Na espreita
Não sei qual de nós esteve na espreita, se era ela ou eu. Quem observava quem?! Eis a questão!
Do meu ponto de vista, recostado na parede de uma sacada, algo me chamou a atenção. Percebi um movimento discreto por detrás de uma cortina espessa. Era ela, linda como sempre, a se mover elegantemente. Eu já a tinha visto em outras oportunidades e não foi difícil reconhecê-la. Ela trajava suas vestes brancas, tal qual uma noiva. Era só brilho.
Houve um momento em que ela parece ter me avistado e, por um breve instante, optou por se esconder de mim. Deu para eu vê-la se esgueirando, como que tentando sair do meu campo de visão. Talvez tenha sido só coincidência… pode ser que ela nem tenha me visto ali naquele lugar.
Da mesma forma ligeira com que se afastou, retornou ela para a retaguarda da consistente cortina, exibindo seu brilho tão peculiar. Eu me deleitei muito com tanta beleza. Gosto de pensar que, por saber que ali eu permaneceria incólume, ela voltou rapidamente, só para me ver. Eita! Nesse caso, pertenceria a ela o ato de espreitar.
Não quero, entretanto, deixar-me levar por esse devaneio. Isso não é do meu feitio. Sou eu o único espreitante neste enredo. Ela é mesmo, irresistivelmente, linda e maravilhosa, brilhante e misteriosa. Então, não pude me conter ao vê-la desfilar. Saibam todos que amo observar a lua e a sua luminosidade cativante por entre o desfraldar das nuvens que a rodeiam.