O Livro dos Espíritos
ROTEIRO I- O INÍCIO DOS ESTUDOS
NARRADOR 1: Em uma rua de Paris na França um encontro inusitado está prestes a ocorrer........
FORTIER: Rivail! oh! Rivail, para que tanta pressa meu amigo?
RIVAIL: Amigo Fortier, quanto tempo!!!! O que faz por essas bandas?
FORTIER: Negócios, meu caro Professor, negócios e ...... Uma curiosidade...
FORTIE: Você já viu os últimos acontecimentos? As mesas que giram?
RIVAIL: É, com efeito, muito singular, mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma propriedade da eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer com que eles se movam.
FORTIER: Rivail! as mesas não só se movem, mas pensam, respondem perguntas...
RIVAIL: Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode se tornar uma sonâmbula!!! Meu amigo, nós não temos mais idade de perder tempo com divertimentos mudanos...
FORTIER: Não Rivail, não se trata de simples moda Parisiense, as mesas respondem a estímulos, você precisa ver!!!! Não tinha ideia da abrangência que o efeito do magnetismo poderia causar a essas coisas. Estou sinceramente impressionado!!! Gostaria muito de sua opinião!!! Você é um especialista do magnetismo e muito respeitado. Por certo, suas considerações terão ouvidos....
RIVAIL: Muito me honra, mas nesse momento estou em fase final de alguns projetos e pretendo concluí-los.... Em outra oportunidade poderei ir...
NARRADOR 1: Os amigos se despediram prometendo um novo encontro...
NARRADOR 1: Um ano se passou e uma nova oportunidade surgiu para o professor Rivail. Desta vez, os comentários entusiasmados do Sr. Carlotti (amigos de bons 25 anos) que ressaltou os fenômenos que ocorriam com as chamadas mesas girantes. Enfim a oportunidade se apresentou quando Rivail acompanhou o senhor Fortier à casa de uma sonâmbula Sra. Roger.
ANFITRIÃ: Professor Rivail, muito nos honra a sua presença. Estamos prestes a iniciar a nossa reunião... Queira entrar, por favor...
Lá encontrou a Sra. Plaine Maison que também comentou sobre os fenômenos.
NARRADOR 2: O professor Rivail foi conduzido a uma sala onde havia um pequeno sofá e uma pequena mesa próxima. No entorno da mesa, havia duas pessoas já sentadas aguardando o início. Convidado a se sentar no sofá como observador, o professor Rivail assim o fez.... Após alguns minutos a reunião iniciou-se com perguntas feitas pelo anfitrião às pessoas sentadas à mesa... Pequeno tempo se passou e eis que a mesa vibrou e provocou deslocamento involuntário.
NARRADOR 2: Rivail que estava próximo percebeu o movimento e seu espírito investigador logo fez despertar tremenda curiosidade... Questionador, amante da racionalidade, logo percebeu que se tratava de algo mais que simples efeito de magnetização. Tomado de curiosidade, pesquisador valente, mau se continha no assento. Formulava em sua mente fértil mil possibilidades.... Ao término da reunião, Rivail já tinha como certeza, que precisava investigar melhor o fenômeno. No seu íntimo, sinalizava haver algo mais grandioso por trás dos movimentos, uma inteligência que dê certo não provinha das mesas nem das pessoas no seu entorno.... Mas, o que seria? Precisaria acompanhar melhor essas reuniões e definir uma estratégia de trabalho...Algo de novo ocorria ali e ele por certo iria descobrir...
NARRADOR 1: Rivail visivelmente afetado pelo que observara, passou a frequentar as reuniões na casa da família Baldim. Iniciava aí os estudos sérios de Espiritismo.
NARRADOR 2: Um mundo novo se descortinava diante dos olhos do eminente pesquisador. A cada encontro, percebia a grandiosidade dos fatos ali apresentados e imaginava o impacto que causaria a humanidade a revelação desse mundo novo e até então desconhecido de todos. Tratava-se do mundo invisível, o mundo dos espíritos ou das almas dos homens livres das vestes carnais. Estava ai as chaves de inúmeros fenômenos até então inexplicáveis...
NARRADOR 3: Uma noite, manifestou-se Zéfiro, declarando-se seu Espírito Protetor. Contou-lhe que o conhecera em uma existência anterior, no tempo dos Druidas, na Gália, quando Rivail se chamara Allan Kardec. Zéfiro revelou a Rivail sua missão de Codificador da Doutrina Espírita, para a qual seria convocado pelo Espírito de Verdade.
