa não é nada pessoal falou? Mas meu mundo não é aqui..."
O irmão mais velho observa de longe e, com muita raiva, fala consigo mesmo. "Vou trabalhar o dobro para ajudar meu pai e nunca mais falo com esse moleque... O pai vivo e ele matando nosso pai.", pensava e o ódio pelo irmão cada vez mais crescia...
"Nunca gostei da vida que levava", pensou Miquéias, "cheia de regras, horários e o certinho do Felipe cumpria todas". Sempre na escola e igreja ouvia que Felipe dava mais orgulho ao pai porque era obediente, educado, trabalhador e ele era preguiçoso, gostava de vídeo games de modo exagerado e não queria cumprir as obrigações. Então ouviu um conselho de seu melhor: "Você nunca vai ser feliz vivendo a vida chata de sua família. Peça sua parte da herança e vamos para a cidade grande, lá você vai se tornar um grande empresário em games e, quando melhorar, nem trabalhar você precisará mais."
Apesar de ter gostado muito da ideia, Miquéias não sabia como falar com seu pai. Decidiu então comprar cachaça escondido e, após ficar meio bêbado, escrever a carta...
Com o valor na mão, ele possuía milhares de planos, sonhos. Seu amigo disse que iria com ele, porém o esperou por quase uma hora no lugar combinado (rodoviária), percebendo que este demorava, decidiu viajar sozinho.
Salvador... Sempre ouvira falar na cidade, todavia imaginava ser um lugar muitíssimo grande e que pessoas nascidas e criadas na roça nunca iriam se adaptar. "Mas sou diferente, nasci no campo, contudo meu coração é de cidade grande".
Chegando lá, passa a frequentar bares, restaurantes sofisticados e decidiu ir em uma igreja também. Mas como no dia o pastor falava sobre "honrar e obedecer as autoridades", decidiu nunca mais pisar os pés em uma. Viu que ficar em hotel ia consumir boa parte de seu dinheiro então passa a ir morar em albergues.
O que ele não esperava era que em toda loja de game que ele ia buscar emprego a exigência era a mesma: "Necessário concluir o ensino médio." Estava na sexta série porque repetira de ano por diversas vezes. Nunca imaginou que o estudo serviria para algo...
Irritado por mais uma vez ter as "portas fechadas", decidiu frequentar um bar e todos os dias bebia e fumava de forma descontrolada. Começou a ter "amigos", os quais se aproximavam, bajulando-o e ele passou a pagar as contas de todos. "Tenho mais dinheiro que eles, fora que, se eu precisar, irão me ajudar também." Vivendo pouco mais de três meses dessa forma, sem saber como, Miquéias passa a mendigar e viver nas ruas. Havia se viciado em bebida alcoólica e percebeu que seu dinheiro havia acabado...
"Como meu irmão foi capaz de agir assim?" pensa Felipe. O mais velho passou a dormir 22:00 para tentar suprir a falta da mão de obra de Miquéias e dar mais alegria ao pai. E Felipe continua a se perguntar:
"Como será que ele está vivendo? Sabe de uma, ele vai pagar. Papai nunca irá perdoá-lo e ele vai 'quebrar a cara', sei que vai...."
E então o mais velho passa a lembrar da vida quando novo. Tinha a atenção e cuidado da mãe até os sete anos. Antes do nascimento do seu irmão e a morte da mãe de parto ele pouco via o pai. Muitos falavam mal dele, dizendo que não sabia aproveitar a boa companheira que tinha. Ele era muito novo, contudo lembra-se de como tinha que ir com a mãe pedir dinheiro na rua quando ela não conseguia fazer faxina e eles tinham necessidade de comer. Percebeu que quando chorava pedindo comida, depois de um breve tempo vinha um feijão, banana ou pão com manteiga e como devorava com prazer o alimento... Mas depois ouvia o ronco da barriga da mãe e ouvia sussurros de choro, bem baixinho e discreto, quase inaudível...
Agora, já crescido, percebera todo o sacrifício que sua amada mãe fez. Ela está no céu com Cristo - tal pensamento causava uma tranquilidade maior nele. Apesar de todo amor e saudade (infelizmente o pai era muito reservado, muito concentrado no trabalho, de modo que eles só conversavam o essencial. Que falta lhe fazia ela. Sofria três vezes por causa de Miquéias, a primeira pela morte de parto da mãe e agora pela tristeza do pai e a saudade do irmão...
"Preciso lutar pela minha família, pelo meu filho.", pensou Leônidas. Ele chama seu primogênito para orar pelo seu irmão, ao passo que ele responde:
"Estou cansado, vou acordar cedo para trabalhar amanhã."
Então Leônidas passa a orar e jejuar pelo filho de forma constante. Também volta a frequentar a casa dos irmãos, ir aos cultos e a buscar sempre ter no coração um antigo louvor "Ainda que a figueira não floresça e a vide não dê o seu fruto...Não olho as circunstâncias, olho o seu amor, não me guio por vistas, alegre estou..."
Apesar de estar passando por esta prova, à medida que colocava diante de Deus, a paz ia invadindo o coração e ser do pai, o que impressionava seus funcionários e seu filho mais velho, os quais não o viam com tamanha disposição e alegria, ainda mais pelo que estava passando... Pois creio que, como diz o louvor,"não morrerei enquanto o Senhor não cumprir pra mim todos os planos que Ele mesmo sonhou pra mim..."
Passados dois anos, Felipe passou a se voltar mais para Deus mediante a tamanha transformação do pai... Ele também percebera que precisava perdoar e amar seu irmão. O batismo de Felipe estava marcado para dentro de dez dias e ele e o pai estavam animados porque o batismo não era um simples símbolo ou ritual, mas era a morte carnal para o nascimento na água e espírito de um homem "revestido de Cristo"
No dia anterior ao batismo...
"O que estou fazendo aqui? Os empregados de meu pai e até os animais estão melhores que eu... Mas será que serei aceito de volta" Depois de tudo o que eu fiz... Se eu fosse meu pai nunca me perdoaria, mas meu pai, um crente direito mesmo, creio que ao menos pode me tratar como seu escravo e eu comer direitinho...
Ele começa a chorar arrependido de tudo que tinha feito... Da fuga, da decepção que deu ao pai, do sacrifício da mãe por ele e a tristeza, principalmente de Felipe, pois depois descobriu que a falecida mãe e seu irmão eram muito ligados...
Tentou criar coragem, ensaiou sua fala algumas vezes, tremendo de vergonha, de medo de ser abandonado ou retribuído com a "mesma moeda"... Depois de dias andando, suou ainda mais e dias sem banho evidenciavam o estado em que Miquéias estava..."
Prestes a chegar na fazenda, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou.
O filho lhe disse: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho."
Eles choraram muitíssimo, abraçados. Felipe ouviu o choro de tão alto que era e, ao ver o irmão, movido pela inveja, começou a falar ironicamente:
Mas quem voltou... O filhinho do papai e como está, chega cheirando mal... Poderia me dar um autógrafo, empresário Miquéias? (Começa a rir e sai)
"Espera um pouco, filhinho.", pede o pai para o mais novo.
"Felipe, preciso conversar com você."
"O que foi?!!!" , grita emburrado o primogênito.
Leônidas também chama Miquéias e conta diversas histórias do Novo Testamento, em especial a parábola da ovelha perdida e do credor compassivo. Antes de contar a parábola do filho pródigo, os filhos já percebem aonde ele queria chegar e, emocionados, se abraçam e perdem perdão um ao outro.
O pai chama os empregados e faz uma festa para os dois filhos porque ele haviam se perdido e foram encontrados...