A MISTERIOSA ESTRADA DA VIDA

Era uma bela manhã de quarta-feira, assim como qualquer dia… eis que caminhava, numa estrada totalmente movimentada, parecia uma festa ao ar livre... o que não percebia era que tipo de festa era, pois nem todos estavam alegres, havia alguns que estavam tristes, outros chorando, alguns rindo, alguns dançando, em suma, uma festa meramente complicada.

O clima estava nublado, fazia-se primavera, estação provavelmente mais movimentada que as outras, a estrada estava cheia de gente, havia música, dança, choros e outros, o que tornava a estrada mais misteriosa do que uma qualquer que já presencia.

Eu observava a cada cenário que se passava, tentando entender o que era, continuei caminhando e foi então que encontrei algo que tanto me espantou, um velhinho, que apresentava ter setenta e poucos anos, tinha os cabelos brancos, olhos escuros e a sua pele era negra, estava sentado num dos passeios da estrada, e na sua mão direita havia um livro aberto... Focalizado nos meus instintos e o que o coração me dizia, aproximei-me do velhinho e sentei-me naquele passeio, Ele olhou para mim, estupendo disse:

- Oh meu jovem! O que fazes aqui, com vários outros lugares?

- Estou sendo guiado pelo meu coração, visto que há tantos lugares, mas o coração mandou-me aqui. – Respondi.

Não sei qual era o intuito do velho ao fazer a pergunta.

O velhinho olhou para mim e logo disse:

- Boa escolha, seja bem-vindo e sinta-te livre!

Após as palavras do velhinho, Ele continuou lendo o seu livro, mas até ao momento Eu não entendia o motivo da presença do velhinho naquela festa complicada, precisava de uma explicação sobre o tipo de festa que se passava, foi então que resolvi matar a curiosidade, mas antes de dizer qualquer coisa, parecia que o velhinho via a minha preocupação e entendia que Eu precisava de alguma coisa, parecia ler os meus pensamentos, então Ele mesmo disse para mim:

- Meu filho, vejo que estás com um monte de dúvidas, o que se passa?

- Tens razão vovô, não consigo perceber o que realmente se passa nesta larga estrada, está uma grande festa, mas nem todos festejam, isto está me deixando confuso! O que é isto?

O velhinho não respondeu em seguida, ainda continuava lendo o seu livro... passaram-se alguns minutos e ninguém dizia nada, o velhinho parou com a leitura, voltou-se para mim e disse:

- Meu jovem, esta é uma festa totalmente diferente de todas as festas, pois não se trata de uma festa qualquer, nesta há vários momentos num único momento, há casos incompreensíveis num único caso, vários mistérios num único mistério... tanto a estrada que vês, não é uma estrada qualquer, nem os chineses conseguem construi e reconstruí-la quando se desabar...

Enquanto o velhinho tentava explicar, mais confuso a cada vez mais Eu ficava, o velhinho não parou por aí... prosseguiu:

- Muitos querem uma resposta directa, mas não há uma resposta directa, sem o uso de pequenas parábolas.

Eu ainda confuso perguntei:

- Ainda não entendi! Como assim? Há vários mistérios nesta estrada inclusive nesta grande festa, que torna as coisas incompressíveis e inexplicáveis?

O velhinho olhou para mim, percebeu que apesar de Eu estar ainda confuso, estava tentando perceber o que era, logo Ele disse:

- Bem, ainda confuso, mas já podes entender qualquer tópico... mas só precisas de mais alguma coisa e ficarás esclarecido.

- Mais? O que será desta vez? – perguntei ao velhinho – estava mais confuso do que nunca.

- Em poucas palavras, digo que, está festa é vida... no seu todo constitui a estrada da vida, e nela nós caminhamos. Para muitos parece uma festa qualquer, mas estão ainda muito distante de perceber a realidade desta festa, em geral a caminhada da estrada da vida. – disse o velhinho, sorriu.

Aos poucos pude começar percebendo a realidade desta misteriosa festa e assim ficava cada vez mais curioso em saber mais e mais sobre está grande festa nesta larga estrada da vida... com um pouco de alívio Eu disse:

- Então é a vida... a grande festa na estrada da vida!