NARRADOR 1: Em 12 de junho de 1856, pela mediunidade da senhora Aline, o professor Rivail dirigiu-se ao Espírito Verdade com a intenção de obter informações acerca da missão que alguns espíritos o haviam apontado....
RIVAIL: Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns Espíritos me assinalam. Diz-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor próprio. Tenho como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário-chefe, a distância é grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
ESPÍRITO DE VERDADE: Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres sair-te bem. Tomaras mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que ora te surpreende.
NARRADOR 2: Semanas mais tarde Kardec pergunta o que deve fazer para receber a missão, e obtém como resposta: "O bem, e dispor-se a suportar corajosamente qualquer provação para defender a VERDADE, ainda que precise... beber cicuta".
NARRADOR 3: Kardec insiste em saber se está apto ao cometimento....
ESPÍRITO: A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se não fizeres o que for necessário. Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição mesma dos que te parecerão os mais dedicados; terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu repouso, da tua saúde, da tua vida.",
RIVAIL: Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida. Está em tuas mãos a minha vida. Dispõe do teu servo...
ROTEIRO II – O MÉTODO
NARRADOR 2: O Professor Rivail percebeu a futilidade das pessoas que participavam das reuniões, apenas interessadas em divertir-se. Percebeu também que a presença da jovem Caroline Baudin influenciava na qualidade das manifestações.
NARRADOR 1: Rivail percebera, então, que os Espíritos eram apenas as almas dos mortos, que não diferiam das almas dos vivos. Alguns sérios, outros galhofeiros; uns sábios, outros ignorantes, e que, aos consulentes que demonstravam apenas curiosidade, respondiam Espíritos pouco evoluídos, também interessados em se divertir.
RIVAIL: Fazia-se mister andar com a maior circunspecção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir...
NARRADOR 3: Passou então a reunir-se em casa do Sr. Baudin, pois percebia que a serenidade do ambiente e das pessoas facilitava a manifestação dos bons Espíritos. “Tratava os espíritos como tratava os homens."
NARRADOR 2: O Professor Rivail utilizou, para a composição do livro, especialmente as médiuns Caroline Baudin, 18 anos, Julie Baudin, 14 anos e Ruth Japhet, que auxiliou especialmente na revisão da obra....
CAROLINE BAUDIN: “Quem compôs a obra foram os Guias, o Professor Rivail e o “Roc”.
CAROLINE BAUDIN:” Amarrava-se o "Roc" na "Tupia" (cesta de vime), Julie ou eu, com outras pessoas consulentes, encostávamos alguns dedos no bordo da Corbelha. O resto era obra dos Espíritos.
CAROLINE BAUDIN: "Roc" era o lápis de pedra com que os Espíritos riscavam diretamente as respostas numa ardósia comum.
CAROLINE BAUDIN: "Zéfiro, nosso Espírito familiar riscava as respostas dos consulentes. A casa se enchia de curiosos, num ambiente de alegria, sem formalismos.
CAROLINE BAUDIN: "Certo dia, o Professor propôs que a sessão seria aberta à hora certa, iniciada com uma prece e teria recolhimento respeitoso para merecer a presença de Espíritos adiantados.
CAROLINE BAUDIN: "Dia primeiro de janeiro de 1856 teve início o novo método.
CAROLINE BAUDIN: “Muitos consulentes que só vinham para perguntar tolices sobre casos domésticos não voltaram mais”. Ficaram, porém, alguns mais dispostos a aprender.
CAROLINE BAUDIN: “Algumas vezes o Professor Rivail recusou lições”. Ele discutia com os espíritos como se fossem homens. Não aceitava o que não estivesse conforme a razão.
CAROLINE BAUDIN: "Nas sugestões mais sérias, quando surgia um impasse, evocava o Espírito VERDADE, que muita vez deu razão ao Sr. Rivail."
NARRADOR 1: Colaborou decisivamente na elaboração da obra a médium Srta. Ruth Japhet. Rivail se reunia com a família Japhet frequentemente, para revisar as respostas dadas pelos Espíritos. Todas as perguntas e respostas eram lidas, revistas e corrigidas, se necessário.
