Yin e Yang
Ela estava folheando o “15 Dias Mochilando pela Europa”. Ele hipnotizado por “Ensaios e Críticas sobre a Literatura Russa do Século XIX”. Ela fazia as contas de quanto gastaria ficando em albergues. Ele imaginava o quanto Pushkin havia influenciado no estilo de Gógol.
Ela, para a vendedora:
- Oi! Quanto custa este guia?
- Dezessete reais
- Ah... valeu!
Ele, para o vendedor:
- Você tem a “Análise Comparativo-Estilística Pushkin-Gógol”?
- Não, o último exemplar foi vendido há.... deixa eu ver no sistema... três anos e meio
- Ah..., obrigado. (voltando) Desculpe... posso encomendar?
- Infelizmente não houve mais edições.
- Ah... obrigado.
Ambos olham o relógio na parede: 13 hs.
Ela passara toda a manhã distraindo-se nas vitrines. Ele chegara à livraria havia três horas.
Precisavam comer.
Os dois para a vendedora:
- Tem algum restaur...
Ele:
- desculpe
Ela:
- não, beleza... mas... – para a vendedora - tem algum restaurante chinês aqui por perto?
Ele:
- ãhnn, desculpe novamente, mas tem um muito bom aqui na esquina, o “Maison de La Chine III”
Ela:
- ué, restaurante chinês com nome francês? Que barato... (em tom irônico) e eles servem o que? Comida italiana?
Ele:
- não, é que este é de um dos integrantes da família que possui o “Maison de la Chine I” em Nice, e o “Maison de la Chine II” em Saint-Tropez.
Ela:
- Nossa, como você sabe disso?
Ele:
- É que fiz meu pós-doutorado em literatura francesa comparada em Saint-Tropez.
Ela:
- Ai, não acredito! Você morou em Saint-Tropez? topless, Brigitte Bardot, etc...
Ele:
- Bem..., Brigitte Bardot nunca vi por lá, mas...
Ela:
- ah... mas topless bem que você via né...
Ele:
- ãhnn... (ajeitando os óculos timidamente) não, mas ia dizer que admiro o trabalho de Brigitte em “E Deus Criou a Mulher”, filme que antecipou a revolução cinematográfica francesa nouvelle vague.
Ela:
- pô, você manja pra caramba heim...
Ele (sem jeito):
- não, que é isso...
A vendedora (que os observava como a uma partida de tênis):
- bom, o sr. NÃO ia me perguntar onde tem um restaurante chinês... então???
Ele:
- ah sim, queria saber se tem um restaurante de comida macrobiótica por aqui.
A vendedora:
- bem, não que eu saiba.
Ele:
- humm, tudo bem, obrigado.
Ela:
- É... bom...., se você quiser me acopanhar num Yakissoba... eu adoraria saber mais sobre Saint-Tropez...
Ele:
- Está bem, acho que passo sem minha comida macrobiótica por hoje.
Ela:
- Então vamos?
Ele:
- Vamos
Saindo da loja:
Ela - ah, me desculpe.... meu nome é Miranda
Ele – bonito, Miranda como em “A Tempestade” de Shakespeare... o meu é Orlando
Ela – legal... é... fui pra lá ano passado, quer dizer..., na Disney, foi o maior barato... Mickey... Pateta... bom... você sabe...
No almoço conversaram sobre Saint-Tropez e cinema, aliás marcaram um pr’aquele mesmo dia, ela queria ver “X-Men 2”, ele preferia “As Horas”, como adoravam cinema, assistiram aos dois.
Orlando e Miranda tinham definitivamente tudo a ver.