Diário de Quarentena - A Tempestade
Como uma queda repentina para competir com a monotonia desses últimos dias, a temperatura vai diminuindo e os ventos tornam-se mais presentes, marcando território, exigindo direitos naquele espaço que é seu por essência.
Há quem corra para fugir do incômodo, para estes os dias de alegrias vividos anos atrás tomando banhos do chuva já não são mais um resquício de lembrança, a inocência e a naturalidade daquela época não são bem vistos na vida madura. Os ditos estranhos, ainda acreditam nos sonhos, viver no mundo das ideias permite a estes ouvir, ou quem sabe ainda, dançar ao som daquela música que somente é tocada sob a leitura das partituras mais sutis.
Até porque a visita que estar por vir carrega consigo mais do que aquilo que os olhos curiosos podem observar, a energia que tal presença emana perpassa o concreto e o abstrato. É uma manifestação que atravessa o divino, chega ao mundo material e reverbera, toca e influencia as emoções e a vivência humana.
O cheiro de terra molhada também denuncia. O barulho das gotas chocando-se contra o telhado por vezes acalma se apreciada a constância e o ritmo atraente em seus movimentos, a força e a violência que em alguns momentos necessitam ser empregadas, por sua vez, assustou o desavisado forasteiro.
A tempestade se faz dona daqueles instantes quando, ao impor sua dança ritualística, o ar, no receptáculo dos ventos, a água, sob a forma de chuva e a energia que rasga os céus seguindo suas próprias regras, marcam um encontro e executam seus papéis em uma miscelânea de poderes, em uma cerimônia de renascimento.
__Não desiste forasteiro, depois do isolamento ainda tem muita vida pra viver, por mais que não aparente, a tempestade vai passar, minha mãe está apenas testando tua força de vontade.