O HOSPEDEIRO
Acordou. Ainda meio sonolento se deu conta de que um lado do seu corpo estava um tanto dormente. Decidiu então levantar-se, lavar o rosto e sorver um café meio amargo. Sentia-se um pouco quente como se estivesse com febre. Achou que talvez um banho frio pudesse lhe revigorar as forças, porém só serviu para agravar o cansaço e a tosse seca. No fim do dia, os sintomas aumentaram de intensidade. A febre foi a 40° e ele começou a sentir grande falta de ar. Quando respirava doía tudo, principalmente o tórax. A dor de cabeça ia da testa até a nuca e lhe causava uma ânsia de morte. Uma fraqueza sem precedentes lhe deixou sem forças para nada.
No dia seguinte Shan foi ao hospital, onde foi submetido a uma bateria de exames. Os resultados não foram nada agradáveis e, para sua surpresa, deu positivo para o covid-19. O primeiro caso no mundo. Até aquele momento, ele não tinha noção da extensão da doença e desenvolveu suas atividades cotidianas como de costume. Saiu do condomínio, cumprimentou os amigos, abraçou os parentes, beijou a namorada. Tossiu, espirrou e voltou a cumprimentar a todos que cruzavam o seu caminho.
Quando os primeiros casos começaram a brotar e a se espalhar o mundo se deu conta de que não havia suporte para conter tamanha ameaça. A China já havia sucumbido. Itália, Espanha, EUA e grande parte da União Europeia já estava comprometida. Com o passar das semanas e o aumento dramático do número de infectados, já não havia eventos sociais. Festivais e campeonatos esportivos já haviam sido paralisados. Nem mesmo as igrejas subsistiram. O sistema de saúde já havia colapsado e os corpos eram dispensados nas próprias calçadas. As poucas pessoas que conseguiram evitar o contágio disputavam o escasso alimento e as poucas fontes de subsistência como urubus ávidos por carniça. Neste momento a Terra contava com menos de um por cento de sua população normal. O caos era sem precedentes.
Passados seis meses a Terra já estava praticamente desabitada. A falta de empatia fez com que a pandemia aniquilasse toda a humanidade. Shan, milagrosamente resistia à doença e continuava a sua busca pelo mundo à procura de alguém a quem pudesse cumprimentar, beijar e abraçar.