NARRADOR 1: A conselho dos próprios Espíritos, outros médiuns, mais de 10, foram utilizados para confirmação das orientações espirituais.
NARRADOR 1: Era indispensável que nada ficasse incorreto, obscuro, duvidoso.
NARRADOR 2: O Mestre Lionês tinha plena consciência do alcance moral da nova doutrina e de sua missão....
RIVAIL: Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui.
ROTEIRO III O LANÇAMENTO DO LIVRO DOS ESPIRITOS
NARRADOR 1: Manhã de primavera na Europa. Bem cedo chega à Livraria Dentu, no Boulevard des Italien, em Paris, uma carruagem trazendo os 1.200 exemplares da primeira edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, para a divulgação da VERDADE revelada pelos Espíritos.
NARRADOR 1: O LIVRO já era esperado. Muitas edições de obras sobre mesas girantes, mesas falantes, mesas que dançam vinham sendo editadas. O público já não se interessava mais por essa literatura. O Livro dos Espíritos, no entanto, já era conhecido da Sra. Melanie Dentu e do gerente Clément, que sabiam tratar-se de obra edificante e serena.
NARRADOR 2: À tarde, quando Allan Kardec chegou à Livraria, foi recebido efusivamente. Mais de 50 exemplares já haviam sido vendidos, além dos volumes doados como propaganda.
NARRADOR 3: À noite, o Prof. Rivail e sua esposa Gabi recebe, em seu modesto apartamento, à Rue des Martyre, 8, as pessoas envolvidas na edição do LIVRO.
NARRADOR 3: Émile Charles Baudin estranha a mudança do nome do livro, que se intitularia "Religião dos Espíritos". Kardec explica que esse nome provavelmente seria vetado pela censura. Além do mais, O LIVRO DOS ESPÍRITOS é apenas a primeira página da Religião dos Espíritos. Por outro lado, o nome Livro do Espíritos tem significado mais abrangente. As pessoas pensarão que se trata do LIVRO de autoria DOS ESPÍRITOS, o que é uma verdade, porém o verdadeiro significado é O LIVRO que trata DOS ESPÍRITOS.
NARRADOR 1: Caroline Baudin, jovem médium de 18 anos de idade, conta à jovem visitante Ermance Dufaux, também médium, como se realizaram as comunicações que resultaram na edição da obra.
NARRADOR 1: O Prof. Rivail fala aos presentes sobre cada passo das revelações, e de como se envolveu com a missão.
NARRADOR 1: Os companheiros presentes também se manifestam sobre suas participações nos acontecimentos que propiciaram o aparecimento da obra.
NARRADOR 2: Muita emoção envolve a todos, conscientes da verdadeira missão assumida pelo Prof. Rivail, bem como da extraordinária importância da obra que acabava de vir a lume.
NARRADOR 2: Rivail faz uma comovida prece, que emociona.
NARRADOR 2: Ermance Dufaux recebe extensa e profunda mensagem de S. Luís, que diz, para motivar os presentes, entre outras coisas:
Sr. LUIS: "Sabemos que nos cumpre vencer o principal inimigo da VERDADE: o Materialismo. À luta, pois! Cada um de nós em seu setor, combatamos todos, sem hesitação, o Rancor oposicionista. Batalhemos todos, sem temor, contra a Rotina retardatária. Guerreemos todos, sem arrefecimento, a Perseguição. Mas, na luta, empreguemos somente as armas nobres dos Cavaleiros da VERDADE: A Humildade, a Prudência, a Tolerância, a Persistência. Sim, essas as nossas armas. Na batalha da Luz contra a Treva outras não são permitidas que as do Evangelho."
NARRADOR 3: Quase meia-noite, Rivail, antes de recolher-se ao leito, escreve, em seu caderno de memórias:
RIVAIL: "Mais de cem exemplares de O LIVRO DOS ESPÍRITOS já se foram neste primeiro dia, doados ou vendidos. Cada volume será um grão de vida nova lançado ao coração de um homem velho. Se algumas sementes caírem em corações maduros haverá, por certo, gloriosas ressurreições. Mil e duzentas sementes da VERDADE serão lançadas no terreno da opinião. Se uma só frondejar, nosso esforço não terá sido em vão."
NARRADOR: E, de castiçal em punho, rumou para o leito, na ponta dos pés, para não despertar Gabi.
FIM