NA FLOR DA PELE

...

(Raios de sol timidamente invadem a janela e tocam-lhe o rosto.)

“ Já é hora de acordar? ” Pensa ela enquanto o sonho ainda era fresco em sua mente, e pouco a pouco os sentidos lhe vão voltando frescos.

(O edredom lilás que lhe acolchoa, as meias ásperas que a incomodam, o travesseiro que a acomoda...)

- Ela se vira de lado para pegar o celular que está debaixo de seu travesseiro.

“6:15, por pouco e eu não empato com o relógio.” – Disse ela ao constatar as horas.

A luz ainda é irritante em seus olhos, efeito de quem passou a metade da madrugada conversando pelo ‘whats’ sem nenhum motivo em especial.

“6:16”, ela confirma novamente o horário enquanto está sentada na cama. Está tomando coragem para repetir a rotina.

Notável é seu pijama, que a distingue entre todas as roupas de cama inertes no chão ou penduradas no guarda roupa. Suave e imersa em carne juvenil, lhe contorna a pele melhor que qualquer outro amante promíscuo.

Ela se levanta, como quem sabe muito bem o que faz, recolhe do cabideiro seu uniforme e o joga cadáver na cama. E também assim faz com a calça jeans.

Tampouco passa o tempo, outrossim, ela está vestida. Não é de muito detalhe, apenas tem a preocupação de retocar sua maquiagem. Base, batom e olhos.

Das 6:20 até as 6:35 o tempo é um ente traiçoeiro. Porém ela rapidamente retoma o ritmo matinal se alimentando na “miséria de biscoitos amanteigados, e café natalino”.

6:44 ela sai de casa. Seus passos são contristados por uma força subalterna ao seu desejo de voltar para sua cama e se jogar em seu edredom. Porém, o barulho do ônibus se aproximando é catalisador para uma corrida até o ponto. Dobra uma rua e passa por uma esquina, apanha o circular que a levaria até o metrô (e dele partiria até a escola).

Ela vai deixando a paisagem para trás, e esta por sua vez, imóvel e intacta a retrocede com veemência. O seu respirar abatido embaça seus óculos, ela ignora.

Seu rosto está encostado na janela do ônibus, apoiado como um travesseiro transparente.

O nome dela é Valéria... Valéria de Paiva, como prefere ser chamada. Ou “Val”, um apelido carinhoso que recebera de sua família.

É uma adolescente com seus 19 anos intactos, tem estatura mediana (exatamente 1,74). Distribuída em um corpo magro com aproximadamente 65 quilos “femininos”. Seu rosto bonito de olhos curiosos, sobrancelha regular e nariz chispado. É auxiliar de seu cabelo castanho escuro, que chega até certa parte de seus ombros.

Há um reflexo cerúleo na expressão sentimental dela, seus lábios rosados estão escondidos pelo vermelhar de seu batom gasto. Ela está impacientemente pensativa hoje, por que está planejando rotas alternativas até a escola.

Não quer encontrar com Paula, uma colega de sala. Porém ao chegar na estação o encontro é inevitável. Em sua frente, está Paula esgueirada na parede observando a multidão de pessoas indo rumo a roleta, enquanto procura por Valéria.

Ao localizar ela, dispara com um sorriso simpático.

-Bom dia. – Diz ela enquanto alinha seus passos aos de Valéria.

- Oi... – Respondeu Val, enquanto olha para trás observando o movimento antecedente da multidão que parece a seguir.

Elas estão andando, ainda sem continuar no diálogo. Não era como se fossem realmente amigas, salvo o sentimento de Paula em relação a ela. Mas Valéria era fria e inóspita, assim como, aquela terça feira de manhã...