APARANDO AS ARESTAS - QUARTO CAPÍTULO

IV

A despeito da superlativa grandeza geográfica do país, a gestão do Ministério da saúde deu conta do recado sugerido pela OMS.

E o ministro da pasta, médico nascido no Moto grosso, formado no Rio de Janeiro, conseguiu captar pra si uma popularidade que nem mesmo ele imaginara.

Sua fala simples, compassada, temperada com linguagem coloquial, caiu nas graças do povo e da mídia.

Mas o reconhecimento de sua eficiência, transformado em popularidade, passou a ser uma bomba relógio, colocada no colo do presidente da República.

--- Já não me bastavam os dois inimigos do eixo Rio-S. Paulo! Agora me vem esse fogo amigo. ---pensou o presidente, lá com seus botões.

O apego às coisas do Poder é visível aos olhos de toda a sociedade. E aqueles que alcançam esse patamar perdem a noção do pudor, da decência e até do estado de necessidade, se, por ventura, esse se aloje no seio da Sociedade.

Viver em uma democracia nos possibilita escolher uma ideologia. O que não nos dá direito de eliminar as outras.

O país teve o governo central orientado, durante quinze anos, por uma política de esquerda, com viés no socialismo estatal.

O atual governo central é de orientação de direita, com viés no capitalismo liberal.

Como o mito da mosca azul ronda todos os gabinetes palacianos, a mais recente vítima do poderoso veneno desse inseto foi o super ministro da economia. O veneno acendeu uma luz amarela no painel do Ministério, alertando ao “papai sabe tudo” da economia brasileira que a tal da ajuda “emergencial” seria uma grande oportunidade de se cobrar a regularização dos cadastrados que tiveram seus números de CPF suspensos pela Receita Federal, por qualquer motivo. Essa ação economizaria recursos com campanhas na mídia. O ministro atendeu à observação do veneno da mosca azul. Atitude bem na linha do capitalismo selvagem.

--- Eu lá quero saber de vidas que já estão combalidas? Quero saber é de números para erguer os que ainda têm vigor.

É aí que começa cair a fixa na caixa das lamentações, dos pobres lacrimosos, eleitores “vitoriosos” nas eleições de 2018.

Milhares de infelizes que votaram num “salvador da Pátria”, pregador do fim do viés ideológico em todos os ministérios do seu governo, começam se sentir como as jovens estupradas nos bailes funks nas periferias urbanas de todo o país, diante dessa decisão governamental de resolver primeiro um problema burocrático e depois o problema humanitário. Problema grave une duas palavras homófonas: Urgência e Emergência. Mas o povo na sua sabedoria natural, intuitiva, define isso com uma só palavra: FOME.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 29/04/2020
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