Todos estão surdos

Fecharam as pessoas dentro de suas casas, meteram corrente e cadeado no portão e colocou vigilância pesada nas ruas, ninguém podia sair. Os doentes quando passavam mal, eram levadas secretamente em ambulâncias descaracterizadas, as crianças não podiam mais ir à escola e os pais dessas crianças eram impedidas de irem trabalhar.

No céu de nuvens carrancudas, o sol se escondia com vergonha de aparecer, parecia retraído com a atitude dos homens. O planeta havia se transformado. A higiene que antes passava despercebida, nos dias atuais virou passaporte, é preciso lavar as mãos para ir de cidade a cidade, não há escolha. Se antes um aperto de mão era uma saudação, nos dias de hoje não passa de um singelo oi, tímido e sem graça.

Assim mesmo as pessoas não aprenderam, Dia após dia pessoas continuam morrendo. Nas ruas, os poucos que ainda restam brigam por alimentos enquanto os donos dos poucos mercados comemoram o faturamento cada vez maior. E são quilos de arrozes sendo levados por centenas de pessoas, carne jogada no chão e gente se atirando por cima buscando nem que seja só um pedaço.

E nesse desespero todo, onde a fome se faz presente, o ser humano ainda não foi capaz de aprender que dividir é melhor do que ter somente para si. E não adianta bradar, ninguém ouvem, todos estão surdos.

Fim

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 22/03/2020
Código do texto: T6893952
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