CONTEXTO

Antes de dormir, o casal conversava em sua cama:

- Marido?

- Oi?

- Ficou sabendo?

- De quê?

- O marido da Ritinha morreu.

- Quem?

- O marido da Ritinha.

- Mas… de quê, meu Deus? Casaram a pouco tempo.

- Ãn?

- Ãn o que?

- Que história é essa de "casaram a pouco tempo", homem? Ele já estava era velho.

- Pera. Que Ritinha você 'tá falando?

- Ritinha, que morava com Mané de Lira.

- Aaaaaahhh. Oxente mulher. Eu tô pensando que você tava falando da Ritinha que casou esses dias.

- Não, menino. Ritinha. Disseram que Mané teve um infarto de noite. Não deu nem tempo de levar no hospital.

- Poxa. A vida é difícil mesmo né.

- Pois é, marido. Por isso eu falo e digo: se cuide. Tome jeito e pare de andar com aquele Antônio, que Antônio não é flor que se cheira.

- Antônio fez se converter, mulher.

- Moléstia! Antônio?

- Sim, ué. Ele que me disse.

- Rapaz… e quando foi isso?

- Semana passada. Ele foi numa igreja dessas que grita aí e disse que agora é crente

- Nunca imagina que aquele bêbado ia virar crente, olha só.

- E eu tô falando desse não, mulher! Tô falando Antônio de Nega.

- Ué, mas você disse Antônio! Não é Antônio, aquele que vivia bêbado só os peidos?

- Aff… te ajeite, mulher. E eu ando mais com ele? Depois do que ele fez a Rita eu não quero nem mais papo. Cabra safado.

- Bexiga! O que ele fez a Rita?

- Disse que se visse ela na rua quebrava ela de pau.

- Mas por que?

- E eu sei lá de onde vem isso?

- Meu Deus. E ela?

- Ela nunca mais vi.

- Jesus. Deve ser por isso que tu não soube da morte de Mané de Lira.

- Não. Mas não é essa Rita não. Tô falando da Rita buchuda. Uma bem forte.

- Aaaaaahhh. Aquela que vende cândida e vivia de bar em bar dando em cima de homem casado?

- Essa mesma.

- Nojo daquela perua velha. Se acha a gostosona. Ela e aquela colega dela a Elisângela.

- Elisângela tentou dar em cima de Antônio. Quase o homem cai.

- Também. Virou crente, agora que não pode mesmo.

- É. Só que o Antônio que eu falei é Antônio Costa. O Bagué.

- Tonho Bagué? E o que é que Elisângela quer com um homem daqueles?

- Dinheiro, né filha. O que seria mais?

- Eu hein. Mulher assim eu tenho é nojo.

- Tem é nojo, mas se eu fosse um pobre lascado igual o marido de Rita você já tinha me deixado.

- Oxe! Mas tome atento, seu cabra. E eu sou biscate pra ficar me vendendo por dinheiro? Aliás aquela Rita lá é uma… vou nem dizer.

- Tu sabe que Rita eu tô falando né?

- ….

- Mulher?

- Aaaii! Que é?

- De que Rita você acha que eu tô falando?

- Ai. Não sei. Me deixa!

- Rita de Cássia.

- A ruiva?

- Isso.

- Tu tá se engraçado com ela agora, é bonitão?

- Tá louca, mulher? E eu disse que estava me engraçando?

- Você disse que eu tô interesseira igual Rita. Então tu deve esgar de olho nela.

- Mas eu só mencionei ela. Não pode mais não?

- Não! Não pode, não. Só porque ela é vinte anos mais nova que eu… (snif)

- Oh meu bem… não fica assim não. Eu só tenho olhos pra você, minha pitchula.

- Que pitchula, o que! Pitchula é o que eu vou fazer com teus ovos.

- Arre mulher! Pra que esse desembesto?

- Tu tinha que ser capado igual Antônio. Aí eu queria ver.

- Meu Deus! Antônio se capou?

- Se capou não. Diga assim: caparam.

- Meu Deus! Quem capou ele?

- Ora. Os homens.

- Meu Deus! Meu Deus! Será que não foi por isso que ele virou crente?

- Não. Não é esse Antônio não. É um trombadinha que vivia por aí roubando os outros pra comprar droga.

- Oxe. E eu sei de trombadinha, mulher?!

- Tu também não sabe de nada, né homem!? Deixe estar. Bora dormir, vai.

- Mulher, pera um segundo.

- Ai! Que foi?

- Então qual foi o Antônio que casou com Genésia?

- Antonio de Rita.

- Qual Rita? Já foram tantas.

- Rita de Genega. Aquela que vende cândida e produto.

- Ah tá. Entendi.

- Sabe quem é Genega né?

- Sei. Esposa de Antônio Carlos.

- Isso. O pedreiro. Inclusive esse homem desgraçou a casa da Rita que deixou um horror.

- Vish. Coitada hein.

- Pra tu ver.

- Ruim né.

- É…

- É...

- Mulher, Rita de…

- Viúva de Mané de Lira.

- Isso. É. Pensei nessa mesma.

- Sei. Agora deixe de conversa e vamos dormir.

- Tá bom. Amanhã cedo Antônio vai me chamar pra gente carregar um material. O bom é que ele conseguiu comprar uma caminhonete e já evito de usar meu carro.

- E desde quando Antônio tem caminhonete?

- Desde que ele saiu da firma.

- E ele foi dispensado?

- Foi. Essa semana. Ele me ligou.

- Deixa eu ver se tu não tá mentindo. Cadê teu celular?

- Mulher, tu bebeu álcool em gel é?

- Bebi nada. Quero só ver. Me dá esse celular aqui, vai!

- Mas eu não fiz nada. - dizia ele pegando o celular.

- Dê essa gota serena aqui! - falava a mulher tomando o celular da mão do esposo.

- Vai, Sherloka Homa. Procura.

- Cadê? É no uazapi?

- Isso. No zap zap aí.

- Mas quem foi o Antônio? Tu nem sobrenome colocou?

- Procura, ué.

- Tem uns dez Antônio aqui!

- É o de chapéu.

- De vaqueiro?

- Isso.

- Deixa eu ver… Aaaahhhh. Antônio. Esse Antonio. O que virou crente.

- Isso. Tá vendo só com quem eu ando?

- É. Mas tô de olho, viu? Deixa eu saber que você tá de frescurinha com a Rita de lá da esquina que eu te quebro o espinhaço na madeira.

- Não sabia que o nome daquela menininha era Rita.

- E como tu sabe da existência dela, infeliz?

- Ai, amor! Vai dormir, vai! Boa noite.

- Aff. Boa noite… fica com essas gracinhas.

- Amor, você pegou o cobertor inteiro.

- Peguei porque você é um safado, Antônio.

- Mas o que que eu te fiz, Rita? Eu só quero dormir, mulher…

Fim.

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 20/03/2020
Reeditado em 20/03/2020
Código do texto: T6892666
Classificação de conteúdo: seguro