CENA DOMINGUEIRA
Sentada no sofá da sala, a senhora lê compenetrada o livro novo. De repente, para e vai até a janela. Ao olhar para baixo descobre o motivo da sua agitação. Não sabe explicar como, mas costuma sentir quando aquela pessoa especial está por perto.
Lá embaixo está Dora, sua netinha querida, com um lindo balão nas mãos. Os olhos da anciã se enchem d’água. Sua vontade é sair porta fora, pegar o elevador, abrir o portão e buscar o abraço tão esperado, contudo, sabe que isso não pode fazer. Tem que respeitar as benditas regras do isolamento social.
Ela está cansada de estar em casa, só vendo as amigas pelo celular. Não pode ir ao shopping, sair para almoçar, ver um filme ou viajar.
Eta saudade danada que aperta seu coração. Disfarça e enxuga as lágrimas, pois precisa parecer estar bem. Abre seu melhor sorriso, acena para o filho amado, joga um beijo para a pequenina. Lá vão eles a passear com o totó pelo quarteirão.
A senhora volta a sentar no sofá, enxuga as lágrimas que teimam em rolar, engole o soluço e repete pela enésima vez:
_ Isso vai passar!