Contos da Terra

A FESTA

Todos os convidados imergiam apetitosos cheiros numa roda que dava acesso à mesa do DJ. Aprumados numa camuflagem aparente, só a música kuduro poderia abolir as vaidades no decurso daquela tarde-noite. Deveras, já estava plácida a lua, pois à tarde é que se engolia a sua aflição mais humana possível. Algum dia os mares irão reclamar de tanto a gente cuspir mágoas a ele sempre que pode. Sabia-se o que rezava a tradição sobre aniversários. Entretanto, como dizem os sábios “a fé unge o viciado”, o jovem teve pensamentos ousados… Lá se foi à comemoração.

Mwalwa já estava assaz contente, porquanto sabia que seus amigos eram bastantes sérios. Afinal, eram 25 anos de convivência. No quintal da casa, a dança era de saltar até aos céus, tinha-se a companhia de umas boas cassetes dos Lambas, dança do 4 era imparável. Veio o seu velho amigo Mussumar, com quem já apanhava as injecções das aventuras nos aventados quartéis e, num tom já de banir o gajo, a jovem questionou:

— Mas ó seu velho amigo barrigudo, não te vejo com alegrias nos braços nem nas costas… Que estás a pensar tu, homem?

Como era boda no bairro da kamba mais antiga de António Mussumar, o tempo era imperioso na orientação de um carnaval material. Ninguém poderia levar ao presente as quedas que tiveram nas suas economias, era logo “tunda daqui” o punir. Pragmatismo existe então como ciência dos oradores. Não havia alternativas à ponta nem da sua boca, nem do seu pensamento e ele respondeu à pergunta que não tinha costelas suficientes para tal peso suportar, porque também fora abrangido pela visita inóspita, ou seja, estava com um fato limpo, emprestado de seu amigo Caimbo, no entanto de bolsos falidos, com contas bancárias poluídas de ventos e poeiras do Casimbo. Foi que, segundos adiante, o jovem viu o seu pé já fora do famoso quintal verde. Sabia ele o que levara a sua amiga a vedar o apetite da festa. Veio uma música após outra, veio a noite, veio o sono, já era hora do expediente.

Pooeta Ximbulikha,

in Contos da Terra

Salvador de Jesus Ximbulikha
Enviado por Salvador de Jesus Ximbulikha em 07/06/2020
Reeditado em 07/06/2020
Código do texto: T6970233
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