197 - Quarentena
O mundo é vasto mas a casa pequena. Depois do divórcio quis uma cama estreita muito para ganhar espaço e muito porque o sono de um homem acontece em qualquer cama sem precisão de rolar à procura do que não está. Na primeira noite caiu mas nas seguintes, sempre que o corpo chegava à fronteira, quase a cair para o tapete, acordava. Aprendeu o subconsciente a largura do leito e daí para a frente nunca mais caiu, nunca mais sonhou sem a barreira que ultrapassada dava em queda. Digamos que os sonhos eram limitados mas a liberdade não. Não havia vírus, saia e rodava por onde lhe apetecia, juntava-se ou não a quem queria. Depois que caiu sentiu o corpo a cama estreita e, por causa disso, os sonhos ficaram sem rasgo. Nunca mais voou, nunca mais viu a cidade em tempo de surrealismo mágico, tão pouco vieram todas as do alterne saudá-lo à entrada do Bar. Agora eram sonhos fracos quando os tinha ou daqueles que um minuto de olhos abertos e já se não lembram. Ontem, porém, foi diferente. Anunciaram o fim do pesadelo porque acharam cura para o mal e a vacina, aos milhões de unidades, era dada a quem queria. E ele fez a festa sozinho, bebeu para comemorar o fim do degredo, ajeitou-se no melhor fato, perfumou-se atrás das orelhas e, sorriso aberto, correu para o Bar. Estavam lá todas e todas o queriam e ele, o mais amado, feliz e livre como um pássaro ... voltou a cair da cama.