Interessante diálogo ocorrido numa farmácia
João foi à farmácia comprar remédios para seu pai, acamado há dois dias. Esperou, na fila, para ser atendido, se muito, cinco minutos. Atendeu-o uma graciosa morena de olhos amendoados, sorridente. Enquanto verificava, na tela do computador, o preço de um dos três remédios listados na receita, que João lhe entregara, aviada pelo médico, ela lhe perguntou: "Convênio?"; e João, inexpressivo, respondeu-lhe: "Sem vênio". E ela exibiu um lindo sorriso de dentes brancos, brilhantes, que muito o agradou. Não havia se passado um minuto, ela perguntou para João: "Quem é Jeremias?", referindo-se ao nome registrado na receita médica. Ele respondeu-lhe: "É o meu pai". E ela deu sequência à conversa: "Qual é a doença dele?". E João, no mesmo tom inalterado, inexpressivo, satisfez-lhe a curiosidade: "Velhice". A resposta lacônica inspirou sorriso contido à morena que o atendia. Ela fitou-o, sem saber o que pensar; e se se soltava a gargalhada que segurava consigo a muito custo preservando-se de constrangimento. E João logo completou: "E não tem cura". A graciosa morena passeou o seu delicado dedo indicador direito no narizinho arrebitado que lhe adornava o belo rosto, exibiu um olhar que refletia o seu estado de ânimo, divertido, achando graça do que João lhe dissera e da postura dele, reservada, o rosto dele sem confessar o que lhe ia no íntimo. Mal sabia ela que atrás do rosto impassível de João ocultava-se um outro rosto, que expressava o espírito jocoso, cômico, dele, rosto que estava a gargalhar gostosamente, divertindo-se com o embaraço e a confusão que ela exibia.