A estátua preta e a estátua branca.
Aconteceu. Um jovem rapaz, altura mediana, estudante, andava por uma rua de comércio do centro da cidade. Eram várias lojas; tecidos, calçados, artigos esportivos, móveis, informática, cosméticos, entre muitas outras. Ele não queria comprar nada, passava por ali apenas por ser seu trajeto rotineiro rumo a faculdade. Mas uma certa loja chamou sua atenção, pois tinha em sua vitrine duas pequenas estátuas quase completamente iguais. Tinham a mesma forma, as mesmas vestimentas, porém, cores diferentes. Uma era branca e a outra era preta.
Aos olhos do rapaz, faziam-se uma peça única, a idealização daquilo que é oposto, apesar de estarem expostas como peças individuais, cada qual com seu preço. O rapaz foi embora. Não tinha como comprar as estátuas sem algum sacrifício. Mas seus pensamentos fizeram-se fixos nos objetos e, durante uma semana, quando passava pelo local, permitia-se desviar o olhar para elas.
Decidiu que as compraria, pois sentia que havia naqueles objetos alguma magia, afinal "como podem duas simples estátuas me prender desta forma?", pensava. E então, desviando de suas finanças destinadas a alimentação e transporte, direcionou-se a loja para a aquisição.
O restante do mês seria complicado, já que não teria mais como pagar pelo transporte e ter sua refeição diária padrão. Mas estava satisfeito, certo de que havia tomado a decisão correta.
Em sua casa, uma pequena quitinete que locara para viver durante os estudos, tudo muito simples e com nenhum enfeite além das novas estátuas. Lá estavam, lado a lado, feito ying e yang, destacando o que se faz oposto e ao mesmo tempo se completa.
Era de poucos amigos, mas os poucos que tinha eram de intensa amizade. Conviviam, na faculdade e no dia a dia. E estes, depois das estátuas, diziam "você mudou". E ele satisfeito repetia sempre "estou sob efeito de magia, mas não uma magia qualquer" e nisso ficava.
O tempo passou, a faculdade acabou, o empregou chegou, os amigos cada qual com seu destino. A rotina mudou, aumentou. De solteiro a namorando. De uma quitinete a uma casa com quartos. Esposa. Filhos. E as estátuas numa caixa avulsa, sem qualquer significado mais, sem magia, apenas enfeites, apenas cores tratadas como opostas, uma lembrança que ficou para trás.