Desventuras de Um Técnico - Temporada 2016 - Parte III - De Novo Um Pênalti
Assim que cheguei a Istambul, tomei nota do que estava acontecendo mais profundamente no futebol turco e fiquei surpreso com o grupo difícil que enfrentaríamos na França com a Espanha e a atual campeã do mundo, a Alemanha.
O objetivo era conseguir chegar nos mata-matas da Eurocopa e percebi que precisava montar uma seleção forte na defesa e um meio-campo mais criativo.
Entre os jogadores que convoquei estavam Arda Turan, Calhanoglu e especialmente Mustafa Pektemek que teve um papel de impacto no torneio.
No entanto, cometi um grave erro ao convocar dois jogadores abaixo de 18 anos o que diminuiu muito as opções no banco de reservas.
Chegamos a Bordeaux com baixas expectativas de passar de fase de acordo com as revistas especializadas, o que para nós foi um bom sinal.
Começamos vencendo a Eslováquia por 4 x 2 em uma ótima atuação de Pektemek que fez dois gols e arrancamos um empate na raça contra a Alemanha onde Pekmetek fez novamente jus a sua fama.
No entanto, Unsum fez dois inacreditáveis gols contra impedindo que o empate se transformasse em uma vitória ainda mais incrível.
Bastava empatar com a Espanha para que o objetivo se concretizasse.
Fizemos mais do que isso.
Suportamos uma pressão infernal dos espanhóis e Erdogan fez o gol da vitória em um raro contra-ataque no fim do jogo usando sua velocidade.
Foi uma festa, amigo!! Não só conseguimos a classificação como ainda terminamos em primeiro do grupo superando todas nossas expectativas.
No entanto, recebemos um presente de grego (literalmente!!) vindo do outro grupo.
A Grécia estava com a classificação nas mãos e cedeu o empate a Itália nos últimos minutos permitindo que a Inglaterra se classificasse para nos enfrentar nas quartas-de-final.
E sabia muito bem que esse time seria indigesto para nós.
* * *
Como o imaginado, foi uma das partidas mais belas e trágicas que já vivenciei.
Meus rapazes entraram bem no jogo e criaram chances pra sair a frente do marcador.
Foi então que veio o pênalti que mudou o jogo.
Babel foi derrubado na área e Pektemek pediu pra bater. Ele bateu bem no canto mas Joe Hart fez jus a fama e defendeu a cobrança, acabando com nosso psicológico.
Pra mim, foi uma sensação de deja vu. Lembrei-me de Reinaldo contra o São José e vi minha sina se repetir.
Aproveitando-se disso, Rooney fez o gol no final do primeiro tempo ao seu estilo de finalizador.
Resolvi arriscar tudo colocando Erdogan como falso ponta e pedi calma aos rapazes com relação aos passes.
Deu certo. Colocamos os ingleses nas cordas e alcançamos o empate bem merecido em uma cabeçada de Babel depois de boa jogada de Erdogan.
Estávamos bem perto de uma virada, mas em um descuido de nossa zaga, Wilson chutou de bico e fez o gol que nos eliminou da Eurocopa.
Foi cruel o que aconteceu conosco, mas a torcida reconheceu nosso esforço e nos aplaudiu pelo desempenho acima da média.
Mas, ao contrário das críticas e vaias na Copa América, tive três motivos para comemorar:
Primeiro, fui recebido como um herói nacional pelo desempenho surpreendente que tivemos e meus rapazes tiveram contato com a torcida que os incensou como heróis.
Segundo, pelo fato de que o grupo que pegamos era mesmo complicado com a Alemanha confirmando minha teoria ao levar o título do torneio contra a mesma Inglaterra.
E finalmente porque Mustafa Pektemek foi um dos artilheiros da Eurocopa ao lado de Wilson com quatro gols.
A estada na Turquia foi uma ótima experiência pra mim que abriu portas para futuras oportunidades com seleções valorizando ainda mais meu trabalho.
Mas agora era o momento de voltar a Serra Gaúcha e prosseguir com meu trabalho no Caxias rumo a outra campanha memorável.
A de levar os grenás a Série B após 11 anos.
CONTINUA...