Órfãos dos benefícios da civilização

ESTAVAM no barraco, num dos morros do Recife, onze pessoas, o marido, a esposa, a sogra do marido, uma cunhada dele e uma escadinha de sete filhos do casal, o mais filho com onze anos e o mais novo com dois anos. Era um barraco com apenas uma sala, dois quartos, um sanitário do lado de fora, mesa, tamboretes, um divã caindo os pedaços, um fogão, uma velha geladeira, um rádio antigo e uma antiga tevê. A comida, feijão, farinha, café, pao e ovos, estava quase no fim. Só faziam uma refeição por dia.O marido era pedreiro mas com a pandemia acabaram as obras, e os meninos mais velhas que futucavam no lixo atrás de latinhas e garrafas vazias, além de alimentos estragados e que também esmolavam estavam sendo reprimidos pela polícia.

Ficavam ali, naquele calor de quarenta graus uns quase em cima dos outros assitindo à tevê. Após um noticiário em que foram ensinadas maneiras de hiiigiene para evitar o contágio, um garoto de cinco anos indagou da mãe:

- Mãê!, cuma é qui vâmo lavá as mão se não tem água?

a mãe respondeu com raiva mas indignada:

- Calaa boca, peste! Isso que estão dizendo é só pra gente de verdade.

Ah, Brasil. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 08/04/2020
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