!75 - Cento e Setenta e Cinco
Havia um altar para o Sto António. A imagem de barro fora feita em série. Por isso a boca estava pintada fora do lugar e o santinho parecia vesgo, tudo pormenores sem importância. Já as sardinhas tinham olho vivo antes de serem jogadas à grelha e os pimentos assados cheiravam à distância. O tinto acabara de ser deixado na mesa e a moça, volteando entre a populaça, vinha agora com as suas quatro sardinhas, a cesta da broa, e as batatas cozidas. Já traz tudo azeite, disse. E o homem, sentado na beira do banco, afilou os dedos magros, esborrachou uma batata e fê-la encher a bochecha magra. A seguir acamou numa fatia da broa a primeira sardinha, retirou com a mão o filete inteiro, inclinou a cabeça e deixou-o cair entre a língua e os dentes. Rodou os olhos num regalo, ajeitou a boca ao bico do cântaro e bebeu dois goles seguidos. Limpou às costas da mão a boca onde o vinho escorria e quando a mulher trouxe o copo e os guardanapos, disse que já não faziam falta. As sardinhas estavam boas e o santo também estava labrego.