TIA FEIA - Capítulo 4 - Tia Feia

Divina Celeste Policarpo Santos, nascida Divina Celeste Silva Santos, era a mais velha de um total de treze filhos. Depois que meus avós morreram, ela que tomou conta dos irmãos. Era linha dura e exercia grande influência em toda família. Ordenava como um capitão aos seus submissos marujos, sempre se impondo e estabelecendo os limites entre o certo e errado, se considerava a portadora e voz exclusiva da verdade, era a referência que todos deviam seguir. Minha mãe mesmo, quando a recebia, ficava atônita e não agia naturalmente, uma mistura de medo e admiração.

Tia Celeste possuía uma energia negativa e um mau humor que lhe era próprio, mas há um caractere especialmente particular em sua vida: ela era feia, muito feia, a mulher mais feia do bairro e não seria exagero dizer que ela era a mulher mais feia do continente. Mirar a sua face por alguns segundos poderia gerar asco e até depressão. Para evitar qualquer inconveniente e incomodo com o leitor, digo que a maiorias dos seus atributos físicos eram negativos e percebidos como inferiores, agora, fantasie como quiser. Some sua feiura a sua personalidade arrogante, desmedida e inconveniente, pronto, temos um monstro! Mas a natureza não foi totalmente injusta com Celeste, apenas uma coisa lhe era bonita, seus olhos azuis, tão azul quanto o céu, ainda assim, é necessário algum esforço para percebê-los como belos, pois, assim como não julgamos Machado de Assis por uma linha ou Van Gogh por uma forma, o belo deve estar na harmonia de todo conjunto. Você pode argumentar que a beleza está nos atos, no comportamento e nas qualidades internas do indivíduo, eu também concordo, mas para isso é necessário investir algum tempo e dedicação, que no caso de tia Celeste, é a eternidade.

Qualquer um apostaria que ela terminaria sozinha, mas para nossa surpresa, com mais de quarenta anos, descobriu Rodrigo, que era seu oposto: homem muito bonito, inteligente e educado. Tio Rodrigo era um verdadeiro galã e conseguia chamar atenção não apenas pela aparência, mas também pelo seu jeito pacificador e caridoso. Um homem perfeito! Mas contrariando a racionalidade estética e do bom gosto, apenas um par olhos lhe fisgou como um peixe.

Namoraram pouco e rapidamente se casaram como mandam os procedimentos da igreja. A velocidade do evento foi compreensível, uma vez que tia Celeste só tinha um bilhete e passagem só de ida para matrimônio, se perdesse o embarque, morreria no cais. Agora, se antes era insuportável, o casamento lhe deu ar de superioridade e não havia nada que pudesse lhe desestabilizar, pois Rodrigo era sua âncora.

Não tiveram filhos, não sabemos se devido à sua avançada idade ou se era estéril, então tiveram uma relação exclusiva, em que um pertencia ao outro. Naturalmente depois que me distanciei, soube apenas de fofocas e relatos, todos negativos. Penso que como era sabida nossa inimizade, as pessoas só me traziam notícias enviesadas e propositalmente exageradas, mas sempre as recebi com prudência e ponderação. Mas não será um exagero e nem desonesto se disser que havia nesse casamento uma relação de controle e assédio por parte de tia Celeste. Talvez para manter a pose de durona, demonstrava uma frieza e formalidade exagerada com o seu marido. Dava-lhe ordens e lhe explorava como um qualquer. Já o oposto acontecia com Rodrigo, eram comuns demonstrações de afeto e carinho, tanto que ele lhe chamava de “Minha Divina”. Uma admiração sinistra, não homem e mulher, mas como o artista e seu fã, chegando a ser irritante com o tempo. Essa grande paixão uma vez foi testada no dia em que brigamos. Capítulo que já podes ser contado, pois agora já tens bagagem e conhecimento para atravessar a fronteira e descobri-lo.

Cristiano Oliveira Santos
Enviado por Cristiano Oliveira Santos em 20/05/2020
Código do texto: T6952569
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