Do dia em que eu larguei minha casa para ir morar com os punks.
Em meados de 2012 quando eu tinha 14 anos e não muita independência (com razão) para sair com meus amigos mais velhos que eu jurava que eram pessoas incríveis e sensacionais, resolvi ir embora de casa, não fugi, apenas disse que estava indo embora e fui orientada a não voltar mais. Ok, era o que eu queria, peguei minha mochila dos Sex Pistols, coloquei algumas roupas e fui em direção ao ponto de ônibus em busca da minha aventura.
Desci no centro e fui rumo ao largo da ordem, dentro de mim uma onda de excitação e felicidade, acho que nunca vi uma pessoa tão empolgada em ir morar na rua, e olha que eu só tinha 14 anos. Cheguei, encontrei meus amigos punks e contei para eles a novidade e o ocorrido, tudo do meu ponto de vista de adolescente imprudente e empolgada, e logo fui recebida com soquinhos no ombro que diziam “ai sim, garota, agora você é livre” e era assim que eu me sentia, como um pássaro livre que poderia voar para onde bem quisesse, nem com a escola eu teria que me preocupar mais.
Minha primeira noite na rua foi um sucesso, bebi sem preocupações, curti com meus amigos e fui dormir no Esqueleto. Esqueleto era um prédio abandonado de 21 andares, pixado, sem portas e janelas que os punks ocuparam e fizeram de moradia, no seu último andar haviam colchões, cobertas, os pertences de cada um e em um “quarto” as fezes também. Acordávamos por volta do meio dia e íamos no bandejão de 1 real almoçar.
O segundo dia também foi legal, passamos ele todo “mangueando” dinheiro das pessoas no chafariz da rua XV e com isso compramos algumas pingas, no final da noite ganhamos muita pipoca com bacon de um pipoqueiro que havia encerrado seu expediente, eu ainda me sentia bem, porém com um pouco de saudades de um banho e do conforto do meu lar. No terceiro dia eu já não aguentava mais, acordei com ela claridade vinda do sol me perguntando o que eu estava fazendo ali, senti saudades do meu quarto, da minha privacidade, morar na rua não era aquele conto de fadas que eu imaginei, porém meu orgulho não me permitiu pensar em ir pra casa, afinal “se você sair por essa porta, não volta mais.”
No quarto dia eu acordei tão triste, me sentia chateada e suja, queria meu quarto e minha casa, fiz a mesma coisa que nos três dias anteriores só que dessa vez parecia repetitivo e vazio, eu queria ouvir cazuza no meu rádio e comer uma coxinha, coisas simples que a gente só costuma da valor quando perde, a noite fomos sentar ao redor do cavalo babão com nossas pingas, mas eu nem queria beber, quando olhei para frente lá estava meu avô. Cheguei até ele e ele disse “vamos para casa” eu ainda quis dar uma de orgulhosa e disse que me sentia bem e queria ficar (mentira, claro) mas ai ele foi gritando comigo até o ponto de ônibus dizendo que eu iria sim, que se eu quisesse eu poderia até largar a escola e sair aos fins de semana, mas eu não seria uma moradora de rua. Cheguei em casa e rasguei todos os meus livros da escola.