Massageando os pés de meu desejo...
Um conto que caminha pela imaginação fértil...
Mais um dia comum.
Pelo menos era o que eu pensava que iria ser. Afinal, acordar com um bom planejamento, já indica quais passos devemos dar em direção a mais um dia de ações bem direcionadas. Assim foi: acordei, fiz mais uma checagem rápida das ações do dia... O dia começou. Tudo igual, até ela entrar porta a dentro de meu escritório. O doce cheiro de seu perfume leve acompanhava aquele sorriso iluminado.
— Bom dia!
— Bom dia!
Em questão de segundos vi uma mulher plena caminhando em minha direção: bucolismo – a liberdade campestre exalava em seu olhar. Sua pele era pura poesia floral – pétalas brancas, cuja maciez nitidamente chama a uma admiração plena. Eu a conhecia de algumas outras ocasiões, é bem verdade. Mas, algo estava diferente. A liberdade podia ser vista sendo exalada por sua pele como uma rosa exala seu cheiro durante a estação floral. Estava indubitavelmente bela.
Certa feita, conversamos por horas e vimos que havia empatia em tudo que compartilhávamos. Belo trunfo de respeito e questionamentos me vinha a mente; mente errante de destinos soltos, cuja imaginação fértil me faz sair de meu horizonte perene, seguindo até a mais bela viagem de sentimentos que se misturam aos vários momentos que um homem pode sentir e desejar. Naquele dia, me permiti sentir.
— Se me permite dizer, você está bem diferente hoje.
— Estou livre. Decidi ser livre, independente de outros...
— Isto me deixa bem feliz, igualmente. Nada melhor do que se reencontrar.
— Pensei muito sobre nossas últimas conversas e refiz alguns conceitos que tinha comigo, mas que, na verdade, pertencia a outros. Não eram meus. Não mesmo!
— Geralmente funciona assim: nos apropriamos do discurso de outrem quando achamos que, neste discurso, há um lugar comum que nos acolhe sem questionamentos. Bom mesmo é quando achamos um lugar que nos incomoda. Afinal, o que nos incomoda, nos move.
— Justamente! Você sempre me faz refletir. Por isto, sempre venho aqui, nem que seja para um café.
— Por falar nisto, vou preparar um café para nós dois...
— Aquele especial, espero...
— Não. Hoje farei outro. Espero que goste.
— Sei que será bom...
Imbuído de impulsos, desejava que ela apenas falasse sobre tudo que tinha acontecido. O que aconteceu que a fez mudar tanto. Preparei um café de forma diferente. Café turco que ganhei de um amigo viajante. Torra perfeita de gosto indiscutível. O aroma logo tomou conta do ambiente e depois de o primeiro minuto de fervura... E lá estava eu servindo-a. Meus pensamentos foram interrompidos.
— Cheiro diferente, disse ela.
— Café Turco de torra perfeita. Um presente de um amigo viciado em café como nós.
— Bem diferente do aroma que estou acostumada.
— Aqui está. Prove!
— Realmente diferente dos que estou acostumada a beber. Muito bom! Mas, há algo diferente. Algum ingrediente a mais além do café. O que é?
— Paladar apurado o seu... Há um toque sutil de chá de cravo e chá de canela. Não vai açúcar. Mas, se quiser...
— Está perfeito! Muito bom! Nem precisa de açúcar!
Conversamos um pouco enquanto saboreávamos aquele líquido que nos traz um certo ar de satisfação e rememorações. A cada gole, um sorriso... Ela me confessou sentimentos e emoções que guardava e fazia questão de não compartilhar com outras pessoas. O que a fez expor tais sentimentos a mim? Não sei ao certo... Estávamos envolvidos em uma atmosfera de compartilhamento mútuo e de uma confiabilidade tranquila. Já éramos confidentes, de certo. Mas, neste dia, algo estava mais inteiro. Estávamos inteiros nas palavras e sentimentos. Ela estava realmente confortável. Tanto que tirou os sapatos e se sentou com as pernas cruzadas, inclinando-se levemente para frente. Seus pés estavam nus. Sua alma estava nua. Minha alma estava desnudando-se a cada palavra que saia da boca dela em plena sessão de strip tease lexical... Me sentia pleno em ouvi-la.
