MEU DOMINGO COMEÇA
Lá fora, nesta manhã de domingo, um brilhante sol a me convidar a receber seu caloroso beijo. Seu brilho das 7:30 horas era irresistível. Atravessei a sala, cheguei à varanda, despi-me da camiseta e deixei-o me aquecer. Fechei os olhos e agucei os sentidos. Minha pela do corpo inteiro recebia o acariciar da brisa que vinha do mar ali próximo, o aquecimento dos raios solares era perceptível; bem perto, o som trissilábico do bem-te-vi quase que faz os meus olhos se abrirem, mas resisti e dei vasão à lembrança e, ao som do seu canto, eu o desenhava pondo no topo da sua cabeça uma listra branca, na altura da garganta outra da mesma cor, uma bela plumagem no dorso de cor parda, sua barriga pintei de amarelo, e lá estava eu a rabiscar sua cauda a tremular suas penas negras, e meu cantor estava vivo em minha mente; peguei-me fazendo uma forte e longa inspiração, com a volúpia de quem quer sugar toda aquela paz envolvida pelo silêncio no entorno, o que me levou a perguntar a mim mesmo se este é o cheiro da paz. Deixei-o em mim por longo tempo, egoisticamente querendo-o só para mim, mas vencido, lentamente, o mais devagar que pude, fui deixando escapar. Enquanto exalava pensava, agradecido, neste ser invisível que tão bem nos faz, nos permite viver; neste momento abro olhos e deixo-me tomar pela bela obra pintada pelo Criador, esplendorosa, produzida e a mim apresentadas em todas as dimensões. Mar com seu azul, verde e branco no seu ir e vir; verdes em um belo efeito de degradê na restinga e nos arvoredos; o tão cantado azul deste céu pigmentado de brancos tufos de nuvens que vadiam vagarosamente.
Volto a mim. Eu e a minha varanda. E sinto que não estou só. Uma sensação de alegria me abraça. Volta à minha sala para me alimentar da sonoridade belíssima do piano de Ernesto Cortazar, começando com 9 Lives Of Innocence II.
Assim começa o meu domingo.