Há um tempo havia uma cidade em mim. Havia uma Garanhuns que não existe mais é só violência, assaltos, roubos estupros e assassinatos. Eu saía a pé da vila para o centro. Andava tranquilo pelas madrugadas, pelos bares, despreocupado sem nenhum medo de violência. Fechavam-se uns botecos e nós pulávamos para outro. E amanhecíamos bebendo, até não ter mais bares abertos e nós irmos parar em postos de combustíveis. Doutras vezes não, eu por ser o morador mais distante deixava todos em suas casas e seguia sozinho, cantarolando ou silenciado de pensamentos vadios com um cigarro acesso clareando a minha juventude dentro da madrugada. E foram passando os anos, e foram tantos goles, tantos porres, tantos namoros, tanta música que um final de semana era muito. Mas eu tive que se retirar das minhas raízes. Obrigações mim impediram de ficar e Garanhuns ficou pequena pra mim. Eu tive que partir despedaçado. As praças, os parques, as igrejas, os festivais, os músicos de lá, o chocolate quente, o bolinho de queijo, meus parentes e meus amigos, tive que deixá-los para depois. E permaneceram todos e tudo tão grandes dentro de mim e cada dia isso acrescia, trinta anos de saudades... E agora que voltei querendo reviver tudo, não há quase mais nada do que ficou guardado dentro. A minha mocidade também não está mais comigo, ficou pregada não sei onde. E aquela gente doida do meu doce convívio desertou. As que ficaram parecem outras, tornaram-se sérias de mais. E as do meu sangue se empanturram de comprimidos e vivem a se mal dizer de dores e doenças. Se eu soubesse que aqueles dias pretéritos cheirosos de juventude, cheios de vida, prazer e loucura tinham prazo de validade eu não teria ido. Permaneceria em meu solo pátrio. Em minha terrinha cheia de flores, de vento frio, de colinas, de águas cristalinas, do Cristo do Magano, dos meus amigos da adolescência, da minha gente religiosa, dos encantos tanto que não há mais, se não na memória de mim