— Posso colocar meus pés em suas pernas?
— Claro! Mas...
Antes que eu falasse ou questionasse, ela prontamente jogou os dois pés cruzados em minhas pernas e se recostou na cadeira. Sentia-se em casa... Pegou a bolsa e sacou de dentro dela um creme para massagem.
— Massageia meus pés. Fiquei muito tempo em pé hoje. Pode ser?
— Sim, claro.
Larguei a xícara de café na mesinha ao lado e abri o recipiente cujo creme mais parecia ter acabado de sair de um jardim de rosas: cheiro suave. Aroma inconfundível. Comecei a massagear aqueles pés macios que ficavam ainda mais macios a cada vez que minhas mãos deslizavam desde os dedos dos pés, até o calcanhar e início da panturrilha.
— Um pé por vez, por favor! Disse sorrindo...
Disse isto e soltou a xicara de café perto da minha, recostando-se de forma ainda mais confortável na cadeira. Minhas mãos foram abençoadas pelo privilégio de tocar os pés, cujos passos tinham sido conduzidos por vias tão doloridas: experiências ruins. A cada toque de massagem, um relaxamento e um esquecimento dos momentos de dores causados por pessoas insensíveis... Apenas a satisfação existia em minhas mãos naquele momento. Ela parou de falar e o silêncio veio e o meu devaneio o acompanhou. Não estávamos mais sozinhos. Uma personagem surgia entre nós naquela sala: o prazer em proporcionar prazer.
A cada toque que eu dava, a cada massagem que que fazia, a único desejo que eu tinha era o de intensificar o prazer que ela sentia. Eu desejava subir-lhe as pernas; queria mais pele macia; desejava proporcionar-lhe mais relaxamento. Mas, a calça que ela vestia não me permitia muitos movimentos. Pensei: melhor seria uma saia. Mas... Apenas uma respiração de contentamento me veio ao peito... Me contive com o prazer dos pés que me foram oferecidos. Me dediquei a pele que me foi oferecida, embora quisesse explorar mais a extensão da pele que saía dos pés e lhe completava o corpo.
Meus devaneios se intensificaram e desejava sentir mais. Tocar mais. Massagear mais. Subir mais... Em minha mente, muita coisa já estava definida: meu desejo por ela era fascinante: misto de respeito, desejo, tesão, força e felicidade por, ao menos, tocar-lhe os pés.
Quero, mesmo que momentaneamente, oferecer-lhe um porto seguro: lugar onde ela possa assegurar-se de si mesma, experimentando tudo que desejar, experienciando tudo que imaginar ser possível, sabendo que a intensidade de minhas massagens, representam o máximo de tudo que ela quiser. Concentrei-me nos seus pés. Longa e intensa massagem: demorada e detalhada. Nenhum canto dos pés ficou de fora. O cheiro do café se misturava com o cheiro do creme. Exótica mistura... Assim como ela é: exótica beleza. Indiscutível sensualidade.
— Que maravilha! Obrigada!
— Disponha sempre!
— Você deveria trabalhar em um spa.
Silencio...
— Se quiser, basta me dar a oportunidade que saberei o que fazer.
Olhares em puro silêncio que ela fez questão de quebrar.
— Massagem é uma maravilha, mesmo. Relaxante e revigorante. Assim como o café. Para mim, a massagem deve vir sempre desfrutada com alguém que valha a pena. Não acha?
— De fato! Disse a ela quase sussurrando, segurando-lhe os pés...
— Sejamos mútuos nisto também, então!
— Quer mais massagem?
— Sim... Com certeza! Mas, não hoje.
— Quando?
— Em breve! Em breve! Prometo vir mais leve...