APARANDO AS ARESTAS - PRIMEIRO e SEGUNDO CAPÍTULOS

APARANDO AS ARESTAS

BETO MACHADO

I

Robson desperta, assustado, na maciez da sua cama, com o sinal sonoro do aparelho celular que dormia o sono dos justos a madrugada quase toda. Raramente um amigo do rol dos seus contatos não era insultado, mesmo antes de ser atendido por ele. Afinal, a madrugada de um aposentado deve ser reservada tão somente para dormir. E, esporadicamente, para executar alguma atividade fisiológica, instigado por seus hormônios e pelos hormônios de quem o acompanha nessa tarefa.

Desta vez a chamada era especial. Uma grande amiga, exponencial figura da arte do sapateado lhe pedia mil desculpas pelo incômodo da hora avançada, mas era a oportunidade de aproveitar o finalzinho dos créditos que lhe restava para ligar.

--- Mestre, perdoa essa tua fã. Sou Mônica Matoso. Preciso dos teus dados e de um resumo da tua trajetória na música e na literatura pra eu te incluir no grupo de música e de dança que estou participando... Caso queira, claro. À tarde voltamos a nos falar. Volta pra dormir. Beijos.

--- Se Mônica não fosse a menina que é, eu diria que o povo perdeu a noção do perigo e a sensatez. – pensou Robson, ao desligar o celular.

II

Enquanto o país e o mundo cristão estão suplicando ao Pai Supremo o fim de uma pandemia ceifadora de vidas, que obriga as pessoas a suprimirem o contato pessoal e a se isolarem nas suas casas para mitigar a possibilidade de contaminação, outros “desavisados” vão transitando na contra mão das determinações de autoridades e dos especialistas em infectologia, furando o isolamento e instigando o povo a fazer o mesmo.

Inúmeras teorias da conspiração começaram a pipocar aqui e ali, colocando uma gigantesca confusão na cabeça da sociedade. Dessas teorias a que mais me chamou a atenção foi a que dizia que o corona vírus não se alojava nos moradores de rua.

A mentira se espalhou de modo tal que encorajou seu autor a sugerir aos órgãos competentes, que fossem colhidos, compulsoriamente, dos desabrigados, certa quantidade de sangue para fins de investigação.

Um absurdo. Tamanha torpeza só pode sair da cabeça de humanos de quinta categoria. E a internet abriga esses vermes e dá-lhes voz.

Como dizia um velho ministro do STF: “É o preço da Democracia”. Ainda assim vale a pena pagar esse preço. É melhor a gente ir aparando as arestas do regime do que trocá-lo por outro pior. Aparar as arestas da Democracia é anular as sugestões dos “lobos” nazistas entocados nas cavernas do extremismo. Mas, sempre que eles uivam sob o clarão da dindinha lua, surge um forte vento que protege o Povo Brasileiro das ações dessa matilha.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 29/04/2020
Código do texto: T6932412
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