O Abílio, a Célia e os filhos
A fome estava a bater quando de repente uma mulher, com quem tinha um caso amoroso, aparece com um bebé as costas mais seis crianças e uma senhora. Abílio, vendo-os a baterem o portão da casa pertencente aos seus pais onde vivia, escondeu-se e mandou, seu sobrinho Manuel, dizer que ele não se encontrava. Abílio reconhecera a senhora com o bebé e sabia que perguntariam por ele. A senhora chamava-se Célia e queria voltar, depois de serem atendidos no portão por um rapaz que respondeu-lhes que o tio Abílio não se encontrava em casa. Mas, a sua acompanhante, dona Ana, agitava-a a aguardarem, pois, via o momento como a grande oportunidade de fazer com que o pai daquelas crianças pudesse contribuir com uma mensalidade para o sustento das mesmas e, também era a chance de ver sua amiga Célia a parar de lamentar, constantemente, da situação precária em que vivia. Logo, decidiram esperar pelo Abílio.
A mãe do Abílio, dona Rosa, vendo aquele pessoal fora de sua casa, foi ter com eles, procurando saber o que desejavam. Apercebendo-se que queriam contactar seu filho Abílio, pediu, educadamente, a aquela gente a entrarem no seu quintal e esperarem lá até que ele aparecesse, pois, não ficaria bem, um aglomerado de pessoas a porta de casa.
Abílio, no seu esconderijo, apercebeu-se, do Manuel, que aquela família estava, no quintal de casa, a sua espera. E, vendo o tempo a passar sem aquela gente renderem-se pela demora, resolveu aparecer, simulando que estava a vir da rua, saudou o pessoal e foi na cozinha ao encontro de sua mãe, dona Rosa, que disse-lhe:
- Aquele pessoal no quintal, quer falar contigo.
Abílio foi ao encontro deles, tomou a palavra e disse:
- O que se passa, Célia?
- Abílio, sabes que sou desempregada, e, agora mãe solteira, não estou a aguentar a sustentar as crianças sozinha, preciso de seu apoio. Respondeu, a Célia.
- Então, o que precisas de mim? Questionou, o Abílio.
- Preciso feijão, arroz, fuba,... - Célia não terminou de responder, quando o Abílio, muito nervoso, a interrompeu, dizendo:
- Pára, pára, passa amanhã para vermos estas coisas.
A Célia aceitou e, o Abílio conseguiu, assim, adiar a quentura que esperava em sua cabeça para o dia seguinte e ganhou um tempo para reflectir sozinho na situação. Mas, a sua mãe o aguardava para saber dos detalhes da conversa.
- Abílio, o que aquela gente queria? Perguntou, a dona Rosa ao filho.
- Eh, eh, queriam saber de algo relacionado com o meu serviço, mãe. Respondeu, o Abílio gaguejando.
A dona Rosa deu conta que o Abílio não respondeu com a verdade mas, sabia que tarde ou cedo, se não mesmo no dia seguinte, saberá da verdade, visto que, ela ouviu a Célia a despedir, falando ao Abílio:
– Chau, então amanhã estaremos aqui de novo.
No dia seguinte, aquele grupo de gente voltou, e o Abílio que queria mais uma vez desmarcar deles, foi visto a pular o quintal vizinho, na tentativa de fugir. A Célia mandou o menino mais velho, o Armando, para ir chamá-lo. Posto lá, o Armando dirigiu-se ao Abílio e disse:
- Tio, a minha mãe está a te chamar, lá na casa do tio.
O Abílio, chateado, voltou com o rapaz para sua casa.
- Então, já vieste? Disse o Abílio, com um sorriso camuflado no rosto, para a Célia.
- Assim queres que digo o quê? É claro que sim, Abílio! Respondeu irritada, a Célia.
- Mas, diz-me ainda uma coisa, Célia. Quais desses miúdos são meus filhos? Perguntou, o Abílio.
O Abílio não conhecia seus filhos, porque a Célia vivia maritalmente com o senhor António, e mantinha uma relação amorosa secreta com ele. Com isso, para evitar problemas no lar e passar vergonha na comunidade, a Célia preferiu manter esse segredo, enganando o António. Assim, não tinha como apresentar, no passado, os filhos ao Abílio. Embora, o Abílio recorda que Célia, em segredo, já lhe tinha dito que era pai biológico de dois de seus filhos.
- Os seus filhos são: o Guilherme e a Joana. Respondeu a Célia à pergunta do Abílio.
O Guilherme e a Joana eram o quarto e quinto filho de Célia, respectivamente, concebidos numa altura em que ela estava a enfrentar alguns problemas no seu relacionamento com o António. E, por conta disso, a Célia conheceu o Abílio numa reunião de encarregados de educação, na escola do seu filho mais velho.
O Abílio, compadecido com a situação de Célia que estava separada do seu marido e, baseando-se nas necessidades básicas para sobrevivência, acertou com a mãe das crianças uma pensão mensal no valor de Trinta Mil Kwanzas, para minimizar as dificuldades dos filhos. E, antes de a Célia sair, aconselhou-a a rentabilizar o valor, fazendo um negócio qualquer.
- Então, Abílio, que história é essa de você ter dois filhos com aquela mulher? Questionou dona Rosa ao filho que não tinha mais como esconder o assunto, pois acreditou que a sua mãe, da cozinha, ouvia toda a conversa que ele teve com a Célia.
Portanto, o Abílio, sem saída, teve que contar toda a verdade a mãe, dizendo que, há muito tempo, envolvia-se sexualmente com a Célia, que mais tarde confessou-lhe que engravidou-se dele duas vezes dando a luz a duas crianças.
Dona Rosa, pensando na educação que deu aos seus filhos, e, no perfil dela na comunidade, visto que desempenhava um papel de destaque na igreja, ralhou bastante o Abílio, pois, sentia que ela também passaria vergonha na sociedade.
Abílio, triste e quente com a situação, ficou famoso na comunidade, pois, muita gente apercebeu-se do ocorrido. Mas, ficou mais quente ainda quando a sua primeira mulher e a namorada actual se aperceberam também, para além do facto de que doravante terá que prestar uma mesada para o sustento dos filhos que tem com a Célia.
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