Você e sua esposa ainda estão juntos?
Você e sua esposa ainda estão juntos? Era a pergunta que Victor fazia toda vez que encontrava com um amigo na rua com a finalidade única de criar intrigas nos relacionamentos alheios. Logo em seguida, pedia desculpas, insistia para que o amigo deixasse pra lá e, em seguida, seguia seu destino se rindo por dentro ao lembrar das reações dos amigos em razão do sentimento de insegurança gerado em função da pergunta capciosa . Repetiu a brincadeira uma dezena de vezes e se orgulhava cada vez mais disso. Certa ocasião, quando saía do trabalho depois de um longo dia de labuta, esbarrou com Juca, um amigo dos tempos de escola. Como de costume, perguntou ao amigo se ele e a esposa ainda estavam juntos e a reação do amigo o surpreendeu muito além do esperado. Diferentemente dos demais, Juca demonstrou um nervosismo excessivamente desproporcional. Beirando a linha da psicopatia. Juca o empurrou contra a parede e com o dedo em riste, bem no meio dos seus olhos, o indagou se estaria sabendo de alguma coisa. Victor tentou desfazer toda aquela situação, explicou que se tratava de uma brincadeira de mau gosto, mas Juca tinha os seus motivos para desconfiar da companheira. Nada mais poderia demovê-lo da ideia sórdida que se instalou na sua mente. Foi para casa de imediato , mas naquela noite não conseguiu dormir. Na manhã do dia seguinte, deixou a cama bem cedo, se arrumou e fez como quem ia para o trabalho, entretanto, entrou em um bar próximo à sua casa e lá iniciou seguidas rodadas de uísques. Já se sentia bem alterado quando decidiu retornar ao lar. Seguia pela calçada cambaleando, apoiando-se entre uma parede e outra. As pernas pesadas como chumbo quase não podiam ser arrastadas. No coração somente o sentimento de ódio e de rancor. Ao aproximar-se da casa, pôs as mãos na maçaneta da porta com todo cuidado para não chamar a atenção. Retirou os sapatos e prosseguiu lentamente até a porta do quarto que se encontrava entreaberta. Testemunhou então algo que já imaginava, mas resistia em aceitar. Ao flagrar a traição da esposa, seu mundo caiu. Um choro incontrolável o tomou . O amante, ao perceber a presença do marido traído, num rompante conseguiu fugir pela janela do quarto. Sua esposa, atônita, esbugalhou os olhos com grande horror. Juca foi até a cozinha, escolheu uma boa faca e começou a se movimentar por lá. A esposa ouvia barulhos, mas estava paralisada, estarrecida, siderada. Permaneceu sentada na cama sem ação. Depois de alguns minutos, Juca retornou ao quarto, abriu a porta e com os olhos cheios d’água e as mãos trêmulas lhe deu a sentença:
- Olha aqui, sua vigarista! Quero que você preste bastante atenção. Tá vendo lá? ...
Café fresquinho... pão quentinho... e você não vai tomar... por causa dessa palhaçada e da sua safadeza.