Algo similar a magia
Três anos atrás, em uma manhã solitária, eu vi um cara sentar em um carro com uma garrafa de bebida alcoólica e começar a chorar.
Eu tinha visto ele já antes, mas não sabia quem era.
Eram tempos difíceis.
Eu estava batalhando contra pensamentos suicidas. Eu tinha sido diagnosticado com depressão crônica, ansiedade, insônia, e eu estava sempre triste.
Mas, por algum motivo, por algum motivo inacreditável, eu fui atraído por ele naquela manhã.
Eu tinha que pedir para ele o que estava errado. Se estava tudo bem. Se ele estava bem.
Eu fui até ele e disse, "Ei, o que foi?"
Seus olhos.
Tinha alguma coisa naqueles olhos. Eram olhos que eu tinha visto antes — olhos que olhavam pra mim de volta todas as vezes que eu me olhava no espelho.
Olhos que não tinham nenhum traço de esperança neles. Olhos que apenas os quebrados e surrados pela vida têm.
Ele simplesmente chorou sem falar uma palavra sequer.
Eu fui para dentro do carro dele e sentei.
Eu dei-lhe um tempo. Ele precisava de mim lá com ele, mas ele não queria me incomodar.
Eu esperei pelo que pareceu uma eternidade, e então ele finalmente me contou, "Eu não quero mais viver. Eu vou me matar hoje. Você é a última pessoa com quem eu vou falar."
Eu não falei nada, mas fiz um gesto para ele me passar a garrafa.
Eu tomei um gole bem grande, e disse para ele dirigir até o mercado mais próximo onde vendiam bebidas.
Por horas — eu fiquei com ele por quatro horas naquele dia.
Eu bebi, e ele bebeu, e ele me contou sobre sua vida.
Ele tinha vivido uma vida horrível. A história dele ainda me faz quase chorar, até mesmo nos dias de hoje, enquanto escrevo.
A única pessoa — a única pessoa que tinha visto além da fachada desse alcoólatra infeliz que ninguém parecia notar — a única pessoa que amava ele — tinha morrido recentemente.
O coração dele estava completamente despedaçado. Não tinha nada que fizesse ele querer continuar vivendo. Ele tinha tomado sua decisão.
Ele ia se matar.
Aquelas quatro horas passaram em um segundo.
Eu praticamente não falei nada.
Uma garrafa de rum depois da outra foi aberta, e a gente bebeu — e aí compramos mais — e bebemos mais.
Palavras saíram dele — uma depois da outra — até que seu peito começou a ficar menos e menos pesado com cada segundo que se passava.
Meus amigos passaram por a gente e me viram sentado no carro dele, bebendo, e eles me olharam do mesmo jeito que o mundo olhava para esse homem.
Eu simplesmente não fui embora. Eu não conseguia ir embora.
Eu estava intrigado com ele — e eu não sabia como — mas eu tinha que o ajudar de alguma forma.
Quatro horas depois, ele limpou seus olhos e disse, "Agora eu vou viver por você. Você salvou a minha vida."
Naquela noite eu fui pra casa super bêbado, depois de me despedir dele, e vomitei.
Depois eu chorei, bebi o resto do álcool que sobrou, e depois vomitei de novo e desmaiei no chão mesmo em uma poça de lágrimas e vômito.
Eu perdi a prova que eu tinha que fazer na manhã seguinte.
Um ano depois, em uma noite miserável e solitária, eu tentei me matar.
Minha melhor amiga ligou para ele porque ela simplesmente não sabia mais o que fazer. Ela estava desesperada e não podia confiar nos meus amigos; não queria que me vissem naquele estado.
Ela ligou para ele, e ele implorou pra falar comigo e eu disse, "Não, amigo. É isso. Adeus."
Segundos se passaram… depois minutos… e a campanha tocou e minha melhor amiga correu para a porta porque ela estava com medo de me deixar sozinho.
Lá estava ele.
Não muitas pessoas sabem disso, mas naquela noite ele estava lá.
Lutando comigo. Chorando comigo. Me implorando. Me pedindo para escolher viver. Ele implorou; literalmente implorou.
Ele me disse, enquanto eu não conseguia nem manter meus olhos abertos, que eu era a razão para ele estar vivo — ele simplesmente não podia me deixar fazer isso comigo mesmo.
Ele não conseguiria viver consigo mesmo.
Ele teve um papel fundamental no fato de eu estar vivo hoje.
Tem algo que eu não sabia naquela noite.
Quando a minha melhor amiga ligou pra ele, ele estava jantando.
No momento que ele ouviu que eu ia me matar, ele abandonou o jantar, e ele roubou as chaves do carro do pai dele, já que ele não tinha combustível.
O pai dele o viu e, pensando que ele iria sair para beber de novo, tentou pegar as chaves de volta.
Eles brigaram.
Depois, no caminho, ele dirigiu tão rápido que ele bateu em um muro perto da minha casa.
Tinha um amassado enorme no carro dele naquela noite.
Ele arriscou sua vida — e ele vivia muito longe de mim.
Mas de repente ele estava aqui.
Na minha porta.
Para lutar por mim, comigo.
Um motorista solitário com o qual eu tinha passado só quatro horas em um dia no qual ele queria se matar.
Qual a coisa mais parecida com mágica que realmente existe?
A bondade — como ela magicamente volta para você.