- Isto aí meu rapaz, é a vida... Ela é uma festa, sim é! Mas não uma qualquer, nem uma estrada qualquer onde acontece... A vida é complicada, meu rapaz, por isto vês que nem todos estão festejando, alguns estão tristes, alguns chorando, alguns rindo, alguns dançando... são vários momentos num único momento, vários casos num único caso, vários mistérios num único mistério... para alguns parece lento, para os outros normal e, para outros parece rápido. Quando caminhamos nesta estrada, a única direcção é para frente, não há recuos. Muitas vezes queremos recuar no tempo, recuar no passeio já passado, mas feliz ou infelizmente é impossível... sabes por que? – Dizia-me o velhinho apontando para alguns momentos que presenciamos - A resposta é simples, porque toda regra para a caminhada nesta estrada, já forma estabelecidas e jamais podem ser quebradas... apenas resta o seu cumprimento. Nesta estrada há oportunidades que não devem ser desperdiçadas, mas sempre com tanto cuidado, pois há oportunidades que nos parecem boas, mas no fundo são armadilhas preparadas para nós... Meu jovem, esta larga estrada que vês, de nada adianta ir tão rápido, tudo faz-se com total calma, assim como diz a lenda: passo-a-passo nós vamos longe. Bem, creio que já percebeste qualquer coisa deste grande mistério.

As palavras do velhinho a cada vez mais penetrava o meu íntimo, e as afirmações dadas pelo meu cérebro eram tão claras, comecei a enxergar melhor as coisas... o velhinho novamente disse:

- A escolha que fizeste, é a escolha certa... pois escolheste procurar a sabedoria, onde menos parecia ser encontrada.

- Agora entendo o sentido destas palavras, altos e baixos momentos, devemos nos acostumar com cada etapa e manter sempre a cabeça erguida diante dos variados mistérios encontrados nesta larga estrada, inclusivamente nesta grande festa. – Disse-lhe agora esclarecido.

O velhinho fechou o seu livro e disse para mim:

- Agora finalmente você entendeu, rapaz, assim é a vida, passo-a-passo vamos longe cada coisa com o seu tempo... há tempo de rir e há tempo de chorar, há tempo de cair e há tempo de erguer-se, há tempo de amar e há tempo não amar, há tempo de dançar e há tempo de ficar reflectindo, há tempo de alegrar-se e há tempo de entristecer-se... há vários momentos num único momento.

Eu estava esclarecido, mas faltava algo, até ao momento Eu não conhecia quem era o velhinho que falava comigo, então tive que perguntar:

- Senhor, há tanto tempo que estamos conversando, mas não nos conhecemos... será que é possível conhecer o sábio com quem falo?

- Bem, vejo que és tão curioso assim quanto aos assuntos ligados a Sabedoria... Eu sou o velho Tempo, o meu primogénito chama-se Paciência e juntos moramos no grande Castelo dos Sentimentos, onde o Amor reina. – disse o velhinho.

- Uau! Prazer conhecê-lo, Senhor Tempo. Sou apenas um Amante da Sabedoria, realmente percebi quão o meu coração estava certo, ao enviar-me para cá. – Disse-lhe, respirando fundo.

O velhinho novamente sorriu e levantou-se dizendo:

- Vejo que estás evoluindo no pensamento, foi bom estar contigo. Eu vou, mas lembre-se que, passo-a-passo vamos longe. Enfrente as realidades da vida, jamais fuja de um desafio, pois ele faz de ti um verdadeiro alguém, a vida é feita de apenas três tempos, um antes, um agora e um depois. Portanto, o depois prepara-se no agora, o antes lembra-se no agora... o passado é para ser lembrada e não pra ser revivida, o futuro projecta-se no presente, pois o terreno de amanhã é incerto demais para as coisas. Por isto meu jovem lembra-te destas palavras e viva a vida, saiba que cada coisa tem o seu tempo.

Após estás palavras, o velhinho foi-se embora e não voltei vê-lo. Fiquei pensando em tudo quanto o velhinho disse para mim, aos poucos pude perceber a realidade desta vida, e ainda mais curioso para aprender com ela e vivê-la.

Sandro Sebastião
Enviado por Sandro Sebastião em 19/05/2020
Reeditado em 19/05/2020
Código do texto: T6951963
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