O apaixonado
Dois cavalheiros, elegantemente vestidos, conversavam na rua. Um deles, o mais moço, retira o relógio do bolso do colete e aparenta se despedir de seu interlocutor, quando algo lhe chama a atenção. Do outro lado da rua, de frente a um casarão, para um tílburi de aluguel e duas damas descem. Algo muda no semblante desse cavalheiro. De olhos fixos na cena, observa quando a dama ao descer tem o vestido preso a ferragem do veículo. O Cocheiro imediatamente se aproxima para ajudá-la e ao virar se sorrindo com acontecido a jovem dama revela o sorriso mais belo que ele já vira. Os cabelos acobreados e ondulados eram perfeitos. De súbito ele descobrira se apaixonado. A outra jovem era também muito bonita, no entanto não revelava o mesmo encanto. As duas então entraram no casarão. O portão foi fechado e não as mais viu.
Notando a mudança do amigo, Agostinho pergunta se as damas são conhecidas suas. E diante da negativa ele apressa se na despedida, não quer se atrasar para o almoço da pensão. O amigo parte a passos largos e Eugênio continua ali mesmo, observando o casarão da bela dama. Imagina ser ela visita ou moradora, mas não há como saber a não ser que indague, mas não seria uma atitude de cavalheiro ficar buscando informações sobre pessoas que não conhecia. Resolveu voltar para casa, a mãe e a irmã o esperavam para o almoço. Foi, mas não pode evitar em ficar olhando para trás.
No outro dia acordou pensando na bela dama. Quem seria, qual o nome dela ? As duas seriam irmãs, provavelmente sim, eram as duas de idades muito próximas. Naquele dia teria que ir se encontrar com um cliente, Eugênio era um arquiteto, e estava trabalhando no restauro de um palacete. A caminho resolveu passar pela rua de sua musa. E mais uma vez ficou a cismar de frente ao casarão. Talvez quem sabe teria a sorte de vê-la novamente. E depois de alguns minutos de comtemplação virou se para seguir caminho, mas não viu que um senhor se aproximava e os dois se chocaram, fazendo a bengala do mais velho vir ao chão. Completamente sem graça e com pedidos de desculpas, pegou a bengala e devolveu a ao dono. Ao fixar o olhar neste, viu que se tratava de um homem de grande elegância, um cavalheiro. Após desculpas aceitas, apresentaram se um ao outro, e para surpresa de Eugênio soube que se tratava do dono do casarão. Era um barão do café. Um senhor de ares altivos, mas muito polido. Quis saber a intenção de estar observando seu lar. Foi então que contou ser a sua profissão de arquiteto. Estava encantado com a arquitetura do casarão art nouveau. Encantara se principalmente com os vitrais que só vira tão belos uma vez. E o rapaz contara que estava prestando seus serviços a um cavalheiro. E para felicidade sua, o barão era amigo de seu cliente. Despediram-se e o barão quis conhecer o trabalho dele. E assim em quinze dias estavam próximos, o barão visitara a obra em execução na casa do amigo e pediu que ele fosse ao seu casarão a fim de realizar algumas mudanças.
Feliz Eugênio julgou se um homem de sorte. No dia combinado visitou o casarão, mas para sua decepção não viu nenhuma das filhas do barão. Ficou combinado que voltaria em uma semana, apresentando o projeto de reforma de uma sala de música. Voltou e dessa vez teve a felicidade de ver e ouvir sua amada. A jovem era ainda mais adorável de perto. Com o mesmo sorriso gracioso, fê lo sentar e aceitar um licor de jabuticaba. Em seguida, adentrou a sala, a irmã, aquela mesma da carruagem. A moça pareceu encabulada, não tinha a mesma desenvoltura que a mais velha. Eugênio comentou o quanto elas tinham olhos parecidos e a mais jovem corou, enquanto a musa de cabelos acobreados sorriu da comparação, contou que não eram irmãs e sim madrasta e enteada. Eugênio se levantou de supetão, disse que teria que ir andando, tinha compromisso.
Ficou triste por um tempo, continuou a obra e preferiu esquecer a baronesa e em menos de um ano estava casado com a filha do barão, aquela que ele não havia achado encanto, e que agora a considerava muito mais encantadora do que a madrasta.