Resgate

Resgate

Ela se viu arrastada pela correnteza. Seu corpo já não era mais seu e não obedecia ao menor sentido. Nada fazia sentido. Tudo passava por ela a uma velocidade incrível, folhas, galhos, sons e sonhos. Tudo se despia de sua máscara , da mais colorida à mais monocromática, e tudo a engolia na espiral do redemoinho do temor.

O medo a dominou, o ar já não supria, ela se viu perdida, abandonada, solitária em meio a solidão forçada. O tronco que passava por ela, serviu momentaneamente para que se erguesse e visse que o céu escureceu enrugado de nuvens cinzentas e disformes, tão belas em sua atitude caótica do fluir com o vento.

A água ainda a arrastava, aquela correnteza que já parecia sem fim, e ela se viu entregue, com alguns últimos fôlegos que saiam em soluços junto às lágrimas que agora corriam por seu rosto, escorrendo pelo corredor de dor que se tornara seu peito.

Então, algo a segurou. Uma mão, que firme, também a firmou. Num gesto forte, a segurança pouco a pouco foi tomando conta dela, pois aquela base firme transmitia a estabilidade que precisava. Seu centro, seu alento, seu equilíbrio.

A correnteza ainda estava lá, arrastando em tormento o entorno, todo o momento. Mas ela já não mais afundava, nem se afogava. Havia nela agora algo de serenidade, de uma crescente fortaleza.

Ao observar seu entorno, as nuvens agora dançavam, em uma poética coreografia, onde as ondas embalavam o frescor, de um sol entre nuvens a surgir, um pôr do sol, tão singelo e humilde, em sua grandeza de trazer a certeza que estaria lá no dia seguinte.

Seguindo, entre céu, mar e pôr do sol, ela agora de mãos dadas com sua própria fortaleza, percebeu que a corrente a prendia solidamente em seu fluir natural, e era a corrente onde os elos eram feitos das pessoas com os sentimentos mais nobres e especiais.

Não uma, mas duas mãos a seguravam, a apoiavam e transmitiam força. Força em seus atos, em suas palavras e no seu olhar. Em um misto de força e docilidade, onde a gentileza podia ser sentida em cada palavra, em cada sorriso, mesmo em uma distância onde o sentir vai além do momento, e ultrapassa o tempo do próprio existir.

Ela sorriu e o sentimento de paz invadiu seu peito.

E aos poucos, tudo se tornou o mais belo e lindo Silêncio.

(Um pequeno texto inspirado por uma situação ocorrida nos últimos dias, como uma forma de agradecimento por tão importante carinho).

Obrigada Bia e Simone.

Adriana A Bruno
Enviado por Adriana A Bruno em 07/04/2020
Reeditado em 07/04/2020
Código do texto: T6909926